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Nos últimos anos, os créditos de carbono baseados em florestas vêm sendo alvo de ceticismo generalizado, com alegações que a maioria desses projetos não tem valor real. Para maximizar a quantidade de carbono atmosférico sequestrado pelo planeta, é preciso superar essa desconfiança, frear o desmatamento e promover projetos de reflorestamento inteligentes.
Um deles tem sido desenvolvido pela Space Intelligence, empresa sediada no Reino Unido, que levantou US$ 7 milhões (R$ 41,2 milhões na cotação atual) em uma segunda rodada de investimentos de capital de risco, com investidores experientes, e fechou um acordo com uma importante bolsa de valores para fornecer dados que sustentam contratos de commodities no valor de bilhões de dólares.
A empresa foi fundada por Ed Mitchard, cofundador e cientista-chefe da companhia, e Murray Collins, atual CEO. Eles se conheceram em 2009 enquanto realizavam trabalho de campo científico para quantificar o carbono armazenado por florestas tropicais densas na África.
Tecnologia ineficiente
Durante anos, a única maneira de estimar o potencial de sequestro de carbono de diferentes ecossistemas era catalogar o número e as espécies de árvores e medir seus troncos e alturas com fitas métricas e contadores manuais — muitas vezes em áreas remotas e perigosas. Mitchard e Collins estimam que já tenham medido mais de 25 mil árvores usando esse método em campo.
O enorme custo de auditar manualmente projetos de créditos de carbono baseados em florestas é uma das principais razões pelas quais muitos desses créditos antigos acabam valendo tão pouco — e por isso os mercados financeiros são, em geral, relutantes em listá-los e negociá-los.
A solução de Mitchard para esse problema foi utilizar dados de imagens de satélite para mapear áreas florestadas. Ele foi reconhecido com um doutorado por essa solução inovadora, depois contratado como pesquisador de pós-doutorado e, em seguida, nomeado professor na Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Uma revolução espacial nos créditos de carbono
Com o lançamento, na década de 2010, de diversos sistemas de satélites avançados que coletam dados usando radar de abertura sintética (SAR) e tecnologia de detecção de luz e alcance (LIDAR), Mitchard passou a ter todos os dados necessários para concretizar sua visão de sensoriamento remoto.
Juntos, criaram a Space Intelligence em 2017, que desde então atua na vanguarda da agregação e análise de dados de sensoriamento remoto gerados por essa nova geração de satélites.
Os dados utilizados pela Space Intelligence estão em domínio público, o que os torna relativamente baratos. Isso é vantajoso para a empresa, mas também reduz a barreira de entrada para concorrentes — por isso, não é difícil encontrar outras companhias que avaliem o potencial de sequestro de carbono com base nos mesmos dados.
Assim como seus concorrentes, a Space Intelligence interpreta imagens de satélite e estima o potencial de sequestro de carbono aplicando algoritmos de aprendizado de máquina a modelos-padrão de armazenamento de carbono florestal.
Apesar da concorrência, Mitchard acredita que a longa experiência da equipe na análise de dados de satélite, aliada a uma compreensão aprofundada dos modelos ecológicos adquirida em anos de trabalho de campo, oferece uma vantagem competitiva.
Interesse de compradores de créditos de carbono e de outros atores da cadeia
Grandes empresas interessadas na compra de créditos de carbono de alta qualidade, baseados na natureza e respaldados por verificação rigorosa, estão demonstrando forte demanda pelos serviços da Space Intelligence.
A startup trabalha com os clientes para mapear remotamente as áreas vinculadas aos créditos de carbono a serem vendidos, juntamente com áreas de referência adequadas — que possuem características semelhantes de relevo e ecossistema, mas que não estão protegidas por programas contra o desmatamento.
Em seguida, a Space Intelligence monitora tanto as áreas de crédito quanto as de referência, fornecendo aos compradores avaliações quantitativas e rigorosas do impacto em carbono dos créditos adquiridos ou em análise para compra.
A empresa também foi contratada por registros de créditos de carbono — organizações que definem as regras para geração dos créditos, revisam programas de certificação e auditoria e emitem os créditos para os desenvolvedores de projetos. Uma parte importante desse trabalho é o desenvolvimento de dados de linha de base para determinado país.
Para avaliar os efeitos de projetos de crédito de carbono, os registros precisam comparar a situação atual das áreas florestadas com linhas de base históricas.
A Space Intelligence utiliza dados de satélite, com registros que remontam a décadas, para criar essas linhas de base contra as quais os projetos de crédito são avaliados. A empresa já produziu dados de base para Tanzânia, Quênia, Indonésia e Argentina, países relevantes no mercado de créditos de carbono.
Houve grande entusiasmo com a recente colaboração anunciada entre a Space Intelligence e a Intercontinental Exchange, Inc. (NYSE: ICE). Em menos de um ano, a União Europeia deve implementar regulamentações contra o desmatamento conhecidas como EUDR, que vão impedir a importação de commodities associadas ao desmatamento.
A gestão da ICE quer que seu sistema interno esteja em uma posição competitiva sólida para os testes de conformidade com a EUDR em commodities “leves”, como cacau e café, até a entrada em vigor dessas regras. Isso exige informações sobre a cobertura florestal de base e sua evolução ao longo do tempo — dados que a Space Intelligence venceu uma licitação competitiva para fornecer.
Por que os créditos de carbono são importantes
As florestas tropicais armazenam mais da metade do carbono acima do solo do planeta em seus cipós, troncos e folhas — formando um imenso reservatório de carbono no ciclo terrestre, que precisa ser preservado para reequilibrar o sistema natural de carbono da Terra.
Talvez uma redução de 1,5% ao ano na área florestada — valor comum em muitos países africanos — não pareça alarmante à primeira vista. No entanto, essa taxa “modesta” de desmatamento destruiria 15% da biomassa florestal em apenas dez anos.
Convencer os mercados financeiros do valor dos créditos de carbono pode proteger os ecossistemas florestais, que são vitais para o ciclo de carbono do planeta e contribuem imensamente para a diversidade e o encanto da vida neste solitário planeta azul. A Space Intelligence está na vanguarda desse esforço.
* Erik Kobayashi-Solomon é colaborador da Forbes USA, onde escreve sobre sustentabilidade.
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