Como Salvar os Sistemas Alimentares Azuis Que Estão em Um Ponto Crítico

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Sistemas alimentares azuis estão em um ponto crítico de sua história. Por isso, nesta última semana de fevereiro, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura lançou as primeiras Diretrizes para a Aquicultura Sustentável, que visam fornecer um marco abrangente para o desenvolvimento e expansão da pesca de maneira responsável, cientificamente embasada e nutritiva.

Para mais de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo, os alimentos azuis são a base de nutrientes essenciais e proteínas em suas dietas. Esses sistemas alimentares garantem o sustento de cerca de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo. No entanto, dentro do movimento alimentar global, esse é um tema que não parece central o suficiente nas discussões atuais sobre o futuro.

O fato é que, neste momento, os sistemas alimentares azuis estão em um ponto de inflexão crucial. Porém, ainda é possível tornar a sustentabilidade a norma, em vez de um “sistema alternativo”. E isso não precisa ser mais tarde, ou tarde demais. É bom que dentro de cinco anos a uma década as conversas sobre os alimentos azuis tenham evoluído, deixando um legado para a agroindústria baseada em terra.

Em todo o mundo, uma esmagadora maioria das pessoas empregadas na pesca — cerca de 9 em cada 10 — trabalha na pesca de pequena escala, e essas operações representam cerca de 40% da captura global. Enquanto isso, os sistemas alimentares azuis enfrentam muitas das mesmas crises ambientais graves que outros sistemas de produção de alimentos, incluindo mudanças na temperatura da água e no clima, poluição e qualidade da água, e destruição de habitats.

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Agroindústria da pesca é um sistema com muitos pequenos produtores

As operações de pesca em grande escala e industriais são poderosas, é claro, mas esses números só mostram que tem pessoas com poder por trás delas. Longe de serem sobrepujados pelos grandes operadores, os pescadores de pequena escala ainda estão muito ativos. Capacitar diversos pescadores de pequena escala, para que possam alimentar o mundo de maneira responsável, é absolutamente central para um futuro sustentável dos sistemas alimentares azuis.

Em todo o cenário dos alimentos azuis, líderes inspiradores estão assumindo a responsabilidade de cultivar a próxima geração — tanto de futuros líderes dos sistemas alimentares azuis quanto da aquicultura que alimentará as pessoas no futuro.

A North American Marine Alliance, que tem à frente Niaz Dorry, é uma aliança liderada por pescadores que trabalha para garantir que eles sejam economicamente fortalecidos e justamente remunerados, que sejam comunidades pesqueiras vibrantes e viáveis, e que promovam uma diversidade de alimentos azuis. Um exemplo é projeto Lift All Boats, iniciado pela empresa Luke’s Lobster, localizado em Portland, no estado do Maine, EUA, que oferece um programa de mentoria estudantil para abrir acesso ao emprego no setor marítimo do Maine para aqueles sem opções tradicionais de carreira.

Mais um exemplo, a Minorities in Aquaculture (MIA) é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2020 por Imani Black, uma produtora de ostras afro-americana dedicada a promover a diversidade e a inclusão na indústria aquícola. Ela está trabalhando para promover a inclusão na força de trabalho da aquicultura e oferecer estágios e aprendizados práticos.

“Quero criar uma rede para mostrar às mulheres negras que… você pode tomar o sucesso em suas próprias mãos, seguir esse caminho, e isso não será apenas ótimo para você, mas também para a comunidade e para a aquicultura”, ela diz.

O chef Eric Gephart destacou as maneiras incríveis pelas quais as pessoas no sistema alimentar azul estão combinando técnicas tradicionais com novas tecnologias sustentáveis. Gephart é um renomado chef e entusiasta da culinária ao ar livre, conhecido por sua experiência em técnicas de grelhados e defumação.

Já a A Wholechain, em Bloomfield Hills, no Michigan, está trabalhando para construir cadeias de suprimentos mais rastreáveis e transparentes, incluindo na indústria de frutos do mar. A Wholechain é uma solução de rastreabilidade baseada em blockchain, desenvolvida por seus fundadores Jayson Berryhill e Mark Kaplan para promover confiança, coordenação e transparência em cadeias de suprimentos fragmentadas.

A Fed By Blue é uma iniciativa baseada na ciência dedicada a apoiar políticas inovadoras e a usar a mídia para destacar alimentos azuis obtidos de maneira responsável. Ela é uma campanha global pioneira que visa aumentar a conscientização e inspirar ações em prol da conservação marinha e aquática, além de promover alimentos azuis (provenientes de ambientes aquáticos) obtidos de forma responsável.

Entre suas atividades, a Fed By Blue produziu a série documental “Hope in the Water”, que explora soluções criativas e tecnologias inovadoras relacionadas aos alimentos azuis.  E, na cidade de Nova York, a Oko Farms, fundada e dirigida por Yemi Amu, é o primeiro e único centro de aquaponia ao ar livre e de acesso público da cidade. Seu objetivo é apoiar a segurança alimentar e a conscientização sobre aquicultura para os residentes urbanos e promover a aquaponia como um método de cultivo ecológico.

Como Amu diz, ao colocar instalações de aquaponia em salas de aula, quintais, telhados e mais, a aquicultura “pode ser feita de uma maneira onde você aproveita o espaço, cria peixes—que são uma fonte local de proteína”.

Fato é que as ações tomadas agora são decisivas para todos os sistemas alimentares azuis globais. Dados preliminares sugerem que as coisas podem estar indo na direção certa, se a sociedade continuar pressionando os líderes dos setores público e privado a fazerem a coisa certa. A pesca excessiva continua sendo uma preocupação séria, mas, nos Estados Unidos, a situação da saúde das pescarias parece estar melhorando de certa forma.

* Danielle Nierenberg é colaboradora da Forbes EUA, pesquisadora e palestrante. Em 2013 cofundou a Food Tank (foodtank.com) com Bernard Pollack, uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo a construção de uma comunidade global para o tema.

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