
Ano desafiador no campo trouxe seca, custos elevados e preços achatados
Temos recebido uma enxurrada de notícias sobre o aumento das recuperações judiciais no agronegócio nacional, um barulho ruim e desproporcional quando analisamos os números. Sem dúvida estamos enfrentando um ano desafiador, uma conjuntura de quebra de safra com queda de preços, não será uma safra recorde, a rentabilidade do produtor será menor, entretanto o produtor rural, como qualquer empresário, conta com anos bons e ruins.
O setor viveu 5 anos extraordinários de bonança, com preços de commodities nas alturas, entretanto, esta variabilidade faz parte do negócio. Depois de anos de excelentes resultados, o agronegócio nacional tem enfrentado a tempestade perfeita, uma conjunção de redução dos valores das commodities, somado a efeitos climáticos sobre a produção agrícola, além do descasamento dos valores das commodities e dos maquinários e insumos adquiridos.
O setor é resiliente e continuará como o principal pilar da economia brasileira, produziremos uma safra menor, mas será uma grande safra, que irá diminuir a inflação do país, produzindo alimentos a preços acessíveis para nossa população e equilibrando a balança comercial brasileira através das exportações.
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O setor não “quebra” por uma única safra, se esta situação se repetir por duas, três safras, aí sim, estaremos falando de uma crise. O que houve até o momento, foi excesso de otimismo e que levou a um erro de estratégia do produtor, de não vender a produção antecipadamente, aproveitando os preços altos, o que acarretou um acúmulo de produto. Se o produtor tivesse vendido antecipadamente, estaríamos enfrentando somente o problema climático que resultou na quebra de safra. O setor trabalha historicamente com a flutuação das commodities, a queda da soja iria ocorrer de qualquer maneira.
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De acordo com os números do Serasa Experian, 127 produtores entraram com pedidos de recuperação judicial em 2023, no universo de 5 milhões de produtores rurais existentes no país. Apesar do aumento de pedidos de recuperação judicial, os números representam 0,000025% dos produtores nacionais.
O aumento dos pedidos de RJ (Recuperação Judicial) preocupa muito, o instrumento acaba tornando o crédito mais caro para o setor e deve ser utilizado somente para situações onde o produtor não consegue pagar as contas. O aumento do número de pedidos de recuperação assusta, pois existe uma suspeita de que o instrumento esteja sendo utilizado de maneira abusiva por parte das empresas que oferecem as RJ.
Alguns setores estão indo muito bem como a cana, algodão e citrus, mas a soja é o carro chefe da nossa produção e os produtores de soja estão trabalhando com as piores margens dos últimos 10 anos. Em alguns estados como o Mato Grosso a situação é mais alarmante, mas estados como SP e Matopiba estão com margens apertadas, mas não estão no negativo. O Ministro da agricultura Carlos Fávaro do Ministério da Agricultura, declarou que serão tomadas medidas emergenciais como a disponibilização de crédito, renegociação de dívidas e apoio à comercialização como formas de mitigar esses desafios.
Apesar do aumento, nota-se pelos números, que a maior parte do agro brasileiro tem conseguido superar os desafios mantendo-se produtiva sem arriscar sua reputação de crédito no mercado.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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