‘Privilégio’: paciente terminal pede para visitar mirante em SC e sentir o cheiro da natureza

A conexão com a natureza vem desde muito cedo, já que seu Jocinei Marcelo Vivi começou a trabalhar na roça ainda criança, no interior do Paraná. Não muitos anos depois, ele fez um pedido que pode parecer simples para a maioria das pessoas: visitar o Mirante de Joinville, beber a água da fonte e sentir o cheiro da natureza. O que diferencia esse pedido é que seu Jocinei agora é um paciente terminal, em cuidados paliativos por causa de um câncer no estômago.

Paciente terminal em mirante de SC

‘Privilégio’: paciente terminal pede para visitar mirante em SC e sentir cheiro da natureza – Foto: Unimed Joinville/Reprodução/ND

Em uma semana de chuvas intensas na cidade do Norte catarinense, o sol deu um “olá” especial para agraciar a visita de seu Jocinei, de 47 anos, no Mirante de Joinville, na última quarta-feira (10). Ele subiu em um dos mais famosos pontos turísticos da região com a ajuda da equipe do SAD (Serviço de Atenção Domiciliar) da Unimed, e com a família, a esposa Márcia e a filha Danieli Talita Vivi.

De cima do Morro do Boa Vista, ele pôde apreciar a vista da cidade que o acolheu carinhosamente há cinco anos. Natural de Irati, cidade que fica a, aproximadamente, 2h30 de Curitiba, seu Jocinei veio a Joinville após conhecer sua atual esposa. No município ele construiu uma nova família e trabalhou muito, principalmente como frentista, profissão que era uma de suas maiores paixões.

E foi na cidade também que ele descobriu um diagnóstico que mudaria toda a sua vida: o carcinoma gástrico.

Descoberta da doença

Em setembro de 2021, em um período de férias, seu Jocinei viajaria até Curitiba para conhecer a filha mais nova de Danieli, que tinha apenas quatro meses de vida.

No entanto, ele já vinha sentindo-se mal há alguns dias, começou a emagrecer, vomitar e não conseguia engolir. Por isso, precisou realizar uma endoscopia antes da viagem. Danieli conta que, após o exame, a médica responsável não liberou seu Jocinei para sair da clínica.

“Falou: ‘olha, seu Jocinei, o senhor vai para o hospital agora. Porque do jeito que o senhor está aqui agora, eu não posso te liberar, não posso te deixar viajar, porque o senhor pode ter uma piora e vir a falecer’”, relembra a filha.

A médica informou que, apesar de não ter um diagnóstico, havia identificado uma massa que precisaria de maior atenção e investigação. Seu Jocinei, então, deu entrada na Unimed para tratamento. Assim que foi admitido, a equipe médica observou uma desnutrição severa, pois ele não estava conseguindo comer, além de uma obstrução no canal do esôfago.

Após exames mais detalhados, como uma tomografia, foi constatado que havia um tumor no estômago. Antes mesmo da biópsia, os médicos já sabiam que era uma massa maligna. Então, já foi iniciado um pré-tratamento com a inserção de sonda e cateter para providenciar medicamentos e nutrientes em falta no organismo.

6 meses de vida

“Quando ele recebeu o diagnóstico, tinha seis meses de vida. Foi em setembro de 2021”, relembra Danieli. Seu Jocinei iniciou um tratamento quimioterápico logo que o câncer foi identificado.

Seu Jocinei no dia que recebeu o diagnóstico - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Seu Jocinei no dia que recebeu o diagnóstico – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Pouco tempo após a descoberta da doença, ele viajou até o Paraná para visitar um tio que estava com câncer em estado terminal - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Pouco tempo após a descoberta da doença, ele viajou até o Paraná para visitar um tio que estava com câncer em estado terminal – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Após cerca de duas semanas, ele foi liberado para ir para casa, mas ainda estava bem debilitado. “Ele sofreu bastante, porque até a quimioterapia surtir efeito ele não comia, e o que comia vomitava. Ele sentia muita dor, expelia sangue pela boca. Foi um momento muito delicado, muito difícil”, conta Danieli.

O prognóstico nada animador uniu ainda mais a família. Seu Jocinei tem três filhos, Danieli, do seu primeiro casamento, e um casal da união com Márcia. A menina tem nove anos, já o menino tem apenas seis anos de vida.

“Desde o começo ele sempre disse que Deus iria tirar ele dessa. Que era uma permissão de Deus para ele crescer, melhorar, para mudar a nossa família. E realmente a nossa família se uniu muito mais depois dessa doença. A gente mudou muito a nossa forma de ver a vida, especialmente nesses últimos três anos”, conta.

Tratamento delicado

O início do tratamento, no entanto, parecia promissor. Após cinco sessões de quimioterapia, seu Jocinei começou a engordar e voltou a se alimentar normalmente.

Para estar ao lado do pai, Danieli também saiu do Paraná para morar em Joinville. “Eu sempre fui muito apegada com o meu pai. A gente sempre teve uma relação muito próxima e eu sofri muito com a descoberta dessa doença”, conta.

Durante esse período de adaptação na cidade e da rotina com o pai, Danieli relembra que os médicos indicaram a realização de uma cirurgia para a retirada do estômago, já que seu Jocinei estava respondendo bem ao tratamento. “Ele tinha seis meses de vida e já tinha se passado muito mais que isso.”

O procedimento chamado gastrectomia consiste na retirada total ou parcial do estômago. No caso de seu Jocinei, todo o seu órgão seria retirado, e o esôfago seria ligado diretamente ao intestino.

No dia da internação, porém, o novo médico responsável pela operação relatou à família que uma tomografia indicou uma possível metástase, quando o câncer já está espalhado. “O cirurgião falou assim para mim: ‘olha, eu vou abrir e vou ver como que está. Mas pelo que eu vi aqui, não vai dar para fazer [o procedimento], porque já está espalhado, já está em volta do estômago’”, relembra.

O médico ainda afirmou que, se a metástase fosse confirmada e o órgão fosse retirado, seu Jocinei não teria tempo para recuperar-se e iniciar uma nova rodada de tratamento quimioterápico.

Danieli e seu Jocinei no dia da cirurgia - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Danieli e seu Jocinei no dia da cirurgia – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Seu Jocinei com os filhos mais novos em uma das suas internações - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Seu Jocinei com os filhos mais novos em uma das suas internações – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Durante o procedimento, a equipe médica confirmou que não seguiria em frente com a gastrectomia. Foi, então, feita uma limpeza ao redor do órgão para retirar algumas metástases.

Após a tentativa frustrada de retirada do estômago, seu Jocinei precisou retomar a quimioterapia. Durante o tratamento, ele foi acometido duas vezes por uma doença chamada esofagite bacteriana, uma inflamação que atinge o esôfago.

Recuperado após as graves consequências da esofagite, seu Jocinei voltou a ter uma vida praticamente normal. Danieli conta que o pai fazia tarefas domésticas e se cuidava bastante, já que sempre foi muito vaidoso.

Fase terminal

No entanto, tudo mudou em dezembro de 2023. Seu Jocinei havia iniciado seu terceiro e último protocolo de quimioterapia, a última esperança de evitar que a doença progredisse. Contudo, o tratamento parou de funcionar.

Segundo a filha, desde o diagnóstico a família e seu Jocinei sabiam que não havia cura para esse tipo e estágio de câncer, e que os cuidados seriam paliativos para propiciar mais qualidade e tempo de vida para ele. Entretanto, seu Jocinei nunca faltou a nenhuma sessão de quimioterapia e não se deixava abater com as adversidades.

Márcia, a filha mais nova de Danieli, e seu Jocinei no aniversário da caçula em janeiro deste ano - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Márcia, a filha mais nova de Danieli, e seu Jocinei no aniversário da caçula em janeiro deste ano – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Foto da família há algum tempo - Arquivo pessoal/Reprodução/ND

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Foto da família há algum tempo – Arquivo pessoal/Reprodução/ND

“Ele foi muito guerreiro, foi corajoso, valente e superou nossas expectativas. A fé dele nos ajudou a enfrentar tudo isso de uma forma boa”, afirma Danieli.

Os médicos insistiram mais um pouco no tratamento, para tentar uma resposta do organismo. Porém, em fevereiro deste ano, uma médica de cuidados paliativos aconselhou a família de que seria a hora de parar com os procedimentos e iniciar um processo de aceitação. “Ele estava sofrendo mais do que tendo resultado, do que tendo qualidade de vida”, garante Danieli.

“Foi muito difícil para ele aceitar. Ele queria continuar a quimioterapia mesmo sofrendo. Mas teve um dia que ele foi para a quimioterapia e não conseguiu fazer, aí viu que realmente não tinha como [continuar o tratamento]”, relembra a filha.

A partir desse momento, a piora no quadro foi gradativa. Seu Jocinei começou a utilizar uma cadeira de rodas para locomover-se e iniciou os cuidados paliativos em casa, há mais de dois meses, devido ao quadro debilitado.

Visita ao Mirante de Joinville

“Desde o início do tratamento até aqui, sei que Deus vai me surpreender. Se vai me recolher ou vai me dar mais um tempinho. Mas pelo menos esse tempo Deus tá me dando esse privilégio de estar desfrutando aqui, mesmo debilitado”, disse seu Jocinei durante a visita no Mirante da cidade.

Seu Jocinei ao lado da esposa Márcio durante visita no Mirante de Joinville - Unimed Joinville/Reprodução/ND

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Seu Jocinei ao lado da esposa Márcio durante visita no Mirante de Joinville – Unimed Joinville/Reprodução/ND

Seu Jocinei ao lado da esposa Márcio durante visita no Mirante de Joinville - Unimed Joinville/Reprodução/ND

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Seu Jocinei ao lado da esposa Márcio durante visita no Mirante de Joinville – Unimed Joinville/Reprodução/ND

A família foi acompanhada por duas profissionais do SAD da Unimed, uma psicóloga e uma enfermeira. “Foi um momento muito lindo, muito emocionante. A gente via no olhar das pessoas que estavam lá no Mirante. Aquele olhar de ‘poxa, olha a situação que ele está e ele ainda tem vontade de viver a vida’, relembra Danieli.

A filha buscou a água da fonte do Mirante para que o pai pudesse beber, já que também era um desejo dele. Ele conseguiu beber pouco, já que o seu esôfago também está bem afetado. Seu Jocinei está novamente com dificuldades de deglutição e está com uma sonda há 20 dias.

Fé inabalável

Há quatro anos, seu Jocinei foi informado de que teria, aproximadamente, seis meses de vida. Há dois meses, uma médica disse que a estimativa de vida seria de três a quatro semanas. “Até os enfermeiros ficam impressionados. Tamanha a fé dele que tem mantido ele vivo, porque só tem essa explicação”, diz Danieli.

Apesar do sofrimento e das dores causadas pela doença, seu Jocinei ainda luta muito. “Quando ele diz em ‘surpreender’, é que ele já teve uma história de vida muito difícil. Da infância onde ele perdeu a mãe cedo, foi criado pelos avós, sofreu na mão de pessoas estranhas quando a avó ficou doente”, relata.

“Esse câncer foi mais um desafio para ele. E ele enfrentou esse desafio como uma chance de aprender”, afirma Danieli.

Assista à visita de seu Jocinei ao Mirante de Joinville

 

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