‘Uma das grandes’: quem era a piloto brasileira morta em combate a incêndio florestal nos EUA

A piloto brasileira Juliana Turchetti, de 45 anos, morreu na quarta-feira (10) durante uma manobra no combate a um incêndio florestal nos Estados Unidos. Ela foi considerada uma heroína por autoridades norte-americanas e brasileiras.

Piloto brasileira Juliana Turchetti a bordo de uma aeronave

A primeira missão de Juliana no combate a incêndios foi no dia 4 de julho, há uma semana – Foto: Reprodução/Linkedin

“Alguns nos chamam de heróis. Bem, esse é um título pesado para carregar. Gosto de dizer que somos pessoas comuns fazendo algo extraordinário”, escreveu Juliana em sua última postagem nas redes sociais, poucos dias antes do acidente.

A piloto agrícola brasileira integrava a equipe de combate às chamas na Floresta Nacional de Helena, no Condado de Lewis e Clark, no estado americano de Montana.

Segundo nota do Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola), o acidente aéreo teria acontecido durante a manobra de “scooping” a bordo do Fire Boss. A operação consiste em pousar a aeronave em um lago ou represa para captar água e decolar em seguida.

A piloto brasileira ao lado do avião modelo Fire Boss usado no combate a queimadas

Juliana foi a primeira piloto brasileira a voar no Fire Boss, uma versão do maior avião agrícola do mundo – Foto: Reprodução/Linkedin

O xerife do Condado de Lewis e Clark, Leo Button, relatou à imprensa local que o avião da piloto brasileira pareceu ter se chocado com algo, se despedaçou na água e afundou. As causas do acidente ainda serão investigadas para comprovar se houve de fato uma batida.

“Voar e combater incêndios é a combinação ideal de diferentes habilidades, desafios, trabalho em equipe e do entusiasmo de operar em um ambiente em necessidade constante de disciplina, coordenação, coragem, dedicação e desejo de servir”, declarou a brasileira em seu Linkedin.

Conheça a piloto brasileira que morreu como heroína nos EUA

Natural de Contagem, em Minas Gerais, Juliana Turchetti sonhava desde pequena em ser piloto. Ela começou como comissária de bordo e ingressou na aviação em 2007.

Em seu perfil nas redes sociais, Juliana se descrevia como uma “construtora de sonhos, perseguidora de desafios e uma batalhadora”.

Juliana contabilizou mais de 6,5 mil horas de voo em sua carreira. Foi instrutora de voo e depois copiloto e piloto em aviões Boeing 727 e 737.

Piloto brasileira Juliana Turchetti posa com avião

Além de piloto, a mineira era empreendedora nos Estados Unidos – Foto: Reprodução/Linkedin

Em 2013, entrou para a aviação agrícola e se tornou a primeira piloto brasileira a voar em lavouras dos Estados Unidos quando se mudou em 2018.

Ela se casou com o também piloto John Coppick e chegou a abrir uma cafeteria temática de aviação em Springfield, estado de Illinois. A Aviatori Coffee House servia aos estadunidense uma combinação dos grãos e do pão de queijo mineiro.

Juliana não conseguiu ficar muito tempo longe dos aviões e logo voltou a voar, dessa vez interessada no combate a incêndios. Em fevereiro deste ano, ela se tornou a primeira piloto brasileira a dirigir o modelo Fire Boss, uma versão do maior avião agrícola do mundo.

Avião do modelo Fire Boss em que a piloto brasileira voava no momento do acidente

As causas do acidente ainda serão investigadas, mas há suspeita de que o avião da piloto brasileira tenha batido antes de afundar na água – Foto: Reprodução/Linkedin

Sua primeira operação de combate a queimadas foi no emblemático 4 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos.

“A aviação para mim é a prova mais profunda do quão infinitamente longe a humanidade pode ir. Estamos conectados com o mundo inteiro, obrigada aos homens e mulheres que ousaram sonhar grande e alto!”, disse a mineira nas redes sociais.

Veja a repercussão da morte da piloto brasileira

Os governadores Greg Gianforte de Montana, onde ocorreu o acidente, e de Brad Little de Idaho, estado que cedeu o avião ao Serviço Florestal, emitiram uma nota conjunta.

“Nossos primeiros socorristas e bombeiros florestais arriscam suas vidas para responder rapidamente às ameaças e proteger nossas comunidades. É um verdadeiro ato de bravura correr em direção ao fogo. Nós nos juntamos a todos os habitantes de Montana e Idaho em oração pela família e amigos da heroína caída durante este momento trágico”, afirmaram.

Piloto brasileira Juliana Turchetti em missão a bordo de aeronave

Autoridades, amigos e colegas da aviação lamentaram a morte da piloto brasileira – Foto: Reprodução/Linkedin

O Sindag também lamentou a perda da profissional no combate ao incêndio florestal, considerada um exemplo de “força feminina no setor e da garra e profissionalismo dos pilotos brasileiros”.

“Juliana atuou como uma heroína, o que foi reconhecido inclusive pelas autoridades norte-americanas. E é assim todo o setor aeroagrícola brasileiro vai se lembrar para sempre dela”, destaca a nota de pesar.

Juliana Turchetti, piloto brasileira morta em acidente durante operação de combate a um incêndio florestal nos EUA

Juliana sonhava em ser piloto desde criança – Foto: Reprodução/Linkedin

A presidente do sindicato, Hoana Almeida Santos, destacou que a morte da piloto brasileira é uma perda irreparável para a aviação agrícola.

“Estamos muito tristes e abalados com a notícia. Juliana representava não somente a determinação e a coragem dos pilotos brasileiros, mas era também um exemplo de profissionalismo, pela linda trajetória. Valorizando o papel das mulheres no setor e sendo fonte de inspiração para muitos”, ressaltou.

Joelize Friedrichs, amiga de Juliana e colega de profissão, se emocionou ao lembrar da piloto. “Ela era uma das grandes”, definiu em depoimento ao Sindag.

“Os feitos dela, as conquistas dela e seus conselhos vão mantê-la viva em nossos corações. É isso, está sendo bem difícil”, contou a amiga.

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