Entenda a origem do maruim: mosquito que levou cidade a decretar situação de emergência em SC

De tamanho pequeno e com uma picada ardida, o maruim tem dificultado a rotina de moradores em Santa Catarina. A proliferação do mosquito levou uma cidade do Vale do Itajaí a decretar situação de emergência e levantou preocupação em relação à transmissão de doenças.

Em março, a cidade de Luiz Alves decretou situação de emergência devido à proliferação intensa do maruim

Entenda a origem do maruim: mosquito que levou cidade a decretar situação de emergência em SC – Foto: Reprodução/NDTV

O Portal ND Mais conversou com o professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia do Centro de Ciências Biológicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Carlos José de Carvalho Pinto, o qual explicou como e onde o mosquito costuma proliferar.

Conforme o professor, após copular, as fêmeas colocam os ovos em locais úmidos e com bastante matéria orgânica. Com isso, as larvas podem se criar em mangues, brejos, pântanos ou matéria orgânica em decomposição.

“Aqui no estado de Santa Catarina já foi visto que as fêmeas colocam ovos no resto das bananeiras, que são cortados após a colheita do cacho, visto que é um ambiente úmido e com muita matéria orgânica”, comentou.

Transmissão de doenças

Mestre e doutor em parasitologia, Carlos trabalha a mais de 30 anos com insetos vetores e causadores de doenças. De acordo com ele, o mosquito pode transmitir a febre do Oropouche, também conhecida como “febre do maruim”.

Infestação de maruim levou cidade do Vale do Itajaí a decretar situação de emergência – Foto: Jaqueline Fischer/Reprodução ND

“A febre é causada por um vírus que pode ser encontrado em animais silvestres como bicho-preguiça e macacos. Assim, insetos que picam esses animais e picam também o humano podem transmitir esse vírus para as pessoas”.

O professor explica que casos da doença são mais comuns no Norte do Brasil e que os sintomas são febre, dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, manchas na pele, náusea e diarreia.

Como evitar a proliferação do maruim

Mas afinal, tem como evitar a proliferação do maruim? Carlos explica que para isso é preciso acabar com os ambientes que a espécie usa como criadouros para larvas.

“No caso da plantação de bananeiras, uma medida de controle seria juntar os restos das bananeiras e cobrir com um plástico, por exemplo. Mas sei que isto só seria viável em pequenas plantações”.

Para se proteger dos mosquitos, o recomendado é usar calças, caçados, meias grossas e camisa de manga comprida. “Ou seja, tampando o corpo para evitar picadas, embora isso seja desconfortável no clima quente. Pode-se também usar repelentes para diminuir as picadas”, comentou o professor.

Carlos ainda informa que já existem pesquisas de compostos para eliminar as larvas desses insetos, inclusive em instituições do estado de Santa Catarina. Algumas delas se encontram em estágios avançados de desenvolvimento, com testes em campo.

Maruins tem interferido na qualidade de vida dos moradores  - Jaqueline Fischer/Reprodução ND

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Maruins tem interferido na qualidade de vida dos moradores – Jaqueline Fischer/Reprodução ND

Alergia causada pelas picadas dos mosquitos  - Jaqueline Fischer/Reprodução ND

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Alergia causada pelas picadas dos mosquitos – Jaqueline Fischer/Reprodução ND

Aumento de maruins em SC

Nos últimos meses, cidades como Luiz Alves e Ilhota se viram tomadas por uma grande infestação de maruins. Segundo o professor, esse aumento pode ser ter sido desencadeado por diversos fatores como as chuvas intensas no começo do verão, o que causou um aumento na umidade do solo.

“Tivemos um verão muito quente, o que também pode ter colaborado”, comentou Carlos. “Com o aquecimento global, é possível que o problema com insetos, seja pelo incômodo causado pelas picadas ou a transmissão de doenças, seja aumentado, e já estamos vivenciando isso”, destacou.

Pesquisa busca encontrar solução para o problema

De acordo com a Prefeitura de Luiz Alves, em 2019 foi iniciado o Cigamvali (Consórcio Intermunicipal de Gestão Pública do Vale do Itapocu), junto aos municípios Jaraguá, Guaramirim, Corupá, Schroeder, Massaranduba, Barra Velha e São João do Itaperiú, para poder investir em uma pesquisa que buscava encontrar um controle biológico para o maruim.

Coordenado pelo pesquisador Luiz Américo, uma das maiores autoridades no assunto, o trabalho científico envolveu 12 anos de estudo antes da aplicação dos testes em campo.

Em 2020, o Controlador Bioativo do Maruim foi distribuído gratuitamente pela primeira vez aos luizalvenses. As primeiras distribuições foram direcionadas aos bananicultores, pois esses mosquitos se reproduzem mais em ambiente onde há putrefação orgânica.

A Prefeitura Municipal explica que devido à dificuldade enfrentada para aplicação do produto, ele não tem tido a eficácia esperada. Neste ano, o maruim saiu da área rural e chegou na urbana, atrapalhando a qualidade de vida dos moradores, o que levou a cidade a decretar situação de emergência.

Luiz Alves segue com pesquisas para encontrar solução contra os maruins

Conforme a prefeitura de Luiz Alves, atualmente o Município não faz mais parte do Cigamvali, mas o produto desenvolvido pelos pesquisadores na época foi testado em propriedades com diversas culturas, como a bananicultura e pecuária.

“A pesquisa no Cigamvali chegou ao fim, mas sentindo que ela precisava continuar, o Município contratou os pesquisadores de forma independente, para agilizar novas descobertas e intensificar o uso adequado do controlador biológico para tentar conter a infestação do maruim”, informou a assessoria de imprensa.

 

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