
No Parlamento da Galícia, dos 75 parlamentares eleitos, 38 são mulheres e 37 homens. Os números da representação feminina, tão distantes da realidade brasileira, são reflexos não só de uma legislação que há quase 20 anos vem permitindo o aumento de mulheres na política, mas principalmente de uma mudança cultural. Na Espanha, a igualdade legal atualmente é a mesma da real.
Os espanhóis mudaram a forma de olhar para as mulheres nos espaços de poder, ao ponto em que a sociedade não tolera comportamentos machistas sem a necessidade de que movimentos punitivos ou de representação estejam contemplados em uma lei.
Para chegar a esse ponto, garantindo com que pelo menos 40% dos espaços políticos e das grandes empresas sejam ocupados por mulheres, a Espanha percorreu um longo caminho.
A deputada e secretária geral do Parlamento da Galícia, Paula Prado del Rio, explica que desde 2007 a lei de igualdade de mulheres e homens obriga a participação de não menos de 40% de um dos gêneros na política.
A normalização da presença de mulheres em cargos de poder requereu ajustes contínuos na legislação. No início, as cidades pequenas não precisavam garantir o preenchimento do percentual de 40×60.
“Começou com as cidades maiores, o que foi importante para ter referências. Serviu como ponta de lança para que as mulheres do meio rural vissem que existiam mulheres na política e que elas também poderiam estar lá”, explica Paula.
As recomendações da lei valem também para os conselhos administrativos das empresas e para os espaços de governo. Desta forma, os avanços foram sentidos em diversos segmentos políticos, econômicos e sociais.
Não é sobre cotas, é sobre mudanças estruturais
O resultado do trabalho realizado na Espanha não é só uma questão de cotas. Antes da lei, existia uma ampla mobilização para sensibilizar a sociedade sobre o tema. Para a representante do Partido Popular, o entendimento é de que as mulheres têm que estar em um posto de representação por mérito e capacidade, o que hoje é natural.
Eu penso que hoje estamos em um momento em que está bastante equiparada a igualdade real e a igualdade legal porque já não é uma questão de lei, agora é uma cultura na sociedade. O que antes era normal, hoje já não é. E eu acredito que esse é o ponto ao que todas as sociedades modernas deveriam aspirar, destaca
Ao perguntar como enxerga a falta de representatividade de mulheres na política brasileira, Paula Prado, que atualmente é um dos nomes de referência na participação e defesa de mulheres na Europa, diz que não faz sentido termos mulheres empoderadas em suas relações e posições e não vê-las nos espaços de decisão política. “O Brasil precisa incentivar a cultura de que as mulheres são capazes de estarem na política.”
A parlamentar espanhola esteve em Florianópolis no ano passado para palestrar no 1º Encontro Internacional EquiGov, sobre equidade nos serviços públicos por meio de governos e parlamentos abertos.