Bebês reborn e o limite ético na comunicação política. Por Guilherme Pontes

Por Guilherme Pontes, marqueteiro, consultor político e eleitoral

Em meio a mais uma onda de assuntos virais nas redes sociais, o Brasil se viu diante de um novo “debate” que nunca existiu de fato: bebê reborn no SUS, disputas judiciais pela guarda desses bonecos e até mães pedindo apoio para parlamentares. O tema, que deveria permanecer no universo do entretenimento, foi trazido para o espaço político e distorcido até se tornar, artificialmente, um falso problema público. E aqui entra um ponto fundamental: o limite ético na comunicação política.

É preciso dizer com clareza: não existe fila no SUS para atendimento de bebê reborn, não há disputa judicial pela guarda de bonecos, tampouco mães de bonecos pressionando deputados por atendimento de seus bonecos. O que existe é uma estratégia perigosa: a fabricação de narrativas falsas, que criam um ambiente propício à desinformação, aproveitado por agentes políticos para ganhar atenção, engajamento e em muitos casos, infelizmente, votos.

O debate público não pode se transformar numa indústria de boatos controlada por algoritmos. Ao criar um problema inexistente e inseri-lo no debate político como se fosse uma pauta legítima, avança-se do campo da criatividade, beirando a irresponsabilidade. O marketing político tem o papel de conectar ideias, traduzir projetos, simplificar a linguagem técnica, mas jamais inventar realidades em busca de curtidas.

Existem fronteiras éticas que não podem ser cruzadas. O uso de desinformação como ferramenta de marketing pode até trazer curtidas no curto prazo, mas cobra um preço alto a longo prazo: degradação do discurso público, polarização artificial e um eleitorado cada vez mais cínico. A política precisa de verdade, e a comunicação política deve ser, antes de tudo, responsável.

O caso dos bebês reborn escancara o risco de transformar o debate público em uma caricatura. E alerta: não é só sobre bonecos, é sobre o quanto estamos dispostos a mentir para vencer uma eleição. E isso, definitivamente, tem um custo que nenhum bom profissional deveria estar disposto a pagar.

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