Adolescente Online: Como Monitorar Seu Filho sem Invadir sua Privacidade

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Ouvi dizer que alguns pais ainda estão receosos de assistir Adolescência, da Netflix. Entendo que pode ser difícil encarar o que a série retrata: crianças sendo atraídas para os cantos mais profundos e obscuros da internet, e as consequências horríveis que isso pode trazer.

Como pai e psicólogo, entendo perfeitamente por que alguns pais preferem não ver isso em alta definição. Dito isso, ainda acho que é necessário.

Veja aqui o porquê.

A série está tocando em uma ferida, e com razão. ‘Adolescência’ retrata uma realidade infeliz e muito palpável: a de que nossos filhos estão crescendo em um mundo digital que não conseguimos alcançar, muito menos controlar. Nesse sentido, a importância de estar por dentro do ambiente digital dos seus filhos não pode ser subestimada, não para ser um pai ou mãe perfeito, mas para ser um pai ou mãe presente.

Aqui estão quatro formas de proteger seu filho online sem ultrapassar limites:

Entenda o Terreno Digital

Os adolescentes de hoje vivem majoritariamente online. Seus celulares e computadores são suas maiores conexões com interesses e vida social, assim como o rádio, o telefone fixo e a praça de alimentação do shopping foram para nós. Gostando ou não, essa realidade tecnológica não pode ser desfeita. O que você pode fazer é se manter informado.

Isso começa entendendo que os algoritmos online podem e vão moldar ativamente o que seus filhos veem, com quem conversam e como pensam.

É importante reconhecer que a tecnologia não é necessariamente uma porta direta para a radicalização ou ideologias prejudiciais.

Como aponta o Pew Research Center, as redes sociais contribuem bastante para as amizades, criatividade, educação e senso de apoio entre os jovens. No entanto, ainda assim, podem ser ambientes emocionalmente intensos. Por isso, os pais precisam entender tanto os usos positivos quanto os perigosos das redes sociais.

Eis algumas das mais populares entre os adolescentes:

  • TikTok: Aplicativo de vídeos curtos que entrega de tudo, de conteúdo educativo a discursos perigosos e desinformação.
  • YouTube: Ótimo para aprender e se entreter, mas o algoritmo pode levar rapidamente de vídeos informativos a teorias da conspiração.
  • Reddit e Discord: Plataformas de fóruns e bate-papo onde os jovens se conectam com comunidades sobre seus interesses. Podem ser espaços empoderadores ou extremamente tóxicos.
  • Instagram, Snapchat, X (Twitter), etc.: Usadas para expressão pessoal e comunicação. Ao mesmo tempo que são canais criativos, também podem alimentar o bullying e o perfeccionismo.

Fique Atento aos Sinais de Alerta

Segundo uma pesquisa de 2020 sobre tecnologia e saúde adolescente, a mídia digital oferece benefícios e riscos. Jogos, streaming, vídeos e redes sociais afetam a emoção, cognição, identidade e socialização dos adolescentes. Por outro lado, o uso excessivo está associado à publicidade direcionada nociva, exploração sexual e cyberbullying.

Uma pesquisa mais recente da PLOS One (fevereiro de 2025) apontou o aumento da retórica misógina em certas partes da internet, o que já começa a afetar o comportamento de meninos e meninas. Se você esteve alheio até agora, não há como saber exatamente que tipo de conteúdo seu filho consumiu. Mas se estiver afetando seu bem-estar, os estudos apontam sinais claros:

  • Comportamentais: Mudanças bruscas de humor, isolamento, novos grupos de amigos ou sigilo excessivo com os dispositivos.
  • Linguísticos: Gírias ou expressões ligadas a certos grupos online ou ideologias. Atenção especial para falas radicais sobre raça, gênero ou identidade.
  • Emocionais: Sintomas de ansiedade, depressão, destruição ou obsessões súbitas por temas como política, sexualidade ou masculinidade.
  • Acadêmicos e de estilo de vida: Queda nas notas, falta de participação, mudanças no sono, higiene ou hábitos de exercício.
  • Sinais mais evidentes: Comentários sobre desesperança, falta de empatia, piadas violentas, tudo isso deve ser levado a sério.

Mantenha-se Informado Sem Microgerenciar

Muitos pais ficam ansiosos ao ler palavras como “radicalização”, mas não é necessário entrar em pânico. Você não precisa virar um pai controlador, nem precisa dominar as tendências do TikTok. Mas você precisa entender, ao menos de forma básica, o mundo digital em que seu filho vive.

Isso significa:

  • Criar suas próprias contas nas redes sociais.
  • Aprender a usar os aplicativos por conta própria.
  • Entender como os algoritmos funcionam, especialmente os conteúdos que são empurrados para os usuários, sem que eles procurem por isso.

Se quiser ir além, considere implementar uma política de celular aberto: acesso combinado e ocasional ao celular e às contas sociais do seu filho. Mas nunca faça isso pelas costas. Combine tudo com antecedência, explique claramente os motivos e seja sempre transparente. O objetivo não é “pegar no flagra”, mas garantir que ele não esteja sendo influenciado negativamente.

Além disso, dê o exemplo. Um estudo de 2021 da Computers in Human Behavior mostrou que o uso excessivo de smartphones pelos pais afeta diretamente sua capacidade de orientar os filhos. Pais muito conectados tendem a se sentir menos no controle, o que gera mais conflitos familiares. Ou seja: se você vive no celular, será mais difícil impor limites com credibilidade. Seus filhos estão observando, e imitam o seu comportamento.

Intervenha Sem Afastar

Se encontrar algo preocupante, um comentário fora do normal, histórico de buscas estranho, ou um padrão de conteúdo esquisito, não tire conclusões precipitadas. Um post esquisito não vai radicalizar seu filho. Pode ser só curiosidade ou tentativa de entender um assunto. Isso é natural para adolescentes.

  • Trate-os como o que são: pessoas pensantes.
  • Comece um diálogo com perguntas como: O que achou desse conteúdo? O que acha que o criador quis dizer? Te incomodou de alguma forma? Tem visto esse tipo de conteúdo com frequência? Essas perguntas mostram que você confia no discernimento deles, e ainda te ajudam a entender como seu filho está processando o conteúdo.

Se perceber que ele não está refletindo criticamente sobre o que viu, é hora de falar sobre valores. Evite sermões, a não ser que seja necessário. Prefira uma conversa aberta e recíproca: Em que vocês acreditam? Que tipo de pessoa ele quer ser, e você quer que ele seja? Quem se beneficia quando ideias nocivas se espalham? Quem sai prejudicado?Conversas assim podem surpreender.

Talvez seu filho seja mais crítico e consciente do que você pensava. Ou talvez esteja apenas um pouco fora de rumo, e um empurrão gentil já resolva. De qualquer forma, é uma vitória para a relação entre vocês.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

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