
Tem uma foto que resume bem a política que ainda não entendeu nada. Prefeitos, prefeitas e assessores com crachás pendurados no peito, todos reunidos em Brasília. Mais de 130 de Santa Catarina. Vão marchar em Brasilia esta semana. Vão defender seus municípios. Vão participar de um dos eventos mais relevantes e qualificados do calendário político-institucional do país.
Não há nada de errado nisso. A Marcha é um espaço técnico, político e estratégico. Um evento com força real, que já trouxe conquistas concretas e que valoriza o municipalismo como poucos. Mas o problema não está na marcha. Está na ausência de consciência sobre o que ela comunica no tempo das redes.
Enquanto a política institucional ainda se move em caravanas, a antipolítica se espalha por cliques. Enquanto o prefeito cruza os corredores de um centro de convenções com outros cinco mil gestores, a população da sua cidade cruza os dedos para que ele poste algo no story que lembre que ele existe. Que mostre que ele ainda vive ali.
A imagem do político próximo, do que toma café na padaria, do que responde no grupo do bairro, do que compartilha o dia a dia no Instagram, foi capturada pela lógica das redes. Não importa se era real ou encenada. Ela virou régua. Quem não aparece, não engaja. Quem não engaja, não existe. E quem some em Brasília por três dias para falar com outros iguais a si não percebe que está deixando um vácuo. E o vácuo na política não dura vazio por muito tempo. Ele vira discurso contra.
É curioso que, no momento em que os cidadãos mais querem se sentir parte da decisão pública, a política siga apostando em encontros que ninguém vê, em falas que ninguém ouve, em negociações que ninguém entende. A reunião é importante. Mas o silêncio no feed é interpretado como ausência.
A lógica mudou. Antes, o poder se mostrava na mesa do restaurante de Brasília. Hoje, se mede no alcance de um reels, na naturalidade de um vídeo, na recorrência de uma presença digital não institucionalizada. A política ainda não entendeu que cada dia sem aparecer é um dia entregue para quem prefere dizer que ela não presta.
A marcha é incrível. O erro é ir como se ninguém estivesse vendo. E esquecer que, agora, todo mundo está. Não é sobre não ir. É sobre saber que, para o eleitor de hoje, quem vai precisa continuar aqui.