Em seu artigo, Maurício Locks analisa como a crescente polarização entre Lula e Bolsonaro estrutura o debate político no Brasil e dificulta a viabilidade de candidaturas alternativas.

As últimas pesquisas eleitorais mostram, com clareza crescente, que o cenário político brasileiro permanece rigidamente polarizado entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. A disputa entre essas duas figuras já não é apenas uma rivalidade entre projetos de poder — tornou-se a própria estrutura do debate político nacional. Dentro desse desenho, as chamadas “alternativas” ou “terceira via” enfrentam não apenas obstáculos eleitorais, mas uma barreira sistêmica à sua existência.
O debate público, capturado por essa polarização, tornou-se essencialmente dicotômico. A agenda política é pautada por reações mútuas entre os dois polos, e qualquer tentativa de romper essa lógica tende a ser assimilada, ignorada ou rotulada. Candidaturas que tentam se posicionar como alternativas acabam perdendo visibilidade ou sendo lidas como apêndices de um dos lados.
Além disso, há o fator da viabilidade eleitoral. Sem capilaridade partidária, estrutura de mobilização e — sobretudo — sem uma narrativa que empolgue o eleitorado, projetos de terceira via carecem de força para se manter em pé. A população, em sua maioria, já escolheu um campo de identificação, e a pequena faixa que resta indecisa ou desiludida não tem demonstrado disposição para abraçar uma nova candidatura.
É nesse contexto que se revela o esvaziamento prático das tentativas de romper o eixo Lula-Bolsonaro. Não basta apenas existir enquanto “alternativa”: é preciso se apresentar como opção real, com discurso claro, base sólida e um mínimo de adesão popular — o que, até aqui, nenhuma candidatura de centro ou de fora da polarização conseguiu consolidar.
Em resumo, a fotografia atual do cenário político não apenas desincentiva projetos fora dos polos, como evidencia a dificuldade estrutural de viabilizar uma terceira via em um ambiente tão carregado de antagonismos. A não ser que uma ruptura inesperada ocorra — seja por desgaste simultâneo de ambos os líderes, seja por surgimento de um novo ator com forte apelo popular — a disputa presidencial no Brasil seguirá sendo decidida no campo restrito dessa polarização.
Maurício Locks é jornalista.