Por Jean Sacenti, CEO e cofundador da Predialize<\/em>.<\/strong><\/p>\n
A constru\u00e7\u00e3o civil, um dos pilares da economia brasileira, desempenha um papel crucial no desenvolvimento do pa\u00eds. Em 2024, o setor registrou um crescimento de 4,3% e encerrou o ano com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 359,523 bilh\u00f5es, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). As previs\u00f5es para 2025 indicam um crescimento adicional de 2,3% no PIB da constru\u00e7\u00e3o civil, segundo estimativas da C\u00e2mara Brasileira da Ind\u00fastria de Produ\u00e7\u00e3o. No entanto, mesmo com esses n\u00fameros promissores, o setor enfrenta diversos desafios significativos e um deles \u00e9 especialmente negligenciado: o p\u00f3s-obra.<\/p>\n
Tal fase da constru\u00e7\u00e3o \u00e9 uma etapa crucial para o sucesso de qualquer obra, podendo durar de 50 a 100 anos no ciclo de vida do empreendimento. Os primeiros cinco anos s\u00e3o especialmente cr\u00edticos, pois \u00e9 nesse per\u00edodo que a satisfa\u00e7\u00e3o do cliente \u00e9 consolidada, a funcionalidade da obra \u00e9 comprovada e a conformidade com as normas e garantias do setor \u00e9 assegurada. Al\u00e9m de ter suma import\u00e2ncia reputacional, a etapa p\u00f3s-obra est\u00e1 diretamente ligada \u00e0 responsabilidade do construtor pelos defeitos de qualidade do im\u00f3vel, prevista nos Artigos 12 e 18 do C\u00f3digo de Defesa do Consumidor (CDC), fazendo com que sua relev\u00e2ncia tamb\u00e9m englobe o campo legal. <\/p>\n
Todavia, mesmo com in\u00fameros fatores apontando para a necessidade de se priorizar o p\u00f3s-obra, ele continua sendo deixado de lado por muitas construtoras e imobili\u00e1rias. Problemas como comunica\u00e7\u00e3o ineficaz, manuten\u00e7\u00e3o inadequada, falta de conformidade normativa e dificuldades para gerir garantias, coordenar equipes, controlar custos e implementar iniciativas de sustentabilidade tornam-se comuns, colocando a satisfa\u00e7\u00e3o dos clientes em xeque.<\/p>\n
A comunica\u00e7\u00e3o fragmentada entre construtoras, incorporadoras, propriet\u00e1rios e inquilinos, por exemplo, \u00e9 um desafio significativo da fase p\u00f3s-obra. Sem plataformas centralizadas, informa\u00e7\u00f5es essenciais sobre manuten\u00e7\u00e3o, garantias e funcionamento do im\u00f3vel se perdem, gerando insatisfa\u00e7\u00e3o e desconfian\u00e7a entre clientes e empresas. A m\u00e1 gest\u00e3o dessa comunica\u00e7\u00e3o pode resultar em mal-entendidos, atrasos e aumento de custos, al\u00e9m de alimentar expectativas irrealistas que se convertem em frustra\u00e7\u00f5es posteriormente.<\/p>\n
De modo semelhante \u00e0 dificuldade de se comunicar sem meios centralizados, a falta de gest\u00e3o eficiente da documenta\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m se manifesta como um problema relevante. Manuais f\u00edsicos, garantias e informa\u00e7\u00f5es t\u00e9cnicas geralmente s\u00e3o entregues de forma desorganizada, dificultando o acesso e a atualiza\u00e7\u00e3o de seus conte\u00fados. Essa quest\u00e3o impacta diretamente na realiza\u00e7\u00e3o de manuten\u00e7\u00f5es corretivas e preventivas, elevando os custos e comprometendo a durabilidade do im\u00f3vel.<\/p>\n
Esses aspectos nos levam a refletir sobre a maturidade tecnol\u00f3gica da constru\u00e7\u00e3o civil brasileira. Em janeiro de 2024, foi promulgado o decreto n\u00ba 11.888, que disp\u00f5e sobre a Estrat\u00e9gia Nacional de Dissemina\u00e7\u00e3o do Building Information Modelling<\/em> (BIM) no Brasil, uma iniciativa para promover a transforma\u00e7\u00e3o digital na constru\u00e7\u00e3o civil. Tal medida vem na contram\u00e3o de mais um problema do p\u00f3s-obra, dessa vez intimamente conectado \u00e0 tecnologia: a escassez de dados acion\u00e1veis. A aus\u00eancia de um sistema estruturado para coleta e an\u00e1lise de informa\u00e7\u00f5es impede a identifica\u00e7\u00e3o de padr\u00f5es e tend\u00eancias, reduzindo a capacidade das construtoras de agir proativamente, limitando a inova\u00e7\u00e3o e aumentando o risco de falhas graves ao longo do tempo.<\/p>\n
A manuten\u00e7\u00e3o preventiva \u00e9 outro aspecto cr\u00edtico que costuma ser ignorado. Sem orienta\u00e7\u00f5es claras e acompanhamento adequado, os propriet\u00e1rios tendem a negligenciar cuidados essenciais, o que pode resultar em preju\u00edzos financeiros e desgaste prematuro do im\u00f3vel. A gest\u00e3o eficaz da manuten\u00e7\u00e3o n\u00e3o apenas prolonga a vida \u00fatil da edifica\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m assegura a valoriza\u00e7\u00e3o do patrim\u00f4nio.<\/p>\n
Por fim, o atendimento ao cliente no p\u00f3s-obra, em muitos casos, \u00e9 reativo e ineficiente. A falta de um suporte \u00e1gil e integrado gera insatisfa\u00e7\u00f5es e afeta negativamente a imagem da construtora. A implementa\u00e7\u00e3o de um sistema de atendimento eficaz \u00e9 essencial para garantir a fideliza\u00e7\u00e3o do cliente e refor\u00e7ar a credibilidade da marca. <\/p>\n
Tendo em mente todas as quest\u00f5es apresentadas, torna-se evidente que o setor de constru\u00e7\u00e3o civil como um todo precisa repensar a forma como lida com o p\u00f3s-obra. Al\u00e9m de ser pr\u00e9-requisito para o sucesso de qualquer empreendimento, o investimento em tecnologia, processos eficientes e comunica\u00e7\u00e3o clara pode resultar em vantagens competitivas para as construtoras, posicionando-as na vanguarda do mercado por meio do primor tecnol\u00f3gico e da experi\u00eancia do cliente. A gest\u00e3o eficaz do p\u00f3s-obra n\u00e3o apenas assegura a longevidade e valoriza\u00e7\u00e3o dos empreendimentos, mas tamb\u00e9m fortalece as rela\u00e7\u00f5es entre empresas do segmento e seus clientes. Nesse cen\u00e1rio, todos saem ganhando.<\/p>\n
Al\u00e9m disso, \u00e9 importante que as construtoras se atentem \u00e0s tend\u00eancias tecnol\u00f3gicas e estrat\u00e9gicas que est\u00e3o moldando o mercado p\u00f3s-obra. A digitaliza\u00e7\u00e3o e automa\u00e7\u00e3o, por exemplo, permitem o uso de plataformas digitais para a gest\u00e3o de assist\u00eancia t\u00e9cnica. O\u00a0Building Information Modeling<\/em>\u00a0\u2013 Modelagem da Informa\u00e7\u00e3o da Constru\u00e7\u00e3o, em tradu\u00e7\u00e3o livre \u2013 no p\u00f3s-obra oferece acesso r\u00e1pido \u00e0s informa\u00e7\u00f5es de sistemas e componentes. A manuten\u00e7\u00e3o preditiva e preventiva, com o uso de IoT (Internet das Coisas), possibilita a antecipa\u00e7\u00e3o de falhas. O manual do propriet\u00e1rio digital, em vers\u00e3o interativa e acess\u00edvel em dispositivos m\u00f3veis, facilita o acesso e gerenciamento de informa\u00e7\u00f5es. E a gest\u00e3o de dados, com o uso de Business Intelligence (BI), permite an\u00e1lises e relat\u00f3rios din\u00e2micos. Com a transforma\u00e7\u00e3o digital a todo vapor, ficar de fora desse movimento n\u00e3o \u00e9 uma boa ideia para a constru\u00e7\u00e3o civil.<\/p>\n
O post Os desafios e dores do p\u00f3s-obra na constru\u00e7\u00e3o civil apareceu primeiro em Economia SC.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Por Jean Sacenti, CEO e cofundador da Predialize. A constru\u00e7\u00e3o civil, um dos pilares da economia brasileira, desempenha um papel crucial no desenvolvimento do pa\u00eds. Em 2024, o setor registrou um crescimento de 4,3% e encerrou o ano com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 359,523 bilh\u00f5es, de acordo… Continue lendo