Numa sala reservada para 80 pessoas do restaurante Le Gabriel, dos mais caros de Paris, pratos por pessoa a mais de 200 euros, fora a entrada e os aperitivos, que eles chamam de hors d\u2019euvres e que s\u00f3 pelo nome n\u00e3o saem barato, vinhos de at\u00e9 2 mil euros a garrafa, a conversa barulhenta e as gargalhadas retumbantes estimuladas pelo efeito delet\u00e9rio do \u00e1lcool contrastavam com a discri\u00e7\u00e3o exigida pelo austero ambiente.<\/p>\n
Os homens, todos engravatados, muitos deles envergando ternos de confeccionados por famosos artes\u00e3os alfaiates, As mulheres, ent\u00e3o, exibiam deslumbrantes vestidos assinados por mestres da alta costura da capital parisiense.<\/p>\n
No seleto grupo, estavam deputados, senadores e empres\u00e1rios que chegaram a ser condenados por crimes de corrup\u00e7\u00e3o na opera\u00e7\u00e3o policial- judicial da Lava Jato e acabaram liberados de qualquer puni\u00e7\u00e3o. N\u00e3o por serem inocentes, mas porque a suprema corte sempre usa uma lupa sem tamanho para encontrar alguma nulidade nos processos da grande delinqu\u00eancia que saqueia em bilh\u00f5es os cofres da na\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
At\u00e9 dois magistrados daquela corte estavam presentes. \u00c0s pressas, que nem deu tempo de pendurar as negras togas nos seus luxuosos gabinetes, tinham deixado a sess\u00e3o de julgamento das quintas-feiras para sair correndo rumo ao aeroporto. Mas, os advogados e advogadas eram a grande maioria.<\/p>\n
Todos tinham vindo de um pa\u00eds chamado Brasil e ali estavam para comemorar em alto estilo o anivers\u00e1rio do advogado Jos\u00e9 Aderbal Mayer de Almeida e Andrada, o Bab\u00e1, como assim era chamado. Mas, s\u00f3 pelos amigos mais \u00edntimos, aqueles com os quais podia confidenciar sobre a verdadeira responsabilidade dos seus clientes pelos crimes cometidos. Os outros, no entanto, nem sequer podiam pensar no apelido do advogado Jos\u00e9 Aderbal.<\/p>\n
Certa vez, um jornalista foi processado por difama\u00e7\u00e3o. Havia associado o seu apelido ao Ali Bab\u00e1, aquele que no conto das Mil e uma Noites, roubou o tesouro dos 40 ladr\u00f5es. Ao final da reportagem sobre os honor\u00e1rios de 5 milh\u00f5es de d\u00f3lares pagos por dois irm\u00e3os reis da soja ao escrit\u00f3rio do advogado aniversariante, o jornalista escreveu com as tintas da ironia que, agora, todos sabiam onde o advogado encontrara a chave para abrir a porta da caverna da sua fortuna.<\/p>\n
Radiante, um sorriso cheio de felicidade de quem parecia estar vivendo um conto de fadas, o advogado Aderbal, de m\u00e3os dadas com a esposa enfiada num deslumbrante Cristian Dior vermelho-carmim, patri\u00f3tica homenagem ao governo brasileiro, borboleteavam entre as mesas, recebendo cumprimentos envolvidos em abra\u00e7os e afagos, pelo seu anivers\u00e1rio de 65 anos.<\/p>\n
Quando uma advogada e mulher de um dos ministros, integrante do c\u00edrculo \u00edntimo dos que podem cham\u00e1-lo pelo apelido perguntou-lhe por que n\u00e3o festejara o anivers\u00e1rio no Brasil, Bab\u00e1 engoliu o sorriso e respondeu: \u201colha, cada vez que prendem um empres\u00e1rio ou um pol\u00edtico, \u00e9 como se eu recebesse um soco no est\u00f4mago\u201d.<\/p>\n
E arrematou como se estivesse na barra de um tribunal: \u201cn\u00e3o d\u00e1 pra fazer uma festa como esta no Brasil e se sentir feliz\u201d.<\/p>\n
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