{"id":1953,"date":"2024-03-05T10:31:51","date_gmt":"2024-03-05T13:31:51","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia6.jornalfloripa.com.br\/agencia6\/1953"},"modified":"2024-03-05T10:31:51","modified_gmt":"2024-03-05T13:31:51","slug":"rumo-futuro-o-jeito-que-frequentamos-eventos-mudou-e-comunidades-sao-a-resposta","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia6.jornalfloripa.com.br\/agencia6\/1953","title":{"rendered":"Rumo Futuro: o jeito que frequentamos eventos mudou, e comunidades s\u00e3o a resposta"},"content":{"rendered":"
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Eventos que priorizam a forma\u00e7\u00e3o e a escuta dos grupos que t\u00eam como p\u00fablico-alvo, s\u00e3o plataformas para a explora\u00e7\u00e3o de futuros desej\u00e1veis.<\/p>\n<\/div>\n
Eram 6h30 de uma sexta-feira abafada em S\u00e3o Paulo. O despertador tocou tr\u00eas horas depois de um longo e turbulento regresso de uma viagem. Algumas horas de sono a mais teriam sido bem-vindas, mas decidi cruzar a cidade para meu compromisso inegoci\u00e1vel daquela manh\u00e3: um evento.<\/p>\n
Ter priorizado este acontecimento em particular \u2014 no caso, era o Creative Mornings, encontro mensal de profissionais criativos \u2014 me fez pensar sobre os motivos que fazem as pessoas sa\u00edrem de casa para ir a encontros, confer\u00eancias e afins. O epis\u00f3dio tamb\u00e9m me lembrou que, assim como outras pessoas que conhe\u00e7o, fiquei mais seletiva em rela\u00e7\u00e3o a quais eventos presenciais escolho ir. Tenho buscado experi\u00eancias que v\u00e3o al\u00e9m do mais do mesmo em subsolos de hotel.<\/p>\n
Uma organizadora de confer\u00eancias com quem trabalhei h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada, a Laura, trouxe uma reflex\u00e3o sobre este assunto que fez bastante sentido \u00e0 \u00e9poca e que continua atual. \u201cBasicamente, as pessoas v\u00e3o a eventos para comer, se divertir, participar de comunidades e aprender\u201d, ela disse, em uma reuni\u00e3o de planejamento. De fato, o sucesso de um evento tem muitas nuances e expectativas sempre existiram, mas faz\u00edamos algumas concess\u00f5es. Agora \u00e9 diferente.<\/p>\n
Tudo isso porque algumas coisas mudaram fundamentalmente desde a pandemia. Uma delas \u00e9 a valoriza\u00e7\u00e3o do que \u00e9 importante para n\u00f3s: nossa fam\u00edlia, amizades e, sobretudo, nosso tempo. A forma que administramos o nosso bem mais precioso impacta diretamente a decis\u00e3o de ir a um evento, ou n\u00e3o.<\/p>\n
H\u00e1, tamb\u00e9m, uma conversa mais ampla acontecendo sobre temas como esgotamento relacional, termo criado pela fundadora do Instituto Amuta, Marcelle Xavier. Aqui, a pessoa se sente drenada em situa\u00e7\u00f5es sociais \u2014 e vamos lembrar que eventos corporativos, n\u00e3o raro, s\u00e3o espa\u00e7os de \u201cperformance\u201d. Ent\u00e3o, se um evento vai subtrair (energia, por exemplo) ao inv\u00e9s de somar, para que colocar na agenda?<\/p>\n
Sem contar o aspecto tecnol\u00f3gico dos eventos: alguns encontros herdaram a pr\u00e1tica de transmiss\u00e3o ao vivo. A partir da\u00ed, \u00e9 poss\u00edvel transcrever, resumir, criar tarefas acion\u00e1veis\u2026 Isso quando n\u00e3o s\u00e3o resumidos nas redes sociais, em p\u00edlulas do tamanho da nossa aten\u00e7\u00e3o. Ou seja: para ir a um evento hoje em dia, precisa valer a pena.<\/p>\n
Em meio a tudo isso, a ind\u00fastria de eventos tem passado muito bem: em um relat\u00f3rio de 2023, a Allied Market Research prev\u00ea que o segmento de eventos corporativos deve continuar a crescer de forma expressiva e gerar mais de US$ 510 bilh\u00f5es at\u00e9 2030.<\/p>\n
Por outro lado, a experi\u00eancia vai ter que ser diferente e organizadores j\u00e1 sacaram isso. Outro estudo, da empresa de software de gest\u00e3o de eventos CVENT, diz que metade dos organizadores aceita aumentar or\u00e7amentos em at\u00e9 20% para dar um toque especial aos seus eventos, com experi\u00eancias como curadoria e atividades paralelas.<\/p>\n
Com tantas mudan\u00e7as comportamentais a considerar, o que vai definir bons eventos no futuro, e o que comunidades t\u00eam a ver com isso?<\/p>\n
O Creative Mornings \u00e9 um evento presencial e sem fins lucrativos criado em 2008 em Nova York por Tina Roth-Einsenberg para reunir a comunidade criativa da cidade. O encontro tem foco em discuss\u00f5es que provocam reflex\u00f5es precedidas por um caf\u00e9 da manh\u00e3 logo cedo, e ocorre em mais de 230 cidades ao redor do mundo.<\/p>\n
Caio Matos, organizador do Creative Mornings.<\/p>\n<\/div>\n
Organizados por Caio Matos com o apoio de um time, os eventos do cap\u00edtulo de S\u00e3o Paulo \u2014 assim como os das outras cidades ao redor do mundo \u2014 s\u00e3o realizados voluntariamente e s\u00e3o gratuitos para os participantes. Para fazer o encontro acontecer, organizadores dependem do apoio de empresas, que cedem o caf\u00e9 e o espa\u00e7o, al\u00e9m de servi\u00e7os como tradu\u00e7\u00e3o em libras ou brindes.<\/p>\n
Ap\u00f3s o encontro do m\u00eas passado, conversei com Matos e Caetano Tona (que tamb\u00e9m apoia o Creative Mornings e \u00e9 um dos principais preparadores de palestrantes do Brasil, al\u00e9m de organizar e atuar em eventos TEDx pelo pa\u00eds todo) sobre as mudan\u00e7as em eventos que movimentam comunidades, e o que eles acreditam ser o futuro no segmento.<\/p>\n
Para Matos, do Creative Mornings, convencer as pessoas a confirmarem presen\u00e7a (e de fato comparecerem) n\u00e3o tem sido f\u00e1cil e a tecnologia tem culpa no cart\u00f3rio. Ap\u00f3s a pandemia, houve um desejo intenso de participa\u00e7\u00e3o presencial, que foi posteriormente substitu\u00eddo por uma certa relut\u00e2ncia em sair de casa devido \u00e0 conveni\u00eancia de participar de casa (o evento continuou a ser realizado online durante a crise sanit\u00e1ria).<\/p>\n
\u201cAtrair p\u00fablico em um contexto em que o conte\u00fado online \u00e9 abundante e acess\u00edvel \u00e9 um desafio,\u201d ressalta Matos.<\/p>\n
O principal destaque do evento \u2013 que combina palestrantes famosos, mas tamb\u00e9m nomes emergentes abordando temas provocativos que atraem centenas de participantes todos os anos \u2013 n\u00e3o \u00e9 necessariamente a palestra, mas sim a possibilidade de encontros, com uma dose da boa e velha serendipidade.<\/p>\n
Muitas destas conex\u00f5es s\u00e3o orquestradas no evento pelo pr\u00f3prio Matos, que j\u00e1 atuou como gestor de comunidades em empresas como a Natura. O organizador circula o tempo todo entre os participantes e logo junta pessoas diferentes que est\u00e3o em suas panelinhas, ou sem muito jeito para conversar.<\/p>\n
\u201cA meta \u00e9 que as pessoas sintam vontade de vir, mesmo sem saber o tema ou quem ir\u00e1 palestrar. E que saiam mais alegres, inspiradas e num estado mental diferente do que quando entraram\u201d, pontua.<\/p>\n
Apesar de tanto o Creative Mornings quanto o TEDx dependerem de volunt\u00e1rios, s\u00e3o diferentes em alguns aspectos: enquanto o primeiro \u00e9 gratuito e ocorre mensalmente, o segundo vende ingressos e acontece anualmente. Por\u00e9m, tanto Matos quanto Tona convergem em diversas ideias quanto o assunto \u00e9 o futuro dos eventos \u2013 mais especificamente, o que vai atrair pessoas com uma disposi\u00e7\u00e3o menor de reservar tempo para encontros.<\/p>\n
Caetano Tona, um dos principais preparadores de palestrantes do Brasil.<\/p>\n<\/div>\n
Segundo os organizadores, eventos devem oferecer \u201cmais do que apenas conte\u00fado\u201d para atrair participantes presenciais e apostar na cocria\u00e7\u00e3o de experi\u00eancias junto \u00e0s comunidades.<\/p>\n
Outro ponto importante \u00e9 adaptar temas de alcance geral, como o universo dos games, mas tamb\u00e9m trazer temas que despertem o interesse de grupos distintos, como monogamia. \u201cUm evento pode se tornar mais nichado quando voc\u00ea d\u00e1 a oportunidade de as pessoas trazerem as ideias. \u00c9 a\u00ed que voc\u00ea descobre o que elas querem saber, o que querem falar. No meio de tudo isso, podem surgir coisas improv\u00e1veis\u201d, diz Tona.<\/p>\n
A confian\u00e7a em organizadores de eventos tamb\u00e9m \u00e9 um fator crucial para atrair o p\u00fablico e garantir a diversifica\u00e7\u00e3o. Isso reflete outra tend\u00eancia mais ampla da era digital, que \u00e9 a constru\u00e7\u00e3o de comunidades com base em valores e expectativas compartilhadas.<\/p>\n
\u201c[Confian\u00e7a enquanto organizador] \u00e9 algo bacana, mas ao mesmo tempo \u00e9 uma grande responsabilidade, sobretudo em rela\u00e7\u00e3o a sair do \u00f3bvio. No que diz respeito \u00e0 curadoria, \u00e9 sobre trazer pessoas que sei que s\u00e3o muito relevantes e que podem furar bolhas, ao inv\u00e9s de chamar quem j\u00e1 falou em milhares de eventos\u201d, pontua Matos.<\/p>\n
Outra caracter\u00edstica que chama a aten\u00e7\u00e3o nos eventos organizados por Matos e Tona \u00e9 o processo colaborativo: no Creative Mornings, por exemplo, a cada m\u00eas um cap\u00edtulo de uma cidade diferente do mundo escolhe o tema do pr\u00f3ximo encontro, e a partir da\u00ed, organizadores escolhem um nome. No TEDx, curadores montam um casting de pessoas com ideias que valem ser espalhadas sobre um tema ou quest\u00e3o central.<\/p>\n
Em ambos os contextos, organizadores precisam se expor e se adaptar a novos conceitos, e traduzir estas discuss\u00f5es junto \u00e0s suas comunidades para refletir as realidades locais, e fomentar conversas que podem resultar em cen\u00e1rios diferentes do hoje.<\/p>\n
O papo com Matos e Tona, assim como minha experi\u00eancia em eventos desde a retomada p\u00f3s-Covid, me fez concluir que a relev\u00e2ncia das comunidades para o futuro dos eventos se ancora nas din\u00e2micas contempor\u00e2neas de intera\u00e7\u00e3o social e profissional. Tamb\u00e9m reflete uma evolu\u00e7\u00e3o em como nos reunimos e o que buscamos nestes espa\u00e7os.<\/p>\n
Eventos que priorizam a forma\u00e7\u00e3o e a escuta dos grupos que t\u00eam como p\u00fablico-alvo, s\u00e3o plataformas para a explora\u00e7\u00e3o de futuros desej\u00e1veis, porque incentivam participantes n\u00e3o s\u00f3 a absorver informa\u00e7\u00f5es, mas a questionar e reimaginar realidades. Ao promover essas mudan\u00e7as de mentalidade, encontros baseados em comunidades se tornam catalisadores de inova\u00e7\u00e3o, impulsionando n\u00e3o s\u00f3 a evolu\u00e7\u00e3o pessoal de cada participante, mas tamb\u00e9m a transforma\u00e7\u00e3o social.<\/p>\n
Em tempos complexos com tantas quest\u00f5es, verdadeiros far\u00f3is de perspectiva e esperan\u00e7a podem surgir em eventos cuja t\u00f4nica \u00e9 a troca de viv\u00eancias e pontos de vista que nunca t\u00ednhamos considerado at\u00e9 ent\u00e3o. E estes sim, s\u00e3o encontros pelos quais vale a pena sair de casa.<\/p>\n
O post Rumo Futuro: o jeito que frequentamos eventos mudou, e comunidades s\u00e3o a resposta apareceu primeiro em Forbes Brasil.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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