Temporada de mosquitos

O verão se aproxima e junto a ele o aumento das temperaturas, acompanhadas pelas típicas chuvas próprias da estação.   O acúmulo de águas paradas e o calor do verão são o ambiente perfeito para a proliferação de diversas espécies de mosquitos. 

Os mosquitos causariam apenas um mínimo desconforto se não fossem os transmissores de diversas doenças. O inseto causa ao redor de 2 milhões de mortes por ano no mundo todo.  Tem sido o maior predador da espécie humana há centenas de milhares de anos.

Os mosquitos têm uma grande vantagem evolutiva em relação aos humanos, nossa espécie tem uns 200 mil anos de história enquanto os mosquitos existem há 130 milhões de anos. Conviveram com os dinossauros e tudo indica que ajudaram a dizimar esses gigantes de muitas toneladas, não é com os pequenos humanos que eles vão se intimidar. 

Milhões de anos antes do surgimento do homo sapiens moderno os mosquitos já alteravam de forma importante o rumo da vida na terra. Contra eles temos que utilizar nossa capacidade cognitiva.  

No combate à proliferação dos mosquitos é fundamental que a população participe eliminando todo reservatório de água parada a céu aberto e o uso de repelentes e telas protetoras. Somente com uma ação populacional intensa e conjunta é possível atenuar o número de casos e mortes previstas para os próximos meses. 

No século XX a malária provocava muitas mortes em Santa Catarina, o mosquito transmissor se reproduzia facilmente na água acumulada nas bromélias. Foi necessário o extermínio de milhões de bromélias para acabar com essa dupla letal conhecida como “bromélia-malária”.  

O Serviço Nacional da Malária trabalhou intensamente desde 1960 até o extermínio da malária em SC em 1986. No começo dos anos 50 foi necessário realizar um extenso desmatamento no bairro Azambuja nas proximidades do seminário para controlar a proliferação dos mosquitos e o controle da malária na cidade. 

A preocupação atual principal é com a Dengue, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, transmissor também da Chikungunya e a Zika. Em 2024, Brasil já bateu recordes de número de casos e mortes pela dengue, são mais de 7 milhões de casos prováveis e mais de 5300 mortes, os especialistas indicam que haverá um aumento significativo desses números nos primeiros meses de 2025. 

Acredito que é necessária uma campanha mais enérgica e proativa de parte das autoridades de saúde nos três níveis, federal, estadual e municipal para evitar o anunciado aumento do número de casos de dengue nos meses vindouros. 

Na rede pública a vacina contra a dengue está disponível para a população entre 10 a 14 anos de idade. Apenas 50% das doses têm sido aplicadas, uma pena. 

Em Santa Catarina no decorrer do ano já aconteceram mais de 340 mortes pela dengue, três vezes mais do que em 2023 e mais de 350 mil casos prováveis de dengue.  É surpreendente e desanimador que uma doença viral cujo controle da transmissão é bem conhecido esteja causando tanto estrago. 

Além do sofrimento que a dengue provoca na fase aguda, cada vez temos mais casos com complicações ou sequelas desta doença, seja a nível cardíaco, renal, hepático ou neurológico. 

Na década dos 80 tive a oportunidade de trabalhar numa região endêmica de malária, embora a população local fosse inferior a 3000 habitantes, toda semana atendia entre 10 e 20 casos da doença, entre eles casos de malária cerebral que tem mortalidade superior aos 80%. 

É deprimente presenciar sofrimento e mortes provocadas por doenças que podem ser controladas com medidas preventivas e planejamento epidemiológico. 

Nesta empreitada de controlar a proliferação dos mosquitos todo cidadão deve dar sua colaboração. Aos interessados em conhecer a história deste pequeno grande predador que é o mosquito recomendo a leitura do livro “O Mosquito” do escritor Timothy Winegard. 

 

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