por Marcello Natale
A CPI das BETS parecia o palco ideal para colocar influenciadores digitais na parede. Intimá-los, confrontá-los, fazer a política aparecer como protagonista. Mas algo diferente aconteceu nesta terça-feira. Quando Virginia Fonseca entrou no Congresso Nacional para prestar depoimento, o que se viu não foi a submissão de uma influenciadora ao poder. Foi o contrário. A política brasileira conheceu, com todas as câmeras ligadas, o que significa enfrentar alguém que não vive apenas de influência, mas de intimidade.
Porque Virginia Fonseca não é só seguida. Ela é acompanhada. Acompanhada no sentido mais literal da palavra. Quem consome seu conteúdo sabe o nome das filhas, o nome do cachorro, o aroma do perfume favorito, a textura do moletom com o rosto da filha estampado. Há milhões de pessoas que se sentem próximas dela de um jeito que a política, ainda operando na lógica dos palanques, não consegue alcançar. Essa é a diferença entre ter audiência e ter comunidade.
E aqui entra a provocação central. Se há um ditado que diz que você não deve contratar um funcionário que não pode demitir, talvez os políticos precisem entender que não se deve intimar alguém que você não possa confrontar. E para isso, é preciso ter mais do que cargo e mandato. É preciso ter autoridade. É preciso ter conexão.
O que vimos foi um teatro estranho. A tentativa de inquirir alguém que é, no imaginário digital, inquirível. Não porque esteja acima da lei, mas porque seu capital simbólico é infinitamente maior do que o dos que a convocaram. É nesse ponto que a lógica das redes sociais atropela a lógica do Congresso.
A CPI rendeu ganhos táticos a alguns parlamentares. A senadora Soraya Thronicke, por exemplo, ganhou 18 mil seguidores e ultrapassou 30 mil envolvimentos em apenas dois posts. O senador Cleitinho Azevedo saiu da sessão ovacionado no feed da própria Virginia, que o chamou de “fenômeno”. E nos stories dela, ainda encontramos selfies sorridentes com Soraya, Doutor Hiram, Kajuru. Tudo num tom que desmonta qualquer tentativa de antagonismo.
Ou seja, o Congresso tentou transformar Virginia em ré. Ela saiu como protagonista. E mais do que isso, ajudou a dar visibilidade a parlamentares que, até ontem, não faziam parte de seu ecossistema afetivo. O que era para ser uma CPI virou collab.
Nos comentários dos posts no Instagram dos seis maiores jornais do país, 67% das reações eram de defesa à influenciadora ou de crítica aos senadores. Curiosamente, mesmo entre os que condenam as apostas online, uma parcela expressiva de 43%, a percepção geral é de que os políticos erraram o tom, o alvo, o método. É a política perdendo para o carisma. E mais do que isso, perdendo para a familiaridade.
Porque estamos vivendo a era da intimidade. A era em que não basta falar com as pessoas. É preciso falar como se estivesse na sala delas. E nesse jogo, Virginia Fonseca joga em casa. A política, não. E enquanto isso não mudar, seguiremos assistindo a espetáculos como o de hoje. Onde quem deveria ser questionado sai mais fortalecido, e quem deveria questionar sai no story agradecendo o engajamento.
A CPI das Bets seguirá. Mas a aula de comunicação foi dada. Intimidade não se convoca. Intimidade se constrói. E hoje, foi ela quem venceu. Aproveite, o site da WePink, marca da Virginia, está com 71% OFF no dia de hoje em TODOS os produtos.