Professor de História da Igreja reflete sobre traição de Judas Iscariotes e alerta sobre os riscos da desconfiança na ação divina
Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: freepik
O Evangelho desta Quarta-feira Santa, 16, narra o anúncio da traição de Judas Iscariotes (Mt 26,14-25). Após procurar os sumos sacerdotes para entregar Jesus, seu gesto é revelado pelo próprio Cristo durante a Última Ceia, que precedeu a Paixão e Morte do Senhor.
Na terceira matéria da série do noticias.cancaonova.com sobre a Semana Santa, o professor de História da Igreja, Felipe Aquino, apresenta algumas reflexões sobre este episódio. Entre alguns aspectos, ele destaca, sobretudo, a falta de confiança do apóstolo traidor em Jesus.
O professor cita duas hipóteses que explicam o motivo de Judas Iscariotes ter traído a Cristo. A primeira delas, abordada pelo Papa Bento XVI em sua obra “Jesus de Nazaré”, é que o apóstolo acreditava, dentro da mentalidade judaica da época, que Jesus seria um “Messias político” que libertaria Israel do domínio romano. Quando percebeu que esse não era o plano d’Ele, Judas teria se decepcionado e decidido entregá-Lo.

Almeida Júnior. Remorso de Judas. Óleo sobre tela, 1880.
A outra hipótese está relacionada ao caráter de Judas Iscariotes. A Escritura relata que ele era um ladrão, roubando dinheiro da bolsa dos apóstolos (Jo 12,6). Felipe Aquino pontua que se trata de um “pecado gravíssimo, que realmente abre o coração para ação do demônio”, uma vez que esse dinheiro, “no fundo, era do próprio Cristo”.
Confiar em Deus
O professor sinaliza que, assim como Judas Iscariotes, os outros apóstolos também não haviam entendido o plano de Jesus para salvar a humanidade. Essa compreensão só se deu após Pentecostes, mas ainda assim eles confiaram em Cristo, ao passo que Judas se desesperou. “A gente não deve nunca perder a esperança”, frisa Felipe Aquino.
Neste contexto, ele compara a traição de Judas Iscariotes à negação de Pedro. Enquanto o primeiro “não tinha confiança em Jesus e se desesperou”, o segundo, ainda que tenha negado a Cristo três vezes (Mt 26,69-75), não cedeu à desesperança, mas “confiou na misericórdia e no perdão de Jesus, e continuou sendo o escolhido para ser o primeiro Papa”.
Da mesma forma, cada ser humano é chamado a também confiar em Deus. “O plano do demônio é afastar cada um de Deus”, pontua Felipe Aquino. Uma das maneiras de fazê-lo é levar as pessoas a não confiarem n’Ele, se revoltarem contra Ele e O abandonarem.
A fé, por outro lado, é a confiança na ação divina, crente de que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). O professor ressalta que é preciso rezar e pedir a Deus que não permita nunca cair na desesperança, frisando que “não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar” (Catecismo da Igreja Católica, n. 982).
“Mistério da redenção fortalece a esperança”

Professor Felipe Aquino / Foto: Arquivo Canção Nova
A partir disso, a vivência da Semana Santa recorda que, ainda que tenha sofrido, Cristo ressuscitou e trouxe a salvação a toda a humanidade. “Muitos sabem que Jesus morreu na cruz por nós, mas não entendem profundamente esse mistério”, expressa Felipe Aquino.
Ele explica que apenas Jesus, o Verbo Encarnado, poderia “tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 616). Dessa forma, “entender com profundidade o mistério da redenção é algo importante e que, realmente, fortalece a nossa esperança, a nossa vontade de ser cristão, a nossa vontade de retribuir a Cristo o amor dele por nós”, frisa.
O professor recorda São João da Cruz, que afirmou que “amor com amor se paga”. “Podemos pagar esse amor amando Deus sobre todas as coisas e amando o nosso próximo como a nós mesmos”, conclui Felipe Aquino.
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