Realidade virtual e análises ‘dignas de filme’: como opera a Polícia Científica de SC

Base para roteiros de várias séries de sucesso, filmes premiados e obras literárias consagradas, o trabalho investigativo e de perícia criminal aguça a curiosidade e aumenta o interesse do público nas áreas forenses.

Mesmo que aproximar a ficção da realidade não seja o objetivo, a atuação da Polícia Científica é peça fundamental na solução de crimes, que vão desde homicídios até roubos e adulteração de combustíveis.

Tecnologias de ponta são utilizadas pela Polícia Científica, como drones e softwares de geoprocessamento, para mapear áreas afetadas e analisar os impactos – Foto: PCISC/Divulgação/ND

Em Santa Catarina, são 785 policiais científicos responsáveis pela coleta de vestígios em um local de crime e pela realização de exames periciais que podem esclarecer os fatos. Desse total, 371 são peritos oficiais e outros 414 são agentes e papiloscopistas (que analisam impressões digitais).

Perita geral da Polícia Científica, Andressa Boer Fronza conta que muitas tecnologias estão aliadas ao trabalho atualmente, como por exemplo, um escâner 3D (de três dimensões) que está sendo adquirido.

“Temos diversos serviços para solucionar um crime, que vão desde o banco de dados até o serviço de realidade virtual aplicado a locais do crime”, conta.

Ela explica que o órgão conta atualmente com 28 divisões técnicas especializadas que produzem mais de 150 tipos de exames periciais, que vão além das análises de local de crime e medicina legal, que são mais conhecidos pelo público em geral.

Entre esses recursos, fazem parte do aparato tecnológico da Polícia Científica equipamentos como o RAPIDHit ID System, que permite que sejam feitos exames de DNA em 90 minutos. Os exames ajudam, por exemplo, a desvendar crimes de raptos de crianças que precisam ser feitos com mais celeridade.

O perito criminal Henrique Brunel da Silva conta que outra ferramenta importante é um software internacional, também usado nos Estados Unidos, que ajuda a desvendar crimes como lavagem de dinheiro e auxilia na localização de perfis ligados a atividades criminosas pelas redes sociais.

Equipamentos da Polícia Científica permitem que sejam feitos exames de DNA em 90 minutos – Foto: Ana Schoeller/ND

Números

Somente em 2023, a Polícia Científica de Santa Catarina produziu mais de 130 mil laudos periciais, representando um aumento de 54% em cinco anos.

Além disso, foram emitidos mais de 650 mil documentos de identidade, evidenciando o compromisso da instituição com a segurança e a identificação civil dos cidadãos catarinenses.

Preservação ambiental

O setor de perícia ambiental é crucial na identificação e combate aos crimes ambientais, periciando locais de desmatamento, ocupações ilegais e poluição. Seu objetivo é não apenas documentar os vestígios, mas também avaliar os danos ao meio ambiente.

As equipes realizam perícias em locais suspeitos de infrações, para apurar danos como desmatamento, ocupações ilegais e poluição.

As tecnologias utilizadas são de ponta, como drones e softwares de geoprocessamento, para mapear áreas afetadas e analisar os impactos. Além disso, análises laboratoriais de água e efluentes complementam o trabalho, fornecendo dados sobre contaminação dos recursos naturais.

No decorrer de 2022, em todo o Estado foram emitidos 1.003 laudos periciais da área de perícia ambiental. Já no ano passado foram 1.565 laudos, evidenciando um aumento da demanda desse tipo de perícia.

Equipes realizam perícias em locais suspeitos de infrações, para apurar danos como desmatamento, ocupações ilegais e poluição – Foto: PCISC/Divulgação/ND

Por dentro da Polícia Científica

A maioria das análises feitas pela Polícia Científica de Santa Catarina ocorre nas salas e laboratórios do IGP (Instituto Geral de Perícias), no Itacorubi. Lá, um corredor estreito separa a primeira sala do necrotério, onde instrumentos ficam milimetricamente arrumados na parede enquanto não são usados nos corpos armazenados em uma câmara refrigerada.

No centro da sala, a maca onde são feitos os exames. É dessa forma que muitos crimes podem ser desvendados por médicos legistas que auxiliam os policiais a entender o que aconteceu e se, de fato, houve crime.

Maioria das análises feitas pela Polícia Científica de Santa Catarina ocorre nas salas e laboratórios do IGP (Instituto Geral de Perícias) – Foto: Ana Schoeller/ND

Outra sala próxima é a de perícia de animais que podem ter sofrido maus-tratos, único local do Estado onde este tipo de serviço é feito. Na data da visita do jornal ND, um cachorro que teria sido alvo de facadas aguardava para ser periciado.

Segundo o Governo do Estado, somente em 2023, mais de 200 laudos relacionados a crimes contra a fauna foram emitidos pela Polícia Científica catarinense, “demonstrando seu compromisso com o bem-estar animal.”

Mas logo na entrada do prédio é possível ver que o trabalho ali realizado vai muito além dos equipamentos e números. Quando a reportagem do jornal ND chegou ao local, uma mulher chorava abraçada a uma parente enquanto aguardava o resultado de um dos tantos serviços que poderiam explicar suas lágrimas, como o reconhecimento de corpos ou o exame legal, que é feito quando há algum tipo de denúncia de violência contra mulher.

Somente em 2023, mais de 200 laudos relacionados a crimes contra a fauna foram emitidos pela Polícia Científica catarinense – Foto: Ana Schoeller/ND

A alguns metros dali, uma sala de espera com sofá, livros e lápis para colorir os desenhos mostra a preocupação com as crianças que acompanham suas mães ou responsáveis.

“Muitas vezes as mães não têm onde deixar as crianças”, destaca o perito criminal Henrique Brunel da Silva. “Sabemos que é importante que eles se sintam bem aqui dentro, apesar das situações serem sempre tão pesadas.”

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