Melodias que marcam época: a importância da trilha sonora no cinema

Lembra daquelas notas que tocam sempre que o título de um dos filmes da saga Harry Potter aparece na tela? Ou do imponente tema musical do Darth Vader? Há algo em comum entre esses dois exemplos: ambos são músicas criadas pelo compositor John Williams para as respectivas trilhas sonoras.

John Williams com orquestra durante a construção da trilha sonora de um dos filme da saga "Star Wars"

John Williams compôs a trilha sonora de grandes sagas do cinema, como “Harry Potter” e “Star Wars” – Foto: Divulgação

“Hedwig’s theme” e “The imperial march” desempenham um papel fundamental nas produções. Muito mais do que apenas complementar uma cena, a trilha sonora é responsável por garantir que tudo que vemos na tela nos impacte da maneira adequada.

Se a cena é de ação, a intenção é deixar o nosso coração acelerado com um ritmo intenso. Em filmes de terror, a trilha sonora tem liberdade para causar aflição e desconforto. Já num momento emocionante de um drama, seja de forma sutil e tocante, o som tem a missão de nos comover.

Detalhes notáveis

Tanto a escolha de músicas para integrar a trilha sonora de um filme quanto a arte de compor faixas originais dependem de vários fatores. Entre eles estão o estilo e gênero da obra, bem como a época e o local onde ela se passa.

Esses elementos são referências para os compositores na hora de decidir, por exemplo, quais instrumentos serão usados e que tipo de som combina com cada cenário e situação.

Imagine que estranho seria ouvir um heavy metal tocando em uma história bíblica ou uma música da Ariana Grande inserida em uma produção sobre a Segunda Guerra Mundial.

Som no cinema

Quando o cinema dava seus primeiros passos, os filmes ainda eram mudos. Em 1900 começaram os primeiros testes para incorporar o áudio aos filmes, mas essa prática só se estabeleceu décadas depois, por volta de 1927. Imagine a surpresa quando o público se deparou com diálogos, música e efeitos sonoros na telona!

Trilha sonora, soundtrack e score

Em português usamos quase sempre o termo “trilha sonora”, mas em inglês há expressões específicas para cada caso. Existe a soundtrack, apelidada de OST (original soundtrack), que costuma contemplar tanto músicas originais criadas para o filme, geralmente com vocais, quanto faixas já existentes, escolhidas por combinar com a obra.

Já a score, na maioria das vezes, é produzida especialmente para o filme. Ela é trabalho do compositor, que se baseia na história em questão para dar vida a um material sonoro inédito que vai acompanhar as cenas.

Material original

A composição da score busca garantir o tom certo de cada momento e acentuar as emoções da história, dos diálogos e dos aspectos visuais. Por isso, é uma das últimas etapas da pós-produção, quando o filme está praticamente pronto. Ela reúne dezenas de músicos, nos mais variados instrumentos.

Os responsáveis por este material são como técnicos de um time de futebol, encarregados tanto de fazer surgir algo inesperado e criativo quanto de comandar uma equipe inteira.

Silêncio?

Mesmo sendo um componente precioso para os filmes, a trilha não precisa estar em 100% das cenas. Momentos sem música dão espaço para que os sons do ambiente se destaquem. Isso pode proporcionar contraste e realismo extra, intensificando as sensações do espectador quando a música for retomada.

Conheça exemplos de filmes que foram transformados pela trilha sonora:

Som majestoso

Cena do filme "Jurassic Park", obra cinematográfica com uma importante trilha sonora

A trilha sonora de “Jurassic Park” é uma das mais marcantes do cinema – Foto: Divulgação

John Williams foi o responsável pela trilha de “Jurassic Park – O parque dos dinossauros”, de 1993. A aventura traz temas majestosos, que fazem jus à grandiosidade das criaturas extintas. Além de realçar o aspecto deslumbrante da trama, apresenta a dose certa de ritmo frenético, bem apropriado para as cenas de perseguição.

O compositor também assinou as trilhas sonoras da franquia Indiana Jones e dos clássicos “Superman – O filme”, “Tubarão”, “Esqueceram de mim” e “E.T. – O extraterrestre”.

Tons de emoções

A leveza e o entrosamento da trilha de “Divertida mente”, lançado pela Disney e Pixar em 2015, têm um encanto único. As faixas associadas às personagens Alegria e Tristeza, criadas por Michael Giacchino, são apresentadas de formas variadas ao longo do filme.

Em alguns momentos, há apenas as harmonias, sem a melodia. Em outros, o tema é ouvido em notas distintas, evocando diferentes condições de cada sentimento. Segundo o compositor, há “tons de emoções” e, no fim, todos os temas se relacionam à protagonista.

Frio na espinha

O clima assustador da nova versão de “Mansão mal-assombrada”, de 2023, ganha força com a trilha sonora de Kris Bowers, que também trabalhou na série “Invasão secreta”, da Marvel.

A orquestra conjura um som horripilante e provocativo, mas sem abrir mão de um toque cômico.

Enquanto os sons fantasmagóricos do órgão reforçam o luto e o oculto, o saxofone e a influência do jazz vêm da ambientação em Nova Orleans, o berço desse gênero musical.

Há ainda homenagens às canções originais compostas para a atração da Disneyland, inaugurada em 1969, que inspirou o longa-metragem.

Pura imaginação

Estrelado por Timothée Chalamet, o musical "Wonka" mostra a história do personagem antes de se tornar dono da Fantástica Fábrica de Chocolate

Estrelado por Timothée Chalamet, o musical “Wonka” mostra a história do personagem antes de se tornar dono da fantástica fábrica de chocolate – Foto: Divulgação

A trilha sonora do recém-lançado musical “Wonka” faz referências ao clássico original “A fantástica fábrica de chocolate”, de 1971, mas tem identidade própria e esbanja otimismo.

Primeiro foram criadas as faixas cantadas por Timothée Chalamet, de autoria de Neil Hannon, que renderam extravagantes números musicais.

Depois, o compositor Joby Talbot assumiu a tarefa de conceber a score, de forma a conduzir o público de uma canção para outra, incorporando as melodias de Hannon. Para ele, o papel da música aqui é transportar o espectador para dentro desse mundo colorido, variado e único.

Ecoando no espaço

Depois de receber o pedido pessoal de Danny Elfman para colaborar com ele em “Liga da justiça”, a compositora Pinar Toprak conquistou o comando da trilha de “Capitã Marvel”, de 2019. O resultado intercala momentos poderosos de batalhas na Terra e segmentos ambientados no espaço.

Para Toprak, a chave foi entender a essência da heroína. A intenção era criar um tema principal forte, mas que ressaltasse a vulnerabilidade e fosse reconhecível pelas duas primeiras notas. A ideia surgiu quando a compositora estava cantarolando durante uma caminhada — e logo pegou o celular para gravar o conceito.

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