Como Investir em Ações Estrangeiras para Além dos BDRs?

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Investir fora do Brasil é uma das maneiras mais eficientes de diversificar a carteira de ativos, além de diminuir a exposição aos ruídos da economia brasileira. Algumas moedas como, o euro e o dólar americano servem como porto seguro em momentos de crise econômica ou de tensão nos mercados financeiros.

O leque de oportunidades é grande e diversificado. Se o seu intuito é ter exposição à bolsas estrangeiras em seu portfólio, as opções vão desde ações até os Brazilian Depositary Receipts (BRDs) – certificados que representam ativos de empresas no exterior negociadas na bolsa brasileira, a B3.

Segundo boletim divulgado pela B3, o volume de negociações de BDRs de Exchange-Traded Fund (ETFs) – certificados que representam cotas de fundos de índice estrangeiros – avançou 43,9% no primeiro mês do ano, de R$ 961 milhões em dezembro de 2024 para R$ 1,383 bilhão em janeiro de 2025. O número de investidores em BDRs de ETFs chegou a 27.135 em janeiro, de 26.202 em dezembro. Em janeiro de 2024, o número era de 17.480.

Apesar dos BDRs serem uma das opções mais conhecidas para investir em empresas estrangeiras sem sair do Brasil, existem outras formas de fazer isso diretamente — pulando a bolsa brasileira como intermediária.

BDRs X Ações estrangeiras

Para investir em BDRs, o processo é parecido ao de compra de ações brasileiras. É preciso ter conta em uma corretora nacional que ofereça esses ativos, pesquisar os BDRs disponíveis e fazer a compra.

“Os BDRs podem ser patrocinados, quando a própria empresa estrangeira participa da emissão, ou não patrocinados, quando uma instituição financeira faz isso sem envolvimento da empresa”, afirma Josias Bento, planejador financeiro, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. Ele destaca que é necessário considerar a conversão da moeda, já que os preços dos BDRs são influenciados pela cotação do dólar.

A divisa de negociação, aliás, é uma das principais diferenças entre o investimento em BDRs e em ações estrangeiras, já que esses certificados são negociados em reais e os ativos de outros países em dólar ou outra moeda. O horário também é divergente, pois os BDRs seguem o horário da B3 e as ações estrangeiras são guiadas pelo mercado internacional.

Outra diferença, segundo Bruna Sene, a analista de renda variável da Rico Investimentos, está na estrutura. “O investimento via BDR, compra um recibo lastreado em ações, não os ativos diretamente. Já ao investir no exterior, você compra a ação da empresa listada fora do Brasil, com todos os direitos associados”, explica Sene.

Nas ações estrangeiras, a aplicação pode estar sujeita a diferentes regulações, taxas de câmbio e custos de remessa de dinheiro para o exterior. Já os BDRs são regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e podem ter custos de corretagem mais baixos, além de não envolver taxas de câmbio diretas na hora da compra.

Felipe Papini, da One Investimentos, afirma que em BDRs, os dividendos vêm em reais, mas já com impostos e taxas retidos. “No exterior, você recebe em dólar, com retenção nos EUA, em 30% para brasileiros”, comenta o executivo.

No entanto, mesmo com uma burocracia mais difícil, aportar diretamente em ativos internacionais tem suas vantagens.

Para Bruna Sene da Rico, diversificar seus ativos em diferentes moedas e mercados pode ser uma estratégia de proteção cambial e patrimonial. “Essa abordagem é muito vantajosa para investidores que possuem planos internacionais no médio e longo prazo, pois ajuda a mitigar riscos associados a flutuações cambiais e a instabilidade econômica em um único país”, diz a especialista.

Como fazer o investimento?

Uma das maneiras mais diretas de aplicar em ações estrangeiras é abrir conta em uma corretora internacional.

Juliana Benvenuto, coordenadora de conteúdo e educação da corretora Avenue, explica que isso pode ser feito de maneira digital e com um baixo investimento. “O investidor precisa escolher a corretora de sua preferência, preencher o cadastro, enviar a documentação solicitada e aguardar a abertura da conta”, diz a coordenadora. A Avenue é especializada em investimentos no mercado internacional.

Depois dessa etapa é possível realizar remessas em real e fazer o câmbio pela própria plataforma da corretora. Uma vez que o saldo estiver em dólares, o investidor consegue investir nas opções de investimento que a gestora oferece.

Benvenuto alerta que ao escolher uma corretora, é importante verificar a solidez da empresa, se ela está regulada nos países em que atua e se tem algum órgão protetor. “Por exemplo, instituições sediadas nos EUA podem contar com o Securities Investor Protection Corporation (SIPC), que é uma proteção extra para o investidor”, comenta a executiva. O SIPC é um equivalente americano ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) brasileiro).

Sobre os custos envolvidos no envio de dinheiro para uma corretora internacional, a coordenadora da Avenue afirma que no fechamento de câmbio o investidor precisa pagar o imposto sobre operações financeiras (IOF), que vai depender para qual conta ele está enviando o recurso. “Se for para uma conta de investimentos, o IOF é de 0,38%. Se for para uma conta bancária, o IOF é de 1,1%, pois é considerado um câmbio de disponibilidade”, diz.

O cliente também pode ter custos referentes às operações, como por exemplo, taxa de corretagem e spread.

Impostos sobre ações estrangeiras

Para aplicar em ações ou em fundos estrangeiros não é necessário ter um visto ou residência em outro país. No entanto, ao possuir investimentos em ativos internacionais, é necessário declará-los à Receita Federal Brasileira (RFB), assim como recolher eventuais impostos no Brasil de acordo com as regras vigentes.

Segundo Eduardo Correa da Silva, presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB SP, a tributação para brasileiros que investem diretamente em ações no exterior segue regras específicas da Receita Federal. Os principais pontos são:

  • Lucro com a venda de ações: o investidor pessoa física deve apurar mensalmente o ganho de capital na alienação de ações estrangeiras, aplicando as seguintes alíquotas: 15% para ganhos de até R$ 5 milhões; 17,5% entre R$ 5 e R$ 10 milhões; 20% entre R$ 10 e R$ 30 milhões; 22,5% acima de R$ 30 milhões;
  • Dividendos: são tributáveis no Brasil à alíquota de 27,5% como rendimento recebido do exterior, devendo ser incluídos na declaração anual e pagos via carnê-leão até o último dia útil do mês seguinte ao do recebimento.

Diferente do que ocorre no Brasil, como no caso dos BDRs, não há isenção para vendas abaixo de R$ 20 mil por mês no caso de ações no exterior. Além disso, é preciso converter os valores utilizando o dólar fixado pelo Banco Central do Brasil (PTAX) da data do recebimento ou venda, conforme o caso.

Também há a obrigatoriedade de declaração ao Banco Central do Brasil (BACEN), por meio da Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (DCBE), que depende do valor total dos ativos mantidos fora do país. Os limites são:

  • Obrigatória para valores acima de US$ 1 milhão (R$ 5,69 milhões) em 31 de dezembro de cada ano (referente à declaração anual);
  • Caso os ativos no exterior superem US$ 100 milhões (R$ 569,44 milhões), a declaração passa a ser trimestral.

Não há um limite para investir, mas sim para declarar ao BACEN. “Os aportes abaixo de US$ 1 milhão (R$ 5,69 milhões) não exigem essa declaração, embora ainda devam ser informados na Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF), em bens e direitos, com detalhes do ativo, valor e localização”, explica o presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB SP.

Além das ações: e os ETFs internacionais, REITs e etc?

Outra possibilidade de investir diretamente no exterior é pela compra ETFs internacionais, REITs e outros produtos que não estão disponíveis via BDRs.

Os ETFs são conhecidos como fundos de gestão passiva, ou seja, se propõem a acompanhar determinado índice de mercado, como, por exemplo, o Nasdaq e o S&P 500. É possível também acompanhar índices de referência de commodities e, nos últimos anos, até mesmo criptomoedas.

Já o Real Estate Investment Trusts (REITs) é o fundo de investimento imobiliário americano. Porém, eles não são fundos exatamente. Essa modalidade funciona como empresas que compram e administram diferentes tipos de imóveis, como escritórios, apartamentos, lojas, hospitais, entre outros.

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