Brazilian Fish Cria Super Tilápia para Repetir a História da Carne Bovina

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Ela já ganhou prêmio de inovação com bolinho de tilápia, já inventou um picolé de proteína do peixe e agora dá um salto para uma das biotecnologias que estão mudando o mundo, a edição gênica. A Brazilian Fish, empresa que atua verticalizada na cadeia da tilápia – do laboratório ao consumidor do peixe –, com sede em Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo, desenvolveu a primeira tilápia geneticamente editada do país.

A empreitada foi uma ideia de Antonio Ramon do Amaral Neto, médico veterinário e diretor da Brazilian Fish, fundada em 2007 e pertencente ao Grupo Ambar Amaral, que desde 1983, se dedica à criação de gado da raça nelore. Enquanto a pecuária na empresa se consolidava, em 1987 o Brasil dava os primeiros passos rumo ao melhoramento genético, com testes de seleção e cruzamento de animais com características desejáveis para aprimorar a raça.

Em 1998, foi criado o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), com objetivo de aumentar a produtividade da raça Nelore por meio da seleção genética e melhorar características como ganho de peso, eficiência alimentar e qualidade da carne. Sem as edições genéticas feitas a partir desse período, o brasileiro não teria experimentado uma oferta maior de carne bovina e, muito menos, com melhor qualidade e maciez.

Ao acompanhar a evolução do Nelore criado pela sua família, Ramon decidiu implementar melhorias semelhantes nas tilápias que cultiva. Apesar de ser impossível comparar as criações de peixe e de boi, o melhoramento genético pode impulsionar a produtividade, ganho de peso, reduzir o tempo de produção e aumentar a oferta do produto no mercado. Essa tecnologia está alinhada à meta da Brazilian Fish de tornar a tilápia mais acessível para os consumidores.

Para Ramon Amaral, diretor da Brazilian Fish, a edição gênica pode tornar a tilápia mais acessível

Por isso, em 2024, com investimento de cerca de R$ 100 milhões, a empresa se juntou com o Center for Aquaculture Technologies (CAT), uma organização de pesquisa americana dedicada a aprimorar a produtividade, eficiência e sustentabilidade na aquicultura, sediada em Los Angeles, nos Estados Unidos, para criar tilápias geneticamente editadas e tornar a espécie a proteína do futuro.

É o movimento que revolucionou a carne bovina brasileira que Ramon quer repetir na tilapicultura. Confira o que ele disse na entrevista a seguir:

Como surgiu a ideia de fazer uma tilápia geneticamente modificada?

A minha família está no agronegócio há mais de 40 anos, criando gado nelore, principalmente. E a gente percebe o tanto que o bovino evoluiu por conta de melhoramento genético, e o mesmo pode acontecer com peixes. Eu percebi isso há três anos, quando tive contato com a técnica da edição, com a equipe do CAT.

Lembro que na época pensava “se esse projeto tivesse 10% de sucesso, nós iríamos mudar a história da tilápia no mundo”. E os resultados têm sido positivos. Todo mês uma equipe de cientistas do CAT vêm para a minha propriedade, onde os animais estão sendo editados, para fazermos testes. Se as coisas continuarem assim, esperamos que os primeiros animais produzam e se reproduzam em uma prole ideal para ir para o frigorífico e o consumidor começar a ter essa percepção de redução de preço, no mínimo entre 18 e 24 meses.

Podemos dizer que a edição gênica torna a tilápia em uma super tilápia?

Sim. Estamos criando tilapias para serem melhores em três categorias. A porcentagem de filé produzido, a quantidade de ração que o peixe ingere e o tempo de abate.

Hoje, o rendimento da tilápia é de 33% e queremos aumentar para 42%. Além disso, o peixe consome 1,5 kg de ração para ter 1kg de carne posteriormente. A nossa ideia é reduzir o consumo para 1,2 kg e manter o resultado de carne. Ou seja, o piscicultor vai gastar menos ração para fazer o mesmo peixe.

E agora entra a questão do tempo. Queremos reduzir o período de um ano entre o nascimento e o abate para 10 meses, novamente, gastando menos. Esses três fatores vão fazer com que o peixe seja, no mínimo, 25% mais barato para o consumidor.

A Brazilian Fish é conhecida por criar produtos inovadores na piscicultura, como o mais recente picolé de tilápia. Por que tanto investimento nessa proteína?

Eu me formei em medicina veterinária, mas sempre gostei de tecnologia, de automação, de fazer diferente. Na época que ainda era estudante, fiz um estágio na área de piscicultura e me apaixonei. Foi quando convenci meu pai a incluir o cultivo de peixes na empresa, no Grupo Ambar Amaral. Então, desde que foi fundada, em 2007, a Brazilian Fish é a “maluca do peixe”, porque estamos sempre inovando para tentar aproximar a tilápia do consumidor.

Por isso investimos tanto em biotecnologia, e produzimos filés de tilápia e outros cortes, pratos prontos à base de tilápia, aperitivos, como a coxinha e a pururuca de tilápia, e o picolé. É para tentar tornar a proteína mais acessível. A medicina fala que é um peixe que pode ser consumido todos os dias de tão benéfico que é, mas o brasileiro não come porque é caro.

Quais são os próximos passos da Brazilian Fish?

A gente vai continuar inovando. Por aqui é sempre assim “ah, conseguimos melhorar isso aqui? Conseguimos. Agora vamos ver se dá para o peixe ter ômega 6”. Ou seja, enquanto ainda der para melhorar mais, nós vamos atrás. Por exemplo, teve uma época que tentaram dizer que o Saint Peter era uma tilápia do couro vermelho. Até existe a tilápia do couro vermelho, mas ela não é como o St. Peter. Mas chamou atenção porque visualmente ela é bonita, mas não tem o desempenho que a preta tem.

Então, já pensei “Por que não fazer uma edição gênica na tilápia preta, que tem o desempenho que a gente quer, mas com o couro vermelho?”. Tudo isso para explicar que nós não vamos parar.

Em que pé o Brasil está quando se trata de tecnologia na piscicultura?

O melhoramento genético na piscicultura brasileira não avançou quase nada. O material genético que a gente tem hoje, com a nutrição que é conhecida, não tem mais a entregar em termos de rendimento. Simplesmente não evolui. A genética simplificada até evolui, mas são passos muito lentos.

Existem algumas características dos bovinos que conhecemos e sabemos que será transmitido para a prole. Na tilápia a gente não tem isso. Será que o tamanho do globo ocular tem a ver com o rendimento da carcaça? Não sabemos. Então, para avançar, dependemos de pesquisa, tecnologia e software. Com mais investimento em edição gênica, podemos transformar a tilápia como transformaram a carne bovina.

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