Esse causo é mais um desses que deve ser lenda, mas de tanto serem contados nas rodas de política, acabam se transformando em verdade. O governador Luiz Henrique da Silveira era um verdadeiro “animal” da política. Nunca vi alguém com disposição igual a sua para trabalhar.

Em um domingo, quando todos querem estar de folga, ele fazia uma agenda em Chapecó, outra em Criciúma e mais uma em Joinville. Era normal, no mesmo dia, três equipes de apoio se deslocarem por terra, enquanto ele seguia de avião ou helicóptero.
Participei de muitas dessas maratonas doidas, comandadas pelo meu amigo jornalista José Augusto Gayoso, que foi diretor de imprensa nos seus dois governos. Esse pique todo, com raras horas de sono, fazia Luiz Henrique dormir em qualquer lugar e a qualquer momento.
Era comum, enquanto alguém discursava ele pegar no sono tranquilamente. Vi isso muitas vezes.
Em entrevista ao jornalista Claudio Prisco Paraíso, o ex-governador Eduardo Pinho Moreira, que foi seu vice no primeiro mandato, disse que “ele dormia até em pé”.
Benhur Lima, jornalista que acompanhou LHS por longos anos (bem mais do que eu) conta que o curioso é que assim como dormia, ele acordava e seguia no assunto sem perder o fio da meada.
Em viagens pelo interior, ele acabava frustrando prefeitos com o seu sono. Nos deslocamentos curtos, de um município ao outro, lá ia o prefeito levar o governador em seu carro.
Por alguns minutos, era o momento certo para apresentar pedidos de verbas e obras. Não sei se pela canseira ou intencionalmente, Luiz Henrique logo pegava no sono e deixava o prefeito falando sozinho.
Em março de 2003, no começo do seu primeiro governo, convidou o presidente Lula para ir a Joinville, participar das comemorações do terceiro aniversário do Balé Bolshoi, sua grande paixão. Na mesma noite teve um jantar para arrecadação de fundos para o extinto programa Fome Zero.
E foi a partir desse evento, que a turma da corneta começou a contar essa história.
Assim que os bailarinos do Bolshoi, começaram dançar o Quebra-nozes, os acordes da música lhe chegaram aos ouvidos e trouxeram o sono.
Quem estava lá conta que ele dormiu praticamente a apresentação toda. Estava muito cansado das agendas que fazia pelo interior do Estado, implantando o seu vitorioso projeto de descentralização administrativa.
Quando a apresentação acabou. O público aplaudiu em pé. O governador então acordou e perguntou ao presidente Lula:
-Amigo Lula, gostou da apresentação do nosso balé?
Lula teria respondido mais ou menos o seguinte:
-Companheiro Luiz Henrique, gostei muito da apresentação do balé Bolshoi. Estão todos de parabéns.
Mas o presidente não parou por aí e continuou:
-O que me chamou mesmo atenção foi a educação desses bailarinos. Quando perceberam que o companheiro estava dormindo, passaram a dançar na pontinha dos pés para não o acordar.
Lula deve ter gostado mesmo, porque subiu ao palco e, segundo reportagens da época, arriscou até uns passos de balé junto com os bailarinos.
Verdade ou não, toda a vez que esse causo é contado arranca muitas gargalhadas dos ouvintes.