Opinião | A Cultura ainda pode nos salvar

O Brasil e o mundo estão mergulhados em uma tempestade de ódio e intolerância. O diálogo desapareceu, substituído por gritos, acusações e uma disputa incessante para ver quem impõe sua visão com mais força. O extremismo tomou conta de tudo, e qualquer tentativa de encontrar um meio-termo é vista como fraqueza ou traição. No meio desse caos, perdemos espaços de encontro, momentos de respiro, alegrias coletivas.

Mas então vem algo como o Oscar deste ano e nos lembra do que estamos deixando para trás. Por algumas horas, o mundo parou para celebrar histórias, talentos, emoções. Mesmo aqueles que dizem não se importar com Cultura sentiram o impacto. E por quê? Porque a arte tem esse poder: ela nos conecta, nos faz sentir algo em comum, nos lembra de que, no fundo, ainda somos humanos.

O problema é que estamos esquecendo disso. O Brasil, que sempre foi um país de festa, de música, de cor, parece cada vez mais cinza. As discussões políticas devoram tudo, o rancor ocupa todos os espaços, e nos resta esse vazio sufocante. Perdemos o riso fácil, a vontade de celebrar, a capacidade de enxergar beleza.

E quando falo de Cultura, não me refiro apenas ao que vem de fora. Falo do nosso teatro local, com a Cia Carona, uma das principais companhias teatrais de Santa Catarina, que há décadas emociona e provoca reflexões. Falo da nossa Escola de Samba Mocidade Salto do Norte, que resiste contra o preconceito e a falta de apoio, mantendo viva a chama do carnaval em Blumenau. Falo da nossa Oktoberfest, que, além da festa, é um símbolo da identidade e da tradição de um povo.

Essas manifestações culturais são parte do que somos. Quando as ignoramos ou menosprezamos, perdemos um pedaço de nós mesmos. E, no cenário atual, onde tudo parece nos empurrar para longe uns dos outros, é nelas que podemos encontrar um ponto de reencontro. Porque a Cultura é mais do que entretenimento — é aquilo que nos faz lembrar que, apesar de tudo, ainda pertencemos a algum lugar.

Se não nos apegarmos a isso, corremos o risco de nos acostumar com a escuridão. E esse seria o nosso pior erro.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

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