Conheça o Bilionário Que Está Tentando Ressuscitar Um Mamute

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O empresário serial Ben Lamm e o geneticista de Harvard George Church fundaram a Colossal Biosciences em 2021, com o objetivo de trazer de volta o mamute-lanoso. A ideia é ao mesmo tempo maluca e brilhante, com implicações reais para o meio ambiente, as mudanças climáticas e até a saúde — se conseguirem realizá-la.

Recentemente, a empresa arrecadou US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão) em uma rodada de financiamento liderada pela TWG Global, atingindo uma avaliação de US$ 10,2 bilhões (R$ 58,14 bilhões). Com isso, Lamm se tornou bilionário, com um patrimônio de US$ 3,7 bilhões (R$ 21,09 bilhões), segundo estimativas da Forbes. Church, que começou a trabalhar no conceito em seu laboratório anos antes da fundação da empresa, não possui participação acionária na Colossal.

“O fato de eu não ser bilionário é quase tão interessante quanto o fato de Ben ser”, disse Church. “Se eu tivesse um bilhão de dólares, simplesmente gastaria tudo nisso.”

Church, de 70 anos, conhecido por suas ideias excêntricas, trabalha na sequência genética do mamute-lanoso desde 2008. “Faço parte da geração que leu Jurassic Park“, afirmou. Como muitos, ele tinha um fascínio por grandes criaturas peludas extintas quando era criança, mas, ao contrário da maioria, tornou-se um especialista em sequenciamento genômico. Em 1984, desenvolveu o primeiro método de sequenciamento genético, que resultou no mapeamento do primeiro genoma, o da bactéria H. pylori (causadora de úlceras no estômago). Além disso, já cofundou cerca de 50 empresas de biotecnologia.

O investimento

Os sonhos de Church com o mamute-lanoso começaram em seu laboratório, sem a intenção de transformá-los em um negócio. A ideia parecia tão absurda que ele nem chegou a apresentá-la a investidores. “Eu tinha tanta certeza de que ninguém financiaria que nem me dei ao trabalho de pedir”, disse.

Após uma palestra em 2013, o geneticista recebeu US$ 100 mil (R$ 570 mil) de Peter Thiel, mas o valor estava longe de ser suficiente para sustentar sua pesquisa. “Estávamos basicamente em um nível de financiamento de sobrevivência, até que Ben apareceu e realmente ajudou a arrecadar dinheiro”, explicou.

Lamm, de 43 anos, já havia fundado ou cofundado cinco empresas, todas posteriormente adquiridas. Entre elas estava a Hypergiant, uma empresa de software de tomada de decisões baseada em inteligência artificial, adquirida em 2023 pela firma de investimentos de Josh Kushner, da Thrive Capital, por um valor não divulgado. Apesar disso, a maior parte do patrimônio de Lamm vem da Colossal.

Em 2019, enquanto ainda estava na Hypergiant, Lamm entrou em contato com Church após ler um artigo sobre seu trabalho com o mamute-lanoso. Eles se encontraram no laboratório de Church, em Harvard, e acabaram lançando a Colossal em setembro de 2021 com um financiamento inicial de US$ 15 milhões (R$ 85,5 milhões).

Planos vão além do Mamute

O trabalho de “desextinção” começou com a escavação de restos de mamutes-lanosos no permafrost do Ártico, seguida pelo sequenciamento do genoma do animal pré-histórico para identificar as diferenças entre ele e seu parente vivo mais próximo, o elefante-asiático. Church e sua equipe criaram ferramentas especiais para buscar, entender e comparar genomas, com o objetivo de trazer de volta à vida esse gigante da Era do Gelo. A empresa está usando técnicas de engenharia genética que essencialmente resultarão em um híbrido de mamute e elefante, capaz de suportar o frio.

Os mamutes-lanosos, que acredita-se terem pesado entre seis e oito toneladas, são considerados importantes porque pastavam no norte, o que ajudava na preservação da vegetação, e pisoteavam árvores, o que desacelerava o derretimento do permafrost e mantinha o carbono orgânico armazenado no solo — um fator crucial para evitar catástrofes climáticas. A Colossal espera criar um filhote de mamute-lanoso até 2028 (anteriormente, previa 2027).

Mas esse não é o único animal extinto no radar da empresa. O dodô e o tigre-da-tasmânia também estão na lista. Lamm afirmou que não acredita que o mamute será o primeiro animal a voltar da extinção, sugerindo que a empresa está mais próxima de ressuscitar o dodô (extinto desde 1681) ou o tigre-da-tasmânia (declarado extinto oficialmente em 1982), embora tenha evitado dizer qual deles poderá ser recriado primeiro.

Sem retorno, mas com potencial

Para concretizar sua visão, a Colossal já levantou um total de US$ 435 milhões (R$ 2,48 bilhões) de grandes investidores, incluindo Breyer Capital e Draper Associates, além da TWG Global, empresa de investimentos dos bilionários Mark Walter e Thomas Tull. Embora ainda não tenha receita proveniente de seus esforços de desextinção, a empresa criou duas startups derivadas: a plataforma de biologia computacional Form Bio (em 2022) e a empresa de reciclagem biológica Breaking (em 2024).

A falta de receita da Colossal significa que sua impressionante avaliação de US$ 10,2 bilhões (R$ 58,14 bilhões) é baseada na crença dos investidores no potencial futuro dessa ciência digna de Jurassic Park, e não em um negócio já estabelecido. “A Colossal é a empresa líder na interseção entre IA, biologia computacional e engenharia genética, tanto para desextinção quanto para preservação de espécies”, afirmou Walter, que também é CEO da Guggenheim Partners, em um comunicado anunciando a última rodada de investimentos.

“Recebemos muitas perguntas do tipo ‘o dinheiro investido na Colossal não deveria ser destinado a abordagens tradicionais de conservação?’”, disse Beth Shapiro, diretora científica da Colossal, que está licenciada da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. “As abordagens tradicionais de conservação deveriam receber investimentos como os que a Colossal recebeu, mas este é dinheiro novo, novas pessoas e novas ideias entrando em um setor que precisa desesperadamente disso.”

Lamm, que fala a mil por hora, tem várias ideias sobre como a ciência desenvolvida pela empresa pode sustentar um grande negócio, incluindo fontes de receita de governos interessados tanto em reintroduzir espécies extintas quanto em evitar que espécies ameaçadas desapareçam. Os governos há muito financiam esforços de conservação, mas reservar orçamento para esse tipo de ciência de ponta — e potencialmente controversa — seria algo inédito. “Se você tivesse me dito no início de 2024 que governos me pagariam para fazer essas coisas, eu provavelmente teria respondido ‘provavelmente não’. Agora estamos vendo essa mudança”, afirmou.

A Colossal está “profundamente envolvida em conversas” com dois governos — um deles de uma nação insular — sobre contratos de biodiversidade, segundo Lamm. No entanto, ainda não há nenhum acordo assinado. “Para nós, isso é muito interessante porque a busca pela desextinção gera tecnologia que podemos monetizar e também licenciar”, disse ele. “A reintrodução de animais em seus habitats cria potencial para rendimentos em créditos de carbono, créditos de natureza e impostos sobre turismo.”

Um dos governos com os quais a Colossal está negociando — e que o CEO preferiu não revelar — está focado em salvar uma espécie à beira da extinção, que apresenta uma proporção predominantemente masculina. A escassez de fêmeas e seus ciclos reprodutivos sazonais criam, segundo Lamm, tanto um gargalo na diversidade genética quanto um problema de tempo. O plano do governo poderia levar 25 anos e custar US$ 350 milhões (R$ 2 bilhões), sem garantia de sucesso.

A empresa poderia, em vez disso, modificar geneticamente fêmeas da espécie e induzi-las a um ciclo reprodutivo contínuo, eliminando essas barreiras — mas levantando questões éticas. “Mesmo que cobrássemos US$ 100 milhões (R$ 570 milhões) por esse esforço, o resultado seria a garantia da salvação da espécie, cortando 20 anos do plano e economizando centenas de milhões de dólares”, afirmou o CEO.

Os créditos de biodiversidade ou de natureza são mecanismos projetados para incentivar a proteção e a restauração de ecossistemas naturais, de maneira semelhante aos créditos de carbono, que visam reduzir as emissões de CO₂. A Colossal poderia potencialmente gerar receita nesses mercados emergentes e até mesmo obter uma fatia das taxas de turismo dos países com os quais colabora.

Solução controversa

Salvar animais da extinção é uma questão crucial, já que mais de 46.300 espécies — o que representa 28% de todas as avaliadas — estão ameaçadas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. A perda de biodiversidade prejudica o planeta e desestabiliza ecossistemas inteiros.

Lamm e Church citam o que aconteceu no Parque Nacional de Yellowstone após a reintrodução de lobos em 1995: colônias de castores voltaram, os salgueiros cresceram melhor e pássaros canoros prosperaram. “Foi um lembrete impressionante de que uma única espécie pode fazer a diferença”, disse Church. Isso é especialmente verdadeiro para animais essenciais na manutenção do equilíbrio ambiental — e, por consequência, do próprio planeta. Elefantes, incluindo seus antigos parentes como o mamute-lanoso, “são espécies-chave em todos os ecossistemas em que já estiveram, seja na savana africana ou na floresta tropical asiática”, afirmou.

No entanto, modificar geneticamente criaturas e soltá-las na natureza para restaurar a biodiversidade ou mitigar as mudanças climáticas é uma abordagem controversa. “Acho que trazer de volta o mamute é uma ideia mal concebida e um golpe para atrair investimentos para a empresa”, disse Karl Flessa, professor de geociências da Universidade do Arizona.

“Liberar organismos geneticamente modificados no meio ambiente — o que poderia dar errado?”, ironizou. “Além disso, soltar uma espécie adaptada ao frio em um cenário de mudança climática, onde seu habitat está desaparecendo, levanta uma questão ética.”

A diretora científica da Colossal, Beth Shapiro, reconhece os riscos da modificação de espécies e sua introdução em habitats naturais, mas argumenta que problemas dessa magnitude exigem soluções ousadas. “O problema que enfrentamos é que os habitats do planeta estão mudando mais rápido do que a evolução consegue acompanhar”, disse. “Não nos convém dizer que é muito arriscado explorar o que essas tecnologias podem fazer.”

Desde seus primeiros dias, a Colossal avançou significativamente na ciência. A empresa já gerou os genomas das três espécies em que trabalha. No caso do mamute, demonstrou edição genética multiplex em mais de 20 locais associados à adaptação ao frio, um dos principais traços que pretende restaurar. No tigre-da-tasmânia, está desenvolvendo embriões em um útero artificial. Para os elefantes, o objetivo também é acelerar a reprodução em úteros artificiais — um desafio considerável, dada a gestação longa e o tamanho dos animais.

Solução paara FIV?

O trabalho científico da Colossal pode, no fim das contas, ter aplicações na saúde humana. Se úteros artificiais forem bem-sucedidos na criação de espécies extintas, poderiam ser úteis na fertilização in vitro (FIV) para humanos. “Se conseguirmos cultivar embriões por mais tempo — o que precisamos fazer na empresa —, só essa tecnologia isolada já poderia transformar o mercado de FIV”, disse Lamm. Uma startup relacionada ao trabalho de Church, a Gameto, já está desenvolvendo formas de tornar a FIV menos invasiva e mais acessível ao amadurecer óvulos fora do corpo da mulher. “Tecnicamente, não está ligada à Colossal, mas nasceu do nosso interesse em produzir óvulos de elefante”, explicou Church, que atua como conselheiro da empresa.

A longo prazo, Lamm vê potencial na criação de biovaults, um tipo de biblioteca contendo múltiplos tecidos de espécies extintas ou criticamente ameaçadas, que poderiam ser usados por pesquisadores. Ele aponta os avanços científicos da empresa como resposta aos céticos que duvidam do tempo necessário para a desextinção ou mesmo de sua viabilidade. “Neste momento, estamos totalmente focados na ciência, porque, se ela não funcionar, nada disso importa”, concluiu.

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