O paradoxo da inovação: quando os inovadores se tornam obsoletos

Todos os dias são criadas empresas no mundo todo. No Brasil, não é diferente, aliás, nosso país se destaca nesse quesito, pois é uma nação considerada empreendedora. Para se ter uma ideia, só em 2023 foram abertas 3,8 milhões de novas empresas por aqui que, juntas às demais abertas em anos anteriores, soma um contingente de 42 milhões de empreendedores.

Se os números são tão animadores por um lado, por outro sobra preocupação quando analisamos a quantidade de empresas que fecharam no mesmo período: 2,1 milhões. Esses dados mostram o quanto as empresas estão perdendo mercado e deixando de existir porque não criaram no seu dia a dia a cultura da Inovação ou de uma mentalidade inovadora. E o mundo dos negócios não costuma ser bonzinho com organizações desse tipo. Enquanto elas sucumbem à Inovação, outras empresas surgem com novos negócios para substitui-las.

Há exemplos históricos de empresas que até foram consideradas inovadoras ou disruptivas em algum momento, mas que se perderam por ficarem presas aos seus modelos de sucesso e caminharam rumo ao fracasso e à falência. A Kodak, gigante que chegou a dominar 90% do setor de câmeras e filmes fotográficos e que foi sinônimo de fotografia em todo o mundo, foi uma delas. Enquanto o mundo se encantava e se equipava com as máquinas fotográficas digitais, a empresa resistiu o quanto pôde a mudar a sua linha de produção.

Quando resolveu tomar uma atitude, era tarde demais. Seu nome já não era mais ligado à qualidade e tradição nesse tipo de equipamento. Anos depois, a divisão de filmes fotográficos fechou. Qual grande erro a Kodak cometeu? Acreditar que estava no mercado de produzir e vender filmes fotográficos e não entender que estava no mercado de eternizar memórias, não importava qual fosse a mídia.

Algo parecido aconteceu com a Blackberry, que chegou a dominar 50% do mercado de celulares estadunidenses. Na década de 2000, ter um aparelho desses era sinônimo de status pessoal e profissional, pois ele ia além de um mero telefone. Por meio dele, era possível consultar e-mails de qualquer lugar que você estivesse e abrir sites, entre outras funcionalidades. Mas o surgimento do iPhone mudou, mais uma vez, a relação do consumidor com o celular, e a Blackberry ignorou as novas tecnologias trazidas pela Apple. Em pouco tempo, a Blackberry perdeu a sua participação no mercado, ou seja, o seu market share e fechou as portas.

Outros exemplos foram a Blockbuster, que perdeu o timing e a oportunidade para o streaming, recusando uma proposta para a compra da Netflix, em 2000, e a Nokia, que já foi a maior fabricante de aparelhos móveis do mundo, mas não conseguiu se adaptar às mudanças trazidas pelos smartphones.

Por aqui, grandes empresas brasileiras também sofreram com esse efeito. A Varig, primeira companhia aérea do Brasil e que foi durante muitos anos a principal do país, começou a enfrentar na década de 1990 sérios problemas financeiros e operacionais. A companhia trabalhava com aviões muito antigos – que não agradavam aos clientes que viam outras empresas com frotas mais modernas – e que tinham um consumo de combustível maior se comparado com aviões mais novos.

Além disso, a empresa não modernizou seu modelo de gestão e continuou usando os antigos e ineficientes sistemas de gerenciamento de voos e manutenção. Com isso, não conseguiu competir com outras companhias aéreas, como a Gol e Tam (que depois virou a Latam), que já operavam com uma gestão mais eficaz, e assim em 2006 decretou falência.

Todas essas empresas passaram por um movimento natural no mundo dos negócios: a evolução. Esse cenário exige um esforço gigantesco por parte delas, um em que a Inovação deixa de ser um diferencial e passa a ser questão de sobrevivência e, consequentemente, de sucesso ou morte. É preciso enxergar a evolução para seguir em frente; do contrário, o risco de fechar as portas se torna iminente, como vimos nos casos citados.

Inovar, portanto, vai além de introduzir novidades, pois inclui ter diferencial estratégico, criar valor, explorar novas ideias, atender às necessidades do mercado e aumentar a competitividade. Quando eu coloco todos esses conceitos juntos, chego à conclusão de que inovar é transformar novas ideias em resultados. Afinal, não adianta ter uma ideia sensacional se ela não dá resultado ao ser implementada.

A Inovação impulsiona a evolução dos negócios e exige que as empresas estejam dispostas a se adaptar e encontrar novas abordagens para atender às necessidades dos consumidores. Assim, a capacidade de reinvenção é muito importante para se manter no mercado em um mundo em que a única certeza é a mudança.

E por não entender o que é a Inovação e como ela é importante para que empresas prosperem, muitos empreendedores continuam mantendo modelos de negócio ultrapassados ou até mesmo saem implementando qualquer coisa na sua empresa, copiando o que a concorrência está fazendo e acabam se dando mal. O que eles estão fazendo é só replicar modelos e não inovar.

Dessa maneira, a raiz do sofrimento e da falta de resultados de muitas empresas pode ser rastreada pela incapacidade de inovar, pela falta de conhecimento adequado ou até mesmo pela relutância em inovar. Isso mesmo! Há empreendedores que acreditam que não é preciso inovar, pois a evolução nunca vai atingir o seu negócio. Ele repete para si mesmo: “Meu negócio é muito sólido, tem muita estrutura e experiência, e estou há muito tempo neste ramo. Não preciso mudar”. Só isso já indica o início da derrota (o que claramente ocorreu com os exemplos citados ao longo deste artigo).

A incerteza quanto à como abordar a Inovação dentro das empresas cria uma barreira invisível que dificulta o avanço. E aí vem aquela sensação de desânimo, como se estivesse assistindo a uma corrida frenética, sem saber como entrar nela nem se manter com o próprio negócio, enquanto olha para o lado e vê outras empresas crescendo. Mas isso só acontece porque o conceito de Inovação é entendido de maneira errada. Afinal, como sempre digo, “Ninguém precisa inovar o tempo inteiro, mas deve-se pensar o tempo sobre a Inovação”.

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