Brasileiros Que Venderam a Íris Falam sobre o Serviço; Empresa Entra na Mira do Governo Brasileiro

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Você escaneia sua íris em um dos mais de 40 pontos de coleta espalhados pela cidade de São Paulo. Em troca, recebe o equivalente a R$750 em formato de uma moeda virtual chamada WDL e um certificado de que você é um ser humano. Esse é o serviço oferecido pela Tools for Humanity, em São Paulo, e mais de 50 cidades ao redor do mundo que vem gerando filas e levando centenas de brasileiros aos pontos de coleta.

A repercussão do tema fez com que a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) abrisse, nesta quarta-feira, (15), um processo que teve início no final do ano passado para investigar a legalidade da empresa. De acordo com o texto, os dados pessoais biométricos, tais como a palma da mão, as digitais dos dedos, a retina ou a íris dos olhos, o formato da face, a voz e a maneira de andar constituem dados pessoais sensíveis.

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    “Em razão dos riscos mais elevados que o tratamento desse tipo de dado pessoal pode oferecer, o legislador conferiu a eles regime de proteção mais rigoroso, limitando as hipóteses legais que autorizam o seu tratamento”, diz o documento. A estimativa é de que a empresa já coletou dados de cerca de 200 mil brasileiros.

    O depoimento de quem escaneou a íris

    Com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, e Munique, na Alemanha, a Tools for Humanity começou a operar no Brasil em novembro de 2024. A startup vem investindo no projeto World, uma iniciativa que remunera pessoas dispostas a escanear sua íris ao redor do mundo. O valor pago em formato de um token chamado WLD que, em média, vale R$750.

    Em entrevista exclusiva a Forbes Brasil, no final de 2024, Damien Kieran, Chief Privacy Officer da Tools For Humanity, confirmou que já são dezenas de pontos de coletas na cidade de São Paulo e que o objetivo é ajudar a verificar o maior número possível de pessoas no mundo e proporcionar a elas acesso à economia global. “Neste contexto, o Brasil é imprescindível”, afirmou.

    Empreendedor, investidor e entusiasta do mundo cripto, Guilherme Barbosa, decidiu experimentar o serviço após acompanhar o projeto desde sua criação. Uma das principais vantagens do serviço, de acordo com Guilherme é que, em breve, num contexto de transação digital, a íris possa ser uma chave estratégica dispensando senhas ou outras informações. “Ter acesso a uma tecnologia inovadora e participar desse projeto faz muito sentido pra mim. Eu fiz a coleta no Shopping Vila Olimpia, em Sao Paulo”.

    Telma Soares, de 50 anos, moradora da cidade de Osasco, realizou o serviço na região da Lapa, Zona Oeste da cidade de São Paulo. “Eu fui a convite de uma amiga que já tinha feito e gostei da ideia, apesar de não entender muito esse tema de criptomoedas, mas me interessou poder fazer algo diferente e por um valor interessante.”. São dezenas de relatos nas redes de pessoas que optaram pela venda pelo valor oferecido. O próprio aplicativo pelo qual a pessoa se inscreve permite que ela converta o token e faca um PIX do valor.

    Na mira da Europa, e agora do Brasil

    Questionado sobre aspectos éticos e legais da coleta, Damien afirmou que o principal desafio é educar as pessoas sobre a questão da privacidade de dados e como o serviço funciona para garantir transparência.

    “O objetivo não é coletar dados biométricos de indivíduos e tem como propósito fornecer às pessoas uma credencial anônima de humanidade, baseada em um código único extraído da sua íris, que está anonimamente protegida, para que as pessoas possam ter uma prova de humanidade e se capacitar na era da IA.”

    Em março de 2024, a agência de proteção de dados da Espanha determinou o fim da coleta alegando que o serviço fere a Lei Geral de Proteção de Dados da União Europeia. Na Alemanha, em dezembro do ano passado, a BayLDA, autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, obrigou a empresa a parar a coleta e excluir todos os dados de seus bancos de dados.

    Em um texto publicado no site oficial do Governo, nesta quarta-feira, (15), a ANPD afirmou que a Coordenação-Geral de Fiscalização da Autoridade Nacional de Proteção de Dados possui um processo aberto desde o final do ano passado para investigar o tratamento de dados biométricos de usuários no contexto do projeto World ID.

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