A Ciência Pode Criar Gado Que Arrota Menos Metano?

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É preciso aprender mais sobre as vacas e bois e seu processo de digestão. Pessoas leigas precisam entender o que ocorre com o gado e o que a ciência tem feito. Do lado dos cientistas, nos dias atuais eles também estão dando um passo além, estudando ainda mais e melhor os processos digestivos – e as emissões de metano.

Vacas e bois enfrentam desafios digestivos. Eles prosperam com forragens ricas em fibras, que consistem em carboidratos como celulose e ligninas, os quais não podem ser digeridos pelas enzimas no intestino de mamíferos. Como, então, vacas e bois (e outros ruminantes como ovelhas, cabras, búfalos e camelos) digerem fibras? Na verdade, eles não digerem.

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Em vez disso, seus estômagos abrigam trilhões de micróbios que fazem esse trabalho. Mas, ao digerir as fibras, os micróbios emitem de 30 a 50 litros de gás por hora no estômago dos bovinos. Sentindo-se inchados, bois e vacas arrotam o gás – que é predominantemente metano – para aliviar a pressão. O metano entra na atmosfera, onde aquece o planeta 82 vezes mais rápido, em um período de 20 anos, do que o mais comum gás de efeito estufa, o dióxido de carbono.

Então é possível criar bois e vacas que arrotam menos metano? Embora nenhuma solução seja perfeita, combinar tecnologias como aditivos alimentares, vacinas e manejo eficiente pode ser essencial. Aumentar a eficiência – mais leite e carne por animal – também reduz emissões. Cientistas de alimentos, geneticistas, microbiologistas e especialistas em animais estão trabalhando juntos para responder a essas questões.
Confira algumas estratégias:

Estratégias para Reduzir Emissões de Metano dos Bovinos

Bois e vacas consomem muita fibra, e a digestão dessa fibra gera acúmulo de metano em seus estômagos. O problema é que grande parte da fibra consumida por eles vem de gramíneas, feno e subprodutos alimentares de baixo custo. Trocar para grãos pode reduzir a formação de metano, mas isso é caro para os produtores.

Além disso, é necessário equilibrar grãos e fibras para otimizar a saúde e a produtividade dos animais. Outro desafio é que muitos bovinos ao redor do mundo não são alimentados diariamente por humanos, tornando inviável oferecer refeições de baixa fibra regularmente.

Aditivos Alimentares

Enquanto os humanos questionam o uso de aditivos em seus próprios alimentos, bois e vacas estão sendo apresentados a aditivos em suas rações. Pense nos aditivos como temperos – uma pequena quantidade pode causar um grande impacto. Pesquisadores estão desenvolvendo aditivos que reduzem as emissões de metano sem comprometer, ou até melhorando, a produção de carne ou leite.

Esses aditivos precisam ser acessíveis e fáceis de administrar. Um exemplo é o 3-NOP (3-nitrooxipropanol), aprovado em mais de 65 países com o nome Bovaer. Segundo seu desenvolvedor, a DSM-Firmenich, “apenas um quarto de colher de chá por bovino, por dia, reduz as emissões de metano em até 30% em gado leiteiro e 45% em gado de corte, em média”.

Outro aditivo amplamente discutido é a alga marinha e seu ingrediente ativo, o bromoformo. Embora a alga seja amplamente disponível, ela pode conter metais pesados, iodo (tóxico em altas quantidades) e é potencialmente cancerígena. E sua colheita em massa pode causar impactos devastadores nos oceanos.

Para mitigar isso, empresas como Symbrosia e Blue Ocean Barns (nos EUA) e Volta Greentech (na Suécia) estão cultivando algas em tanques terrestres, alegando que seus produtos são seguros e reduzem as emissões em 30% a 90%. Na Suécia, até é possível comprar carne moída chamada “Lome”, nomeada em homenagem ao aditivo alimentar. Nos próximos anos, cientistas e produtores estarão atentos às regulamentações sobre algas e bromoformo para abordar preocupações de saúde dos consumidores.

Seleção Genética do Gado

Cientistas descobriram que há bovinos que comendo a mesma quantidade de alimento emitem diferentes níveis de metano, o que indica que as emissões podem ser parcialmente controladas pela genética. Pesquisadores da Universidade da Califórnia-Davis esperam que até o final da década os touros reprodutores sejam avaliados nos programas de melhoramento não apenas pela transmissão de alta produtividade e saúde, mas também pelo nível de metano emitido por sua prole.

Futuro das Vacinas

As vacinas que reduzem a produção de metano no gado estão em desenvolvimento. Elas funcionariam induzindo a produção de anticorpos que interferem nos micróbios responsáveis pelo metano. Se forem administradas uma vez ou com pouca frequência, poderiam ser uma solução para bovinos criados soltos, sem confinamento.

Dispositivos Vestíveis?

Algumas ideias parecem inusitadas, como máscaras que capturam o metano expelido e o oxidam em dióxido de carbono e água. Outra tecnologia coleta os arrotos em recipientes presos às costas das vacas, que precisam ser esvaziados diariamente – o que pode gerar vazamentos e custos de mão de obra elevados.

*Marianne Krasny é colaboradora da Forbes EUA e diretora do Cornell Civic Ecology Lab.

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