Morre o Cardeal Ayuso Guixot, promotor do diálogo entre as religiões

Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso morreu nesta segunda-feira, 25, aos 72 anos de idade; purpurado estava internado no Hospital Gemelli de Roma

Da relação, com Vatican News

Cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot /Foto: REUTERS/Remo Casilli

Uma figura discreta e gentil, de grande inteligência, conhecimento e profunda fé. Cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot era frequentemente visto caminhando pela Via della Conciliazione com a intenção de rezar baixinho a caminho do seu escritório. Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, ele faleceu nesta segunda-feira, 25, aos 72 anos de idade. Estava internado no Hospital Gemelli de Roma.

Na manhã desta segunda, o Santo Padre já havia mencionado o cardeal, durante discurso a uma delegação internacional jainista, na qual estavam presentes representantes do Dicastério. Na ocasião, o Pontífice mencionou que ele estava “muito mal de saúde” e pediu orações.

Problemas de saúde

Ayuso Guixot tinha problemas de saúde há tempos, que o forçaram a repetidas internações e cirurgias. Por esse motivo, não acompanhou o Papa na longa viagem papal ao Sudeste Asiático e à Oceania, em setembro, onde o componente inter-religioso era forte.

Uma das muitas “viagens de fraternidade”, como o cardeal, um grande conhecedor do Islã e do mundo árabe, gostava de descrever as visitas do Papa Francisco a países onde a Igreja Católica é minoria, para fortalecer o diálogo entre as religiões. 

Ao redor do mundo com o Papa 

Em em fevereiro e março de 2019, ele vivenciou a viagem aos Emirados Árabes Unidos e ao Marrocos, como secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Em de novembro, foi à Tailândia e ao Japão, como presidente do mesmo Dicastério, semanas depois de ser criado cardeal, em 5 de outubro de 2019.

O purpurado também esteve presente na histórica viagem do Papa ao Iraque, em março de 2021 – a primeira após o hiato forçado devido à pandemia de Covid-19. Uma peregrinação, a da terra de Abraão, que – disse o cardeal em entrevistas – revitalizou um país atormentado. Após a visita do Papa, ele afirmou que o mundo não se lembraria do Iraque apenas pela violência e pelas cenas de devastação, mas também pela alegria e pelo júbilo de seu povo. 

Em 2022, o chefe do Dicastério esteve com o Papa no Cazaquistão e no Bahrein. Depois voltou sozinho em duas ocasiões: para conferir a ordenação episcopal do vigário apostólico da Arábia do Norte, Dom Aldo Berardi; e para a abertura da Porta Santa, em Abu Dhabi, para o Jubileu dos Mártires da Arábia. Ele também esteve presente na Mongólia, em setembro de 2023.

Entrada nos combonianos

Guixot é o quinto de 9 filhos de uma família numerosa e profundamente católica. Nasceu em 17 de junho de 1952 em Sevilha, na Espanha. Foi justamente a cultura da cidade andaluza, onde a torre da catedral – uma das maiores igrejas do mundo – havia sido anteriormente o minarete de uma grande mesquita, que influenciou fortemente sua sensibilidade.

Inicialmente, frequentou o Colégio de Santo Antônio Maria Claret, passando um ano no seminário menor de Sevilha. Mais tarde, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade da cidade, enquanto continuava a frequentar a Igreja e retiros espirituais para jovens. Lá ele entrou em contato com a revista e as publicações dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, decidindo, em setembro de 1973, entrar para a congregação.

Fez sua profissão perpétua em 2 de maio de 1980 e foi ordenado sacerdote em 20 de setembro do mesmo ano. Continuou seus estudos em Roma, na Pontifícia Universidade Urbaniana e no Pontifício Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos (Pisai), onde obteve sua licença em 1982.

Ministério no Egito

Em outubro do mesmo ano, partiu para o Egito, como pároco no Cairo, na comunidade latina do Sagrado Coração em Abbasiyya, não muito longe da Universidade Al-Azhar, dedicando-se a acolher e assistir os jovens católicos sudaneses presentes na capital egípcia como estudantes, migrantes ou refugiados políticos. Essa experiência o levou ao Sudão na época da guerra civil. Em 2006, ele havia se tornado decano de Pisai, onde anteriormente havia sido diretor de estudos, quando os Missionários da África (Padres Brancos) abriram uma casa para padres e religiosos em Túnis.

Dicastério para o Diálogo Inter-religioso

Em 2007, ele foi nomeado consultor do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso. Naquele ano, o Cardeal Jean-Louis Tauran foi nomeado presidente. Em 2012, o Papa Bento XVI o nomeou secretário do Dicastério. Após a morte de Tauran, Francisco o nomeou prefeito, em 25 de maio de 2019. Uma sucessão quase natural à frente do Conselho Pontifício que trata das relações com outras religiões. A partir daí, uma sucessão de compromissos, reuniões, viagens a todos os cantos do mundo para testemunhar a muçulmanos, hindus, budistas, sikhs, xintoístas, confucionistas ou crentes de religiões tradicionais a possibilidade de estabelecer diálogo e trabalhar juntos. 

Condolências do Grão Imame de Al-Azhar

As primeiras reações de condolências pela morte do cardeal vêm do mundo islâmico, precisamente da prestigiada Universidade de Al-Azhar. É o próprio Grão Imame Ahmad Al-Tayyeb que expressou em nota oficial “as suas mais profundas condolências ao Papa Francisco, o Papa da Igreja Católica”, pelo falecimento do prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso: “Deus Todo-Poderoso conceda paciência e conforto à família, parentes e entes queridos do falecido”.

O Grão Imame destacou que o Cardeal Ayuso “foi um distinto modelo de serviço dedicado à humanidade” e reconheceu os “esforços significativos na promoção de relações com os muçulmanos em geral, e com Al-Azhar e o Conselho Muçulmano de Anciãos (MCE) em particular”. Ayso, ainda se lê na nota, também teve um papel central no “difundir do Documento sobre a Fraternidade Humana (HFD) durante o seu serviço no Vaticano e as suas contribuições ao Comitê Superior da Fraternidade Humana”.

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