Ajudar os pobres é “viver o amor ao próximo” pedido por Jesus, reforça frei

Diante da proximidade do Dia Mundial dos Pobres, conheça o maior abrigo de pessoas em situação de vulnerabilidade do nordeste brasileiro; vice-diretor do local explica trabalho realizado

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Laura Lo Monaco

“Os pobres têm um lugar especial no coração de Deus”, disse o Papa / Foto: Freepik.com

Neste próximo domingo, 17, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres. Instituída pelo Papa Francisco em 21 de novembro de 2016, este ano a data tem como tema: “A oração do pobre eleva-se até Deus” (cf. Sir 21, 5). No Brasil, neste último domingo, 10, foi iniciada a Jornada Mundial dos Pobres, com ações nas comunidades, paróquias, arquidioceses e prelazias.

Apesar de ser um período específico em que são destinadas reflexões sobre o tema, os pobres têm e sempre tiveram um lugar especial no coração da Igreja. Prova disso são as muitas instituições, pastorais e grupos organizados que realizam diariamente, semanalmente ou mensalmente atividades de acompanhamento dos mais vulneráveis. No nordeste do país, o Palácio dos Pobres – localizado em Maceió (AL), o maior da região, faz um importante trabalho promovendo não somente assistência social, mas reintegração.

O vice-diretor do Palácio dos Pobres, Frei José Maria, comenta o trecho da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres, em que o Santo Padre afirma que os “pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus”. O religioso cita o trecho do Evangelho de São Mateus, em que o próprio Cristo diz:

“Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim (…). Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mat 25, 35 – 40).

Cumprir essa missão da Igreja, de assistir os pobres, ressalta Frei José, é cumprir a missão do próprio Cristo, o mandado dEle. É viver o amor ao próximo, trecho do resumo dado por Jesus quando perguntado sobre o maior dos mandamentos. A frase sucede apenas o pedido para “amar a Deus sobre todas as coisas”.

Como a iniciativa surgiu

Antigo Arcebispado, agora Palácio dos Pobres / Foto: Pascom Arquidiocese de Maceió (AL)

O religioso explica que apesar de o Palácio dos Pobres ter sido inaugurado em agosto passado, a iniciativa, anteriormente nomeada “Casa de passagem São Vicente de Paulo”, nasceu com a pandemia, com o isolamento social. A Fraternidade Casa de Ranquines, instituição religiosa composta por religiosos e leigos consagrados que dão sua vida voluntariamente a serviço de Jesus Cristo flagelado nos pobres, é a responsável pelo projeto.

No primeiro prédio, o religioso afirma que era possível acolher 600 pessoas. Depois, com a nomeação e posse do arcebispo de Maceió, Dom Beto Breis, a iniciativa foi transferida para um outro local, o antigo Palácio Episcopal, que há 57 anos já não era mais morada do arcebispo. Foi então que de “Casa de passagem São Vicente de Paulo”, a iniciativa passou a ser nomeada de “Palácio dos Pobres”, com direito a “inauguração”.

Voluntários

Além da Fraternidade Casa de Ranquines, o Palácio dos Pobres conta com voluntários. Uma equipe técnica de profissionais da saúde, psicólogos e assistentes sociais.  

“Não é só um assistencialismo ou um paternalismo. Hoje nós temos funcionários dentro da instituição que são ex-moradores de rua e são ex-acolhidos pela própria instituição. Então realmente é um trabalho de promoção humana, como dizia São Vicente de Paulo”, indica Frei José.

Atividades

Frei José Maria /Foto: Reprodução Youtube

“Hoje nós acolhemos 400 pessoas”, conta o religioso. A iniciativa já chegou a acolher famílias inteiras que viveram situações de vulnerabilidade por conta do álcool e das drogas. Os assistidos moram no local e fazem as seguintes refeições: café da manhã, almoço, jantar e lanches. “São cerca de 2.400 refeições por dia”, acrescenta.

Aqueles que têm um subemprego, mas não têm moradia, saem para trabalhar e voltam para dormir. Já os que não têm emprego ficam no local. Atualmente, o religioso revela que a ideia é implementar projetos e oficinas para que eles aprendam ofícios e possam, um dia, não depender mais do Palácio dos Pobres.

“A intenção é que eles não fiquem para sempre. Queremos ‘devolvê-los’ para o convívio familiar e, de repente, para a sociedade, (…) para o mercado do trabalho”, expressa.

No momento, durante todo o dia, os assistidos têm acesso a terapias, consultas de saúde e apoio em questões sociais. “Eles chegam lá, na maioria das vezes, sem documento algum” e conseguem toda a documentação, revela o frei.

Reintegração

A reintegração social dos assistidos começa com o acolhido passando por uma triagem. Ao viabilizar a documentação que falta, homens e mulheres são inseridos em projetos sociais do governo para que eles tenham uma renda.

“Hoje, dois restaurantes localizados na orla de Maceió contratam assistidos. (…) A gente tenta fazer esse trabalho de reinserção. Alguns também terminam tornando-se funcionários da própria instituição. Outros conseguimos reinserir no convívio familiar”, aponta.

Evangelização

O Palácio dos Pobres oferece não apenas o pão de cada dia, mas também o “Pão da Vida”. No âmbito religioso, Frei José afirma que muitos têm o sentido da vida, que é Deus, resgatado. “São Vicente Paulo dizia que antes de falar de Deus para o pobre, nós precisamos primeiro mostrar que eles têm uma alma. Então esse é o nosso trabalho…”.

O religioso pontua que a casa não tem restrição de religiosidade, sexo, raça e cor. “São Vicente de Paulo afirmava que a caridade verdadeira fecha os olhos e abre os braços. Como nós vivemos a espiritualidade deste santo, então é assim que nós trabalhamos com aqueles pequeninos que o Senhor nos envia”.

As pessoas, em diversas situações, são acolhidas e confortadas. O local conta com uma capela do Santíssimo Sacramento, onde os abrigados têm seus momentos de oração e adoração. Entre os voluntários, Frei José afirma que estão membros da Comunidade Católica Shalom. Eles visitam o local com o intuito de apoiar na evangelização.

 

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