Expectativa de vida em SC é a maior do Brasil; quem vai pagar a conta da previdência social?

A expectativa de vida em SC é considerada a maior do Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A longevidade do catarinense supera os 80 anos, mas deixa dúvidas nas questões econômicas do estado quando se trata dos custos da previdência social.

Expectativa de vida em SC ultrapassa os 80 anos

Expectativa de vida em SC é a maior do Brasil, segundo o IBGE – Foto: Reprodução/Pixabay/ND

Tanto homens quanto mulheres de Santa Catarina possuem a maior longevidade do país. No entanto, o envelhecimento da população catarinense acende o alerta quanto a futuros problemas econômicos para o estado, como a elevação nos custos da previdência social.

Segundo o IBGE, a média de expectativa de vida do catarinense é de 80,94 anos, sendo que as mulheres vivem em média 84,18 anos e os homens em torno de 77,72 anos. Os números de Santa Catarina – tanto de mulheres, quanto de homens idosos – superam a média nacional, que é de 77,40 anos. No ranking geral, o Espírito Santo aparece em segundo (80,00), seguido por São Paulo (79,74), Distrito Federal (79,70) e Rio Grande do Sul (79,48).

Os dados coletados pelo IBGE apontam ainda que o Brasil só alcançará os 80 anos de expectativa de vida no ano de 2040. Essa disparidade do estado catarinense em relação à média nacional acende um alerta na economia de Santa Catarina para os próximos anos: quem pagará a conta da previdência social?

Com o aumento na expectativa de vida em SC, é crescente uso dos recursos para gastos em assistência social

Segundo a projeção do IBGE sobre a população do Brasil e de seus estados, por sexo e idade, em 2041 a população brasileira chegará ao seu número máximo de 220,4 milhões de pessoas. No entanto, o estado catarinense só vai começar a reduzir sua população a partir de 2064.

População catarinense tende a reduzir a partir de 2064

Projeção do IBGE aponta que SC começará a reduzir sua população somente a partir de 2064 – Foto: Germano Rorato/ND

De acordo com João Rogério Sanson, professor de Ciências Econômicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), há um aumento mais rápido do que o esperado na quantidade de pessoas idosas na população total. Segundo ele, esse é um fenômeno nacional que afeta a força de trabalho e a arrecadação previdenciária do INSS.“Há ainda o crescente uso desses recursos para gastos em assistência social, que envolvem grupos que pouco ou nada contribuem, como os benefícios a idosos de baixa renda e outros. É preciso incluir também os subsídios a alguns grupos de empresas que pouco contribuem para a previdência”, explica o economista.

Quem vai pagar a conta da previdência social no futuro?

Com o aumento da expectativa de vida em Santa Catarina, a economia tende a investir mais na previdência social. Nesse momento em que o estado possui um alto número de idosos, diversos profissionais já estão aposentados ou vão se aposentar muito em breve.

Mas, afinal, de onde vem o dinheiro para os pagamentos de benefícios sociais? Segundo o FAPP (Fundo de Aposentadoria, Pensão e previdência), as principais fontes são:

  • Contribuições previdenciárias descontadas todo mês de servidores públicos ativos e inativos do município;
  • Contribuições previdenciárias patronais pagas pelos municípios;
  • Rendimentos de aplicações financeiras de recursos previdenciários.

No caso de benefício da aposentadoria voluntária por idade, o pagamento mensal tem um valor proporcional ao tempo de contribuição. Segundo a FAPP, o contribuinte deve preencher os seguintes requisitos:

  • 10 anos de exercício no serviço público (tempo mínimo);
  • 5 anos de exercício no cargo em que se dará a aposentadoria;
  • 65 anos de idade, em caso de homens;
  • 60 anos de idade, em caso de mulheres.
Governos têm regimes de aposentadorias fora do INSS

Estados e municípios possuem seus próprios regimes de aposentadorias fora do INSS, diz especialista – Foto: INSS/Divulgação/ND

De onde vem o dinheiro das aposentadorias?

Segundo o economista João Rogério Sanson, a lista de onde vem o dinheiro para o pagamento das aposentadorias é extensa. De acordo com ele, o governo estadual e os municípios preocupam-se com seus funcionários quando têm seu próprio regime de aposentadoria, fora do INSS.

“Nesse caso, os problemas de financiamento são parecidos com os do governo federal. Como forma de garantir o financiamento previdenciário, a Constituição de 88 juntou gastos previdenciários com outros de natureza assistencial”, explica Sanson.

O economista alega que não fez muita diferença a ampliação das fontes de financiamento com alguns tributos de baixa arrecadação em SC. Ele afirma que quando o déficit crônico aparece, é rapidamente financiado pela arrecadação total.

“Quando há déficit nas contas, isso é financiado pelo aumento da tributação ou pela dívida pública, tanto federal quanto estadual”, diz Sanson.

Chegada de migrantes a SC reduz riscos de possível colapso na economia, diz especialista

O economista afirma que o Brasil já entrou na fase demográfica em que haverá mais idosos do que jovens. Porém, segundo ele, Santa Catarina tem se beneficiado da chegada de migrantes ao estado.

Com a vinda de jovens em busca de oportunidades, a economia catarinense continua a girar, reduzindo riscos de colapsar. Segundo Sanson, os governos estadual e municipais podem regular o número de funcionários como meio de controlar suas contas.

Migração ajuda a evitar colapso na economia catarinense

Chegada de jovens em busca de oportunidades ajuda a rodar a economia de SC – Foto: Germano Rorato/ND

“É claro que isso toma vários governos e alguns deles pagarão a fatura política das eventuais dificuldades de manter o pagamento de salários e benefícios em dia. No entanto, a fatia do PIB, dada pelos gastos privados e públicos, nacionais e estaduais, diminuirá à medida que enxugar a proporção de menores de idade na população total”, explica Sanson.

O economista afirma que, como a fatia de trabalhadores ativos da população total cairá, será inviável o financiamento da previdência apenas pela contribuição dos próprios segurados e dos empregadores. Conforme ele, haverá um número decrescente de pagantes do seguro por aposentado.

“Na verdade, isso vem acontecendo há vários anos. Em princípio, o país tenderá a atribuir ao governo o financiamento de uma fatia maior da previdência, utilizando a fatia do PIB que será redirecionada do presente apoio aos dependentes menores de idade”, comenta o economista.

SC adota modelo previdenciário dividido em dois fundos para equilibrar contas públicas

O Iprev (Instituto de Previdência de Santa Catarina) é o responsável pela administração dos benefícios previdenciários dos servidores públicos do estado e seus dependentes. O instituto passou a adotar uma nova estrutura para o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) estadual.

Os servidores foram divididos entre os planos ‘SC Seguro’ e ‘SC Futuro’, visando ao equilíbrio financeiro da previdência. Com a aprovação da Lei Complementar 848/2023, o estado espera resolver o déficit histórico e garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário a longo prazo.

O objetivo do sistema previdenciário reestruturado pelo Iprev é evitar o colapso financeiro de Santa Catarina. Segundo o instituto, a meta é equilibrar a administração dos fundos enquanto responde ao aumento de aposentadorias no serviço público estadual.

‘SC Futuro’ é voltado para os novos servidores

O plano ‘SC Futuro’ reúne os servidores admitidos a partir de 1º de janeiro de 2024, operando com um regime de capitalização. Esse fundo acumula recursos ao longo dos anos e investe no mercado financeiro.

O instituto aponta que o fundo atua principalmente com títulos públicos atrelados à Selic, o que assegura alta liquidez e segurança. A estrutura de investimentos do ‘SC Futuro’ busca garantir estabilidade e liquidez, protegendo os recursos com foco em rentabilidade e segurança.

Desde janeiro de 2024, o ‘SC Futuro’, voltado aos novos servidores, já soma R$ 4,8 milhões em reservas. Os valores foram obtidos por meio de contribuições e investimentos financeiros. O saldo acumulado está sendo administrado pelo Iprev e formando reservas para cobrir benefícios futuros.

‘SC Seguro’ segue o regime de repartição simples

Segundo o Iprev, no novo modelo, o ‘SC Seguro’ abrange servidores ativos, aposentados e pensionistas admitidos até 31 de dezembro de 2023. Este fundo segue o regime de repartição simples, onde as contribuições dos servidores ativos financiam as aposentadorias dos inativos.

Com o aumento da expectativa de vida em SC, há a tendência de queda no número de ativos e o governo estadual prevê um déficit crescente. Porém, se comprometeu a usar ativos imobiliários em um Fundo de Investimentos para auxiliar no financiamento do ‘SC Seguro’.

Proposta ocorreu em virtude do histórico previdenciário do Estado e das novas composições sociais, como a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da longevidade

A segregação de massas surgiu com o intuito de equilibrar o déficit previdenciário a médio e longo prazo – Foto: Redação/ND

Concurso público para a educação vai auxiliar a contribuição para a previdência social de SC

Ainda de acordo como o Iprev, para aumentar a base de contribuintes, o estado lançou um amplo concurso público com mais de dez mil vagas na educação.

A iniciativa teve como objetivo reduzir o número de contratos temporários e ampliar a quantidade de servidores efetivos. Assim, mais profissionais estarão contribuindo para a Previdência do Estado de SC.

“Com essas medidas, haverá ganhos privados e públicos dados pela maior produtividade dos que estarão na população ativa”, finaliza o economista João Rogério Sanson.

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