Fé na Ciência. Por Áureo Moraes

Por Áureo Moraes

O assunto corrente nestes últimos dias/semanas tem sido, invariavelmente, o expressivo aumento nos casos de Dengue em Santa Catarina. Multiplicam-se as manchetes, reportagens, postagens, entrevistas, campanhas, enfim… em todos os espaços ouve-se falar do quanto há de focos dos mosquitos transmissores, dos cuidados com água parada, dos sintomas, das mortes, das escassas vacinas, etc.

No mesmo tom há discursos sobre a natureza, digamos, “coletiva” das soluções. – Não basta ao Estado, em todas as suas esferas, cumprir o seu papel de responsável pelas Políticas de Saúde Pública – dizem. E remetem aos cidadãos e cidadãs a mesma responsabilidade de agir no sentido de evitar e prevenir a doença.

Pois bem, a meu ver falta algo – de altíssima relevância – na percepção quanto às razões de estarmos, em março de 2024, convivendo com uma epidemia de tamanhas proporções: falta o reconhecimento da Ciência como fator de proteção da saúde e da vida. Uma ação tratada como exercício diário de cidadania. E essa ausência é consequência dos anos recentes de negacionismo e ignorância pelos quais passamos. E seguimos passando…

Será que é necessário lembrar o quão desastrosa foi a condução do combate à COVID-19 em 2020, 21 e 22, pelo Governo Federal? A minimização da pandemia – “é só uma gripezinha”, lembram? As centenas de milhares de vidas perdidas? A falsificação de cartões de vacina e o sigilo de 100 anos? Ou o anúncio, há algumas semanas, pelo Governador do Estado e por alguns prefeitos, de que estariam dispensadas de vacina as crianças no início do ano letivo? Seguem negando a Ciência e negligenciando a saúde em Santa Catarina.

E, antes que me acusem de “ideologizar” ou “politizar” mais esse episódio lamentável, apresento-lhes outra notícia: “Segundo o secretário-adjunto de saúde, Diogo Demarchi Silva, apenas 17,5% do público-alvo, cerca de 5 mil crianças, receberam a vacina em uma semana nos 13 municípios de Santa Catarina que participam da campanha”

Bingo! Por qual razão pais e mães destas crianças e jovens estariam evitando levar filhas e filhos aos postos de saúde para garantir a imunização? A Pandemia da COVID-19, eu imaginava, teria de nos ensinar algo. Mas ao que parece algumas autoridades públicas não aprendem… pensam que likes e curtidas nas redes valem mais que a vida de seus eleitores e eleitoras.

Se ainda quiserem aprender como enfrentar tragédias como aquela que nos afetou entre 2020 e 2022, sugiro a leitura de “Fé eterna na Ciência: como a crença nos valores científicos permitiu à UFSC enfrentar e gerir a Pandemia da COVID-19 e salvar vidas”, lançado em dezembro do ano passado. Com seriedade, responsabilidade e coragem, a UFSC uniu-se ao que há de mais robusto em termos de conhecimento científico e superou os longos meses da pandemia.


Aureo Moraes é professor do Curso de Jornalismo da UFSC e foi Chefe do Gabinete dos reitores Luiz Carlos Cancellier e Ubaldo Cezar Balthazar entre 2016 e 2022

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