‘Precisei reaprender a viver’, diz viúva sobre morte de mergulhador em SC

O fim de uma extensa batalha judicial trouxe alívio para a família de Sandro José Erben Saes, o mergulhador que morreu durante uma vistoria aquática na Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. O acidente que resultou na morte do mergulhador em SC aconteceu em 2011, quando estrutura passava por reforma.

Mergulhador em SC morto durante vistoria em ponte - Homem branco com barba grisalha olhando para a foto segurando um bebê que está dormindo em seu colo

Mergulhador morreu durante vistoria na Ponte Hercílio Luz, em 2011 – Foto: Reprodução/ Redes Sociais/ ND

Caso da morte de mergulhador em SC virou ‘guerra jurídica’

Nesta semana, a Justiça reconheceu que a empresa tinha responsabilidade no acidente com o mergulhador em SC e concedeu direito indenizatório à viúva, Camila Acauan de Lima, a filha Valentina, e a enteada dele, Victória.

“Quando o advogado me ligou para dar a notícia disse que foi uma guerra jurídica. A empresa foi buscando todos os recursos e não foi encontrando nada”, diz Camila.

“Já tinha perdido as esperanças de tanto tempo que se passou”.

Trabalhador morreu por insuficiência respiratória

Saes e o também mergulhador, Marcelo Moura, foram contratados pelo CFM (Consórcio Florianópolis Monumento) para trabalhar na inspeção das obras na Ponte Hercílio Luz na época.

Estrutura da ponte Hercílio Luz em Florianópolis

Estrutura da ponte Hercílio Luz estava em reforma quando mergulhador em SC morreu (Imagem ilustrativa) – Foto: Cristiano Andujar/MPSC/Divulgação/ND

Em 19 de novembro de 2011 eles vistoriavam as estacas provisórias de sustentação da estrutura a 26 metros de profundidade. Ao retornar à superfície, Moura percebeu que o companheiro não voltou. Marcelo iniciou as buscas nos arredores, mas não conseguiu encontrar Sandro.

“Ele estava trabalhando há cerca de 15 dias na obra. Eu era comissária de bordo e estava afastada por conta da recente gravidez. Ele ia todos os dias inspecionar as estacas da ponte, contratado pelo consórcio. Ele descia e ficava 20 minutos mergulhando nessa profundidade”, relembra a viúva.

O corpo de Saes apareceu boiando a 10 metros da balsa que era utilizada como suporte.

“Por volta das 12h eu estava com a minha filha quando o telefone tocou… era o namorado dela perguntando se estava tudo bem. Ali eu vi que tinha acontecido alguma coisa”.

Conforme consta no processo, a corda que servia como cabo guia ao mergulhador estava cortada. A bainha da faca, que pode ter sido utilizada para o corte, foi encontrada vazia.

Além disso, segundo o documento, a empresa não providenciou a locação dos equipamentos mínimos necessários para o trabalho, como câmaras de descompressão, além de não ter informado à Marinha do Brasil sobre a presença de mergulhadores na ponte.

“Me levaram direto para o IML. Quando cheguei lá só tinha a carteira dele, as roupas e o celular. Eu queria ver porque não estava acreditando, mas não me deixaram fazer o reconhecimento”, lamenta Camila.

Mergulhador em SC que morreu em acidente durante obra de reforma em ponte - Homem branco careca abraçando mulher branca de cabelos pretos

Casal gaúcho vivia em Florianópolis com as filhas. Mergulhador morreu em 2011 – Foto: Redes Sociais/Reprodução/ND

Segundo laudo técnico elaborado pela DPC (Diretoria de Portos e Costas) da Marinha, o uso de equipamento inadequado agravou o quadro do acidente que causou a morte da vítima.

“Fiquei afastada do trabalho por dois anos, perdi a carteira de voo e não pude mais ser comissária. Um ano depois entrei na Justiça contra a empresa que contratou o Sandro, por vários motivos, inclusive pela morte dele durante o trabalho”.

O laudo aponta ainda que a morte do mergulhador em SC aconteceu por insuficiência respiratória aguda, resultante de afogamento.

Sandro teve o corpo velado em Florianópolis e, em seguida, o corpo foi encaminhado para o enterro em Pelotas, cidade natal do mergulhador.

“Fechei minha casa com tudo dentro e voltei para o Rio Grande do Sul. Acionei o INSS porque eu não tinha mais condições de voar e, durante um ano, tive que fazer tratamento psiquiátrico e tomar remédio para poder cuidar da minha filha pequena, que hoje está com 14 anos”.

Recomeços

Com a ausência do marido, a ex-comissária de bordo voltou para o Rio Grande do Sul e, atualmente, vive em Canoas com os pais. A cidade gaúcha foi uma das atingidas pela enchente causada pelas chuvas no RS.

“A companhia aérea me reabilitou em terra, então sigo há 12 anos trabalhando no aeroporto como agente aeroviária. Tive que aprender a viver com menos da metade do salário que tinha. Fiquei com uma pensão por morte de um salário mínimo. Precisei reaprender a viver”.

“Precisava disso para conseguir seguir em frente, precisava de uma finalização. Algumas coisas não têm recuperação. A falta que ele faz para ela [filha] não conseguimos suprir. Como ela me falou: ‘mãe, parece que hoje foi decretado que existiu um responsável’. Agora pelo menos eu vou dormir tranquila”, completa.

A decisão, em favor da família do mergulhador em SC, foi tomada pela 6ª Vara do Trabalho de Florianópolis e assinada pelo juiz Alexandre Luiz Ramos. A indenização é de R$ 200 mil por danos morais, além do pagamento de três salários mínimos pelos próximos 19 anos.

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