Terrorismo é mais comunicação do que guerra. Por Bruno Oliveira

Por Bruno Oliveira

Não há dúvidas de que Israel sofreu um ataque terrorista. Assim como não há dúvidas de que milhares de crianças e mulheres palestinas inocentes morreram por uma resposta de Israel. E, por favor, não tente culpar uma criança por ter “acobertado o Hamas”.

É como sair metralhando uma comunidade que vive sob o domínio do tráfico de drogas. “Eles estão acobertando o tráfico, mereciam”. E como você acha que deve agir uma comunidade dominada pelo tráfico? O Estado oferece alternativa, segurança, apoio?

Nós bem sabemos que a realidade é bem diferente. Tivemos um exemplo recente, com a retirada de tropas americanas do Afeganistão após 20 anos. A maioria dos afegãos que colaboraram com os americanos estão, agora, nas mãos do Talibã. Se é que sobrou alguém vivo.

Mas esse artigo não é sobre relações internacionais, meu conhecimento é bem limitado no assunto, especialmente sobre o conflito histórico da Faixa de Gaza. É sobre comunicação. E como o instrumento Terrorismo tem mais a ver com comunicação do que guerra.

Grupos terroristas não são capazes de destruir nações por meios convencionais: luta, armamento, bombas. São grupos extremistas limitados, muitas vezes financiados por algo maior mas, ainda assim, limitados. Al-Qaeda, por exemplo, jamais faria frente com o país mais poderoso do mundo, Estados Unidos. Mas fez. Como uma mosca com um poder muito limitado, mas com possibilidade de zumbir no ouvido de um touro e fazê-lo destruir tudo ao seu redor.

Ao atingir as torres gêmeas e matar milhares de americanos, a Al-Qaeda atingiu seu objetivo. Não o de ganhar uma guerra contra os EUA, isso era impossível. Mas o de provocar os americanos a ponto de eles gastarem bilhões de dólares com uma guerra no Oriente Médio por décadas. A ponto de incutir na cabeça da minha geração, em todo o mundo, o medo do terrorismo.

Mesmo sabendo que é muito mais provável morrermos de acidente de carro, diabetes ou infarto, do que em um ataque terrorista. Nos Estados Unidos, morrem todo ano milhares de americanos por obesidade, muito mais do que morreram nas torres gêmeas. Ainda assim, o investimento para combater esse mal não chega nem perto do investimento feito contra o terrorismo.

Este artigo não tem a função de trazer verdades nunca ditas. Apenas alertar sobre como direcionamos nossa energia e nosso medo. Imagine o que todas aquelas crianças que ainda estão vivas na Faixa de Gaza, vendo uma aniquilação de seu povo, se tornarão no futuro. Serão homens bem resolvidos ou futuros terroristas buscando vingança?


Bruno Oliveira é jornalista e secretário de comunicação da prefeitura de Florianópolis.

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