Presságio: Judoca de Florianópolis é citado como recebedor de propina e nega envolvimento

Anderson Pelézinho (Pelé), dono da academia Gracie Barra da Trindade, é citado em um dos áudios enviados por Renê Raul Justino,então diretor de projetos da Fundação Franklin Cascaes, como um dos recebedores de dinheiro de corrupção em Florianópolis.

Os áudios foram obtidos pela investigação da Polícia Civil de Santa Catarina no âmbito da Operação Presságio, deflagrada em janeiro deste ano na cidade. A ação investiga corrupção, lavagem de dinheiro e crimes ambientais, por exemplo, por parte de agentes públicos e privados da cidade.

De acordo com o áudio, Renê estaria conversando com um interlocutor do ramo de lutas sobre um evento realizado em 2022 em Florianópolis. Nele, Renê diz o seguinte sobre Pelé:

“Esse daí é aquele evento que o PELÉ tá, limpou oitenta pau pro ED, esse evento aí custou cento e sessenta pau! O PELÉ limpou oitenta pau pro ED, só que o PELÉ tinha alugado […], tinha feito blackdrop gigante, os caralho a quatro, tipo o PELÉ gastou uns 40 pau já nessa porra, sacou? E e uns 40 pau ele deve ter colocado no bolso ou menos até”, declara.

Ouça o áudio:

De acordo com a Polícia, a conversa foi feita entre Ed e o interlocutor em 9 de janeiro de 2023 e se refere a um evento de 2022.

A ONG citada na Presságio

Além da menção no áudio, Pelé é professor (e fundador) da ONG Associação Jiu-Jitsu Esporte e Cultura, que, juntamente com outras 70 Organizações Sociais, é citada pela Prefeitura de Florianópolis como “suspeita” após uma investigação interna do núcleo anticorrupção.

Segundo o portal da transparência de Florianópolis, que mostra os repasses municipais, o valor repassado para a entidade foi de R$ 688.560,00 em nove projetos, para serem executados entre 2022 e 2023. No momento, a prefeitura esclarece que não faz mais repasses para a entidade.

Questionado, Pelé disse que somente era professor da entidade e coordenador em eventos, mas não dono do local. No entanto, em seu instagram Anderson aparece como “fundador” da entidade.

Como explicação, Pelézinho confirmou fundar a organização,  porém que a “associação não é uma empresa e não tem dono”. E reforçou que há tempo não faz parte da diretoria.

Defesa dos envolvidos

A defesa de Renê Justino, feita por Alessandro Marcelo de Sousa, disse que seu cliente não se manifesta sobre o assunto e na época dos acessos não era mais ligado à secretaria.

Já Pelé, citado nos áudios, disse que o evento era totalmente gratuito e negou qualquer e disse que “foi levianamente citado por pessoas que dentro da modalidade tem diferenças com a minha pessoa”.

Confira a defesa completa:

O evento em questão citado na gravação foi realizado no ano de 2022 no Costão do Santinho pela Associação AJJESC a qual me contratou como coordenador geral devido minha qualificação técnica de 5º grau de faixa preta de Jiu-Jitsu. O evento consistiu em:

Competição para as crianças participantes dos projetos sociais apoiados pela Prefeitura Municipal de Florianópolis;

Workshop e treinamento com dois profissionais referências do Jiu-jitsu mundial para professores e treinadores da modalidade;

Este projeto foi totalmente gratuito de inscrições tanto para os competidores quanto para os professores e foi um verdadeiro sucesso.

A Associação organizadora prestou contas do recurso recebido com todas as notas fiscais e as devidas comprovações conforme plano de trabalho previamente aprovado pela Fundação Municipal de Esportes dentro da legalidade.

Fui levianamente citado por pessoas que dentro da modalidade têm diferenças com a minha pessoa pois trabalham de forma divergente da minha, o que dentro da modalidade é bastante comum acontecer.

Na gravação os envolvidos queriam encontrar uma forma de cobrar inscrições para realizar em 2023 o mesmo evento que coordenei no ano de 2022 realizado pela a AJJESC de forma gratuita para os participantes.Por fim, estou à inteira disposição para auxiliar a investigação da Polícia Civil no que for necessário, estando no aguardo da respectiva intimação, se for do entendimento da Autoridade Policial.

Já a defesa de Ed Pereira não se manifestou sobre este ocorrido em específico, mas disse na última quarta-feira (21) que “Tudo será esclarecido no momento oportuno”. Por enquanto, estamos no aguardo da finalização e apresentação dos laudos”.

Pedidos de afastamentos

• Edmilson Carlos Pereira Junior (ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis)
• Fabio Gomes Braga (ex-secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis)
• Samantha Santos Brose (esposa de Ed Pereira e ex-assessora parlamentar do vereador Marquinhos)

Quais os crimes investigados

• Crime ambiental de poluição
• Fraude à licitação
• Corrupção passiva e corrupção ativa
• Associação criminosa
• Lavagem de dinheiro

O que é a Operação Presságio

Em 2021 teve início a investigação, em virtude de crime ambiental de poluição que estaria ocorrendo pela empresa Amazon Fort em um terreno, adjacente à passarela Nego Quirido.

O contrato entre Amazon e Prefeitura de Florianópolis vigorou por 17 meses, sendo que R$ 29 milhões foi o total pago pela à empresa.

Com o andamento das investigações, a Polícia Civil encontrou indícios de outras ilegalidades em contratos públicos e repasses de dinheiro, envolvendo empresários, secretários de Florianópolis e servidores públicos, além de empresas e organizações, como a Amazon Fort e o Instituto Bem Possível.