O que é cólera, quais sintomas, prevenção e por que doença voltou ao Brasil após quase 20 anos

Um homem de 60 anos contraiu cólera em Salvador, mesmo sem ter viajado para outro país. Esse é o primeiro caso após quase 20 anos sem registros da doença no Brasil, ou seja, sem que a cólera tenha sido adquirida dentro do país, e não importada de outro lugar.

Cólera foi descoberta no Brasil após quase 20 anos

Cólera voltou aos holofotes no Brasil após quase 20 anos  – Foto: Reprodução/Freepik/ND

O Ministério da Saúde confirmou o caso e afirmou que não foram identificados outros registros após uma investigação epidemiológica realizada pelas equipes de saúde de Salvador, que contataram as pessoas que estiveram em contato com o paciente.

No Brasil, os últimos registros autóctones de cólera ocorreram em Pernambuco em 2004, com 21 ocorrências, e em 2005, com cinco casos confirmados.

Os números da OMS (Organização Mundial da Saúde) sugerem que o aumento de casos deve se manter. Atualmente, 24 países já confirmaram surtos de cólera em andamento, sendo que alguns deles enfrentam o que a OMS chama de “crises agudas” provocadas pela doença.

Mas afinal, o que é cólera?

De acordo com o manual MDS, usado por médicos em todo o mundo, a cólera é uma infecção aguda do intestino delgado causada pela bactéria Vibrio cholerae, que libera uma toxina provocando diarreia aquosa intensa, levando à desidratação, diminuição da produção de urina e colapso circulatório.

A infecção geralmente ocorre através de água ou frutos do mar contaminados. O diagnóstico é feito por cultura ou sorologia. O tratamento requer hidratação intensiva e reposição de eletrólitos, além do uso de doxiciclina.

Sintomas de cólera

A cólera tem um período de incubação de 1 a 3 dias. Ela pode se manifestar de forma leve, com uma diarreia discreta, ou de forma grave, podendo ser fatal.

Os sintomas geralmente começam rapidamente, com diarreia líquida e vômitos. Não é comum sentir náuseas. A diarreia pode ser intensa, levando à sede extrema, pouca produção de urina, cãibras musculares, fraqueza e pele enrugada.

A perda de água e eletrólitos pode causar desidratação grave, levando a problemas nos rins e colapso circulatório. A maioria das pessoas se recupera dentro de duas semanas, mas algumas podem se tornar portadoras crônicas da bactéria.

Tratamento da doença

Para tratar a cólera, é essencial repor os líquidos perdidos. Em casos leves, isso pode ser feito com soluções de reidratação oral. Já em casos graves, é necessária a reposição intravenosa com líquidos isotônicos.

Também é importante repor o potássio perdido, adicionando-o à solução intravenosa ou administrando-o por via oral.

Tratamento para a cólera varia de pessoa para pessoa

Tratamento para a cólera pode ser feito de diversas maneiras – Foto: Divulgação/Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

Após a fase de reidratação, a quantidade de líquidos reposta deve ser igual à quantidade perdida nas fezes.

A solução oral de glicose-eletrólito é eficaz e pode ser usada após a reidratação intravenosa inicial. Em casos graves, pode ser necessário o uso de sonda nasogástrica para administrar líquidos.

A escolha do antimicrobiano deve ser baseada na suscetibilidade da bactéria.

A doxiciclina é o tratamento de primeira linha para adultos e crianças. Se houver resistência à doxiciclina, podem ser usadas azitromicina ou ciprofloxacina.

As doses variam de acordo com a idade e a condição do paciente.

Por que a cólera voltou?

A resposta não é tão simples, mas passa por alguns caminhos. Doenças como febre tifóide, hepatite A, cólera, dengue, malária e gastroenterites estão diretamente ligadas ao acesso à água potável ou à falta de tratamento e esgotamento.

De acordo com relatório do Instituto Trata Brasil, a falta de acesso à água de qualidade afeta quase 35 milhões de pessoas no país e cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto, o que se reflete em problemas de saúde na população por doenças de veiculação hídrica.

“Essas doenças são causadas principalmente por micro-organismos, parasitas e vírus encontrados em água contaminada, especialmente aquela que não passou por tratamento adequado, e o próprio quadro atual de crescimento casos de dengue tem implicação da água”, explica a infectologista, Dra. Eliane Iokote , da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

Sem água tratada é possível pegar cólera

Falta de água tratada pode trazer risco de cólera para a população  – Foto: Reprodução/Unsplash/ND

Além disso, o acesso ao saneamento básico é importante para esse cenário.

De acordo com Sibylle Muller, CEO da NeoAcqua, empresa pioneira e especialista em economia verde a partir de sistemas de tratamento de água e esgoto, é importante buscar soluções que permitam atender os desafios do saneamento.

Como recurso vital para a sobrevivência, a água de boa qualidade tem papel fundamental na manutenção da saúde e bem-estar da população.

“Mesmo com poucos recursos, é possível tomar algumas medidas para purificar e fazer o consumo de água potável”, enfatiza a infectologista.

Entre as medidas mais eficazes estão:

  • Fervura da Água: ferver a água é um método eficaz para eliminar bactérias, vírus e parasitas presentes na água.
  • Desinfecção com Cloro: colocar de duas a quatro gotas de água sanitária (hipoclorito de sódio diluído a 2,5%) por litro de água, agitar bem e deixar a mistura descansar por meia hora.
  • Purificação com Iodo: o iodo líquido pode ser utilizado para matar agentes patogênicos na água. Basta adicionar quatro gotas de iodo para cada litro de água e deixar repousar por meia hora.
  • Utilização de filtros de água: utilizar sistemas de purificação de água por microfiltração, como os filtros comerciais que contêm materiais especiais como carvão ativado, cerâmica e outros para filtrar sedimentos, agentes patogênicos e poluentes da água.
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