Sete vezes sepultada: a história dos sepultamentos da heroína Anita Garibaldi, de Laguna

Sete vezes sepultada: a história dos sepultamentos da heroína Anita Garibaldi, de Laguna – Foto: Divulgação

Anita Garibaldi morreu no dia 4 de agosto de 1849, às 19h45, em uma fazenda na cidade de Mandriole, Itália. Possivelmente vítima de malária, deixou a vida com apenas 27 anos e grávida de seu quinto filho com Giuseppe. Entrou para a história como heroína de dois mundos: América e Europa, onde lutou tanto pela independência quanto pela unificação de territórios.

A morte de Anita, seu primeiro sepultamento e as lembranças de Giuseppe da companheira de vida e de batalhas são o ponto de partida do espetáculo épico “A Tomada de Laguna”.

Em uma combinação de teatro, musical e cinema, a superprodução apresenta ao público e ao ar livre, no Centro Histórico de Laguna, o romance guerreiro de Anita e Giuseppe Garibaldi e fatos históricos que marcaram o Sul do Brasil. As encenações ocorrem de 13 a 30 de março, já com ingressos à venda.

O ND Mais tem contado a história de vida e dos ideais da lagunense e do italiano, em uma série de conteúdos que prepara o público para o grande espetáculo. O capítulo anterior iniciou com a chegada do casal à Itália e teve fim com a morte da heroína.

Neste, você saberá por que Anita foi sepultada sete vezes e como terminou a luta pela unificação do território italiano. Confira!

Um corpo em disputa: os sete sepultamentos de Anita

Com medo de que o exército austríaco descobrisse a ajuda oferecida ao casal Garibaldi, o feitor da fazenda Fatoria Guiccioli, onde Anita morreu, pediu a dois trabalhadores que enterrassem o corpo da heroína em um local distante da sede da propriedade.

Anita foi, assim, sepultada pela primeira vez em uma cova rasa de um campo pastoril na cidade de Mandriole. Giuseppe, por sua vez, sequer pode participar da despedida de sua companheira. “Ele foi retirado às pressas do quarto momentos depois de ela falecer. Antes disso, pediu que dessem a ela um sepultamento digno”, conta Adilcio Cadorin, historiador e autor do roteiro original do espetáculo “A Tomada de Laguna”.

Enquanto Giuseppe fugia do exército austríaco e vivia em exílio, os restos mortais de Anita foram sepultados mais três vezes. Dias depois de ser mal enterrada no campo, uma menina que brincava pelo local viu uma mão descoberta pela terra.

Avisada, a polícia providenciou a exumação e a necropsia do corpo e confirmou se tratar de uma mulher grávida de cerca de seis meses. Até então o cadáver não tinha identidade e foi tido como o de uma “mulher desconhecida”, sepultada pela segunda vez, agora nos fundos da Capela de Mandriole.

Dias depois é que a polícia fez crer que o corpo era o da mulher de Giuseppe Garibaldi. Com receio de que soldados do Papa e do exército austríaco desenterrassem e sumissem com o cadáver de Anita, garibaldinos (soldados voluntários da tropa de Garibaldi) sequestraram os restos mortais da heroína e os sepultaram, pela terceira vez, em um local secreto.

Semanas se passaram, ainda no mesmo ano de 1849, até que o sequestro fosse descoberto e o vigário Francesco Burzatti prometesse sepultar os restos mortais de Anita no interior da Igreja de Santo Alberto, em Ravena, onde estariam seguros. Assim, a revolucionária de Laguna teve seu quarto sepultamento ao lado do altar do templo religioso.

Dez anos depois, a volta de Giuseppe, novos sepultamentos e uma nova Itália

Após voltar do exílio em 1859, Giuseppe Garibaldi quis sepultar Anita – pela quinta vez – na cidade de Nizza, junto à mãe dele. O revolucionário organizou então um cortejo à altura da heroína, incluindo paradas em diferentes localidades para que ela fosse homenageada.

“No caminho, Garibaldi foi fazendo uma incitação a um segundo levante (pela unificação da Itália)”, afirma Adilcio. Naquela época, a Itália seguia em luta pela unificação de seu território e já havia reconquistado boa parte dos reinos controlados pelos austríacos e pela Igreja Católica.

Com o seu retorno, Giuseppe se coloca novamente em batalha, liderando a tomada da Sicília e de Nápoles e participando de combates para o controle de Veneza e Roma. O levante pela unificação da Itália finalmente termina em 1871.

A formatação do país como o conhecemos hoje se dá depois da 1ª Guerra Mundial, em 1919, com a retomada de mais duas cidades. Giuseppe Garibaldi não chegou a ver a configuração final de sua Itália, assim como também não presenciou os dois últimos sepultamentos de Anita.

Anita Garibaldi morreu no dia 4 de agosto de 1849, às 19h45, em uma fazenda na cidade de Mandriole, Itália – Foto: Divulgação

O sexto deles foi em 1931, por solicitação de Mussolini. Como Nizza havia passado para o domínio da França – e se tornado a cidade de Nice -, o governante pediu o traslado dos restos mortais da heroína para o Cemitério Staglieno, de Gênova.

Em junho de 1932, Anita recebeu seu derradeiro e sétimo sepultamento. Seus restos mortais foram colocados em uma urna no interior de um monumento erguido em sua homenagem, em Roma.

Trata-se de uma estátua em bronze, obra do escultor Mario Rutelli com a colaboração de Silvestre Cuffaro, que representa o espírito da heroína. Anita está sobre um cavalo, cujas patas dianteiras estão erguidas, segurando seu primeiro filho no colo e empunhando uma arma em uma das mãos.

Apenas duas mulheres históricas são representadas em cima de cavalos galopantes – um tipo representação atribuída majoritariamente a homens heróis de guerra. Uma delas é Joana d’Arc. A outra é Anita Garibaldi.

Ingressos à venda para “A Tomada de Laguna”

O espetáculo “ A Tomada de Laguna” será apresentado nos dias 13, 14, 15, 16, 21, 22, 23, 28 e 30 de março, sempre às 19 horas, junto às docas do Mercado Público, no Centro Histórico de Laguna.

Os ingressos estão à venda pelo site https://tomadadelaguna.com.br/, onde é possível escolher as apresentações entre os dias 14 e 30 de março, já que o primeiro dia, 13, está reservado para uma ação solidária.

Apresentação teatral multimídia retrata a história da lagunense revolucionária Anita Garibaldi, o romance com o italiano Giuseppe e fatos que marcaram a história do Sul do Brasil – Foto: Singular Vídeo

As entradas também estão à venda em 23 pontos de 17 cidades do Sul de Santa Catarina e também do Rio Grande do Sul. Em Laguna, há dois locais: a Recanto Surf, na localidade de Mar Grosso, e a Loja Recanto, no Centro.

“A Tomada de Laguna” é uma realização do Instituto Cultural Anita Garibaldi (CulturAnita), com patrocínio da Celesc, via Programa de Incentivo à Cultura (PIC), e apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Cultura, Prefeitura de Laguna e Fundação Lagunense de Cultura.

Onde fica e como chegar em Laguna

Laguna está localizada na região Sul de Santa Catarina, distante cerca de 130 quilômetros de Florianópolis. O aeroporto mais próximo da cidade é o Jaguaruna, a cerca de 50 quilômetros. Para quem for viajar de carro, acompanhe abaixo as distâncias entre diferentes regiões de Santa Catarina a Laguna e as principais vias de acesso.

Distância de Joinville a Laguna: 282 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo caminho.

Distância de Blumenau a Laguna: 252 quilômetros, via BR-101. Há pedágio pelo caminho.

Distância de Florianópolis a Laguna: aproximadamente 130 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo percurso.

Distância de Criciúma a Laguna: cerca de 95 quilômetros, via BR-101.

Distância de Lages a Laguna: aproximadamente 240 quilômetros. Os principais acessos são pela SC-114 e SC-390.

Distância de Chapecó a Laguna: cerca de 575 quilômetros. O principal acesso no momento é pela BR-282.

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