Dono da Circle Fica Bilionário, Após Estreia na Bolsa de Nova York

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A Circle, empresa por trás da stablecoin USDC, avaliada em US$ 61 bilhões (R$ 340,38 bilhões), teve uma estreia estrondosa na Bolsa de Valores de Nova York na quinta-feira (5), tornando-se a primeira emissora de stablecoin a abrir capital e transformando o CEO e cofundador Jeremy Allaire em bilionário. As ações subiram até 235% depois que a empresa e alguns de seus acionistas levantaram quase US$ 1,1 bilhão (R$ 6,14 bilhões) em uma oferta pública inicial, que foi ampliada duas vezes devido à forte demanda dos investidores.

A ação da Circle abriu a US$ 69,00 (R$ 384,02), mais que o dobro do preço inicial de US$ 31,00 (R$ 172,48), e chegou a atingir US$ 103,75 (R$ 577,41). A oferta incluiu 34 milhões de ações da Circle e de outros acionistas, incluindo Jeremy Allaire, número superior às 32 milhões anunciadas no início da semana e às 24 milhões previstas inicialmente. O IPO foi precificado bem acima da faixa inicial de US$ 24,00 a US$ 26,00 (R$ 133,60 a R$ 144,98) e até mesmo da faixa revisada, entre US$ 27,00 e US$ 28,00 (R$ 150,27 e R$ 155,85).

Com base no preço da ação de US$ 86,00 (R$ 478,59), a Forbes estima que Jeremy Allaire tenha um patrimônio de pelo menos US$ 1,7 bilhão (R$ 9,49 bilhões). Um representante da Circle ainda não respondeu ao pedido de comentário sobre o valor do patrimônio de Allaire.

A BlackRock, que já era investidora, e a ARK Investment Management, de Cathie Wood, estão entre os compradores relatados. A operação foi liderada por JPMorgan Chase, Citigroup e Goldman Sachs, com o apoio de outros 12 coordenadores.

“Estamos muito satisfeitos com a demanda”, disse o CFO da Circle, Jeremy Fox-Geen, à Forbes. “Observamos interesse de um amplo espectro de investidores, desde fundos mútuos tradicionais até grupos de capital privado com convicção de longo prazo dentro do universo de hedge funds, além de diversos fundos soberanos. Acredito que isso mostra que a comunidade de investidores entende que estamos à beira, do que chamamos aqui, de novo sistema financeiro da internet.”

A abertura de capital da Circle marca, possivelmente, o evento mais relevante do mercado público cripto desde o IPO da Coinbase em 2021. Com sede em Nova York, a empresa é inteiramente focada em stablecoins: a USDC é a segunda maior stablecoin do mundo, com 27% do mercado, atrás apenas da Tether, que detém 67%. Embora tenha sido criada originalmente para negociações em cripto, as stablecoins vêm atraindo cada vez mais a atenção de gigantes do setor financeiro e empresas de tecnologia — entre elas, Fidelity Investments, Bank of America e Meta — como infraestrutura para pagamentos e transações internacionais.

Desde o lançamento da USDC em 2018, a Circle já processou mais de US$ 25 trilhões (R$ 139,50 trilhões) em volume de transações, sendo quase US$ 6 trilhões (R$ 33,48 trilhões) apenas no primeiro trimestre de 2025. A empresa se posiciona há anos como uma alternativa regulada e transparente à Tether, publicando relatórios auditados e detalhados sobre suas reservas.

Diversificação do modelo de negócios

Em 2024, a Circle registrou uma receita de US$ 1,68 bilhão (R$ 9,37 bilhões) e um lucro líquido de US$ 156 milhões (R$ 869,48 milhões), um crescimento em relação aos US$ 1,45 bilhão (R$ 8,09 bilhões) em receita e US$ 268 milhões (R$ 1,49 bilhão) em lucro obtidos no ano anterior. No entanto, seu modelo de negócios segue altamente concentrado: mais de 99% da receita veio de rendimentos gerados pelos juros sobre o dinheiro em caixa e os títulos do Tesouro que lastreiam a USDC. No documento S-1 enviado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), a Circle alertou que uma queda de 1 ponto percentual nas taxas de juros poderia eliminar US$ 441 milhões (R$ 2,46 bilhões) dessa receita.

Segundo Fox-Geen, a diversificação já começou. “Temos um conjunto de produtos nos quais começamos a gerar receita recentemente, que vão desde assinaturas e serviços, como nossas parcerias com redes blockchain, até receitas transacionais, nas quais monetizamos certos fluxos, dentro da rede, quando os usuários desejam utilizar algum serviço com valor agregado pelo qual estão dispostos a pagar.” Essas iniciativas geraram US$ 20,7 milhões (R$ 115,35 milhões) no primeiro trimestre. Por enquanto, o valor ainda é modesto, mas está crescendo rapidamente, observou ele.

O modelo de distribuição da empresa, no entanto, continua custoso. Em 2024, a Circle pagou mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,58 bilhões) em taxas de distribuição — sendo US$ 900 milhões (R$ 5,02 bilhões) destinados à Coinbase. A Tether, por outro lado, não paga distribuidores para manter sua posição dominante.

Roteiro até a bolsas

O caminho até os mercados públicos não foi linear. A Circle cancelou uma fusão via SPAC de US$ 9 bilhões (R$ 50,22 bilhões) no final de 2022. Em 2023, a empresa foi afetada pelo colapso do Silicon Valley Bank, onde havia depositado parte de suas reservas. Embora tenha conseguido recuperar os fundos, a capitalização de mercado da USDC levou meses para se recuperar.

Em abril, a Circle teria recebido propostas de aquisição tanto da Coinbase quanto da Ripple, avaliando a empresa em torno de US$ 5 bilhões (R$ 27,9 bilhões). No entanto, optou por abrir capital, apresentando confidencialmente o pedido de IPO no início deste ano. A decisão provavelmente reflete uma aposta de que a tão esperada clareza regulatória está próxima — e que, com ela, virá um prêmio por conformidade.“Nos tornar uma empresa de capital aberto sempre fez parte da nossa estratégia”, afirmou Fox-Geen. “Estamos falando de uma transformação que levará décadas na infraestrutura da indústria de serviços financeiros, mas isso nem chega a expressar o quão profundo é esse salto tecnológico.”

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