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Quando Elon Musk apareceu na Casa Branca na semana passada, durante uma cerimônia com o presidente Donald Trump que marcou o fim de sua polêmica atuação à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), voltada para cortes de empregos, ele exibiu um hematoma no olho direito e disse que foi causado por seu filho pequeno, X. Esse olho roxo literal vai sarar, mas os “olhos roxos” simbólicos que a Tesla e a reputação de Musk vêm sofrendo por causa de suas atividades políticas provavelmente vão demorar a desaparecer.
Alguns dos maiores acionistas da Tesla — incluindo sindicatos como a Federação Americana de Professores, cujos 1,8 milhão de membros participam de fundos de pensão com US$ 4 trilhões em ativos sob gestão (R$ 22,32 trilhões), sendo US$ 8,8 bilhões (R$ 49,1 bilhões) em ações da Tesla — apontam um principal culpado: o conselho da montadora de carros elétricos.
“A população não gosta do Elon Musk”, disse a presidente da Federação Americana de Professores (AFT), Randi Weingarten, à Forbes. “Nos últimos meses, temos defendido a seguinte posição: ‘façam o trabalho de vocês, membros do conselho. Façam o trabalho de vocês, setor financeiro. Cumpram o papel que cabe a vocês, que é o de garantir a governança da Tesla’. Garantam que ele esteja presente ou escolham outro CEO”, completou.
Ele e o sindicato dos professores têm pressionado os responsáveis fiduciários que administram grandes fundos de pensão estaduais e municipais, além de empresas de investimento como BlackRock, Fidelity, Vanguard, T. Rowe Price e TIAA, a reavaliar suas participações na Tesla. A marcação acirrada também está sobre o conselho, para que mude sua postura.
“Não queremos que a Tesla fracasse, porque se isso acontecer, muitos aposentados vão perder muito dinheiro nos seus portfólios”, afirmou Weingarten. Ela acrescentou: “se é para manter o Musk no cargo, então garantam que ele esteja lá. Não deixem que ele fique envolvido em outras atividades paralelas. Garantam que ele esteja lá ou escolham outro CEO”, declarou a presidente da AFT.
Em abril, nove tesoureiros e controladores estaduais enviaram uma carta à presidente do conselho da Tesla, Robyn Denholm, expressando preocupação com os riscos que suas economias podem enfrentar caso a empresa enfraqueça por conta de falhas na governança. “Nenhum outro CEO de empresa de capital aberto teria permissão para negligenciar suas funções diárias como o Musk faz. Sem exceção”, afirmou o tesoureiro de Illinois, Michael Frerichs, um dos signatários da carta. “E se tivessem se envolvido em atividades pessoais que prejudicassem a reputação de uma empresa ou marca dessa forma, seriam tratados como ele foi?”
O CalPERS, maior fundo de pensão dos Estados Unidos e representante dos servidores públicos da Califórnia, não fez comentários específicos sobre a Tesla e afirmou que seus investimentos “são orientados por índices e otimizados com base em estratégias sistemáticas e quantitativas, não guiadas por eventos pontuais”. No entanto, o fundo vendeu 4,5 milhões de ações da Tesla no terceiro trimestre de 2024. Em seu último relatório anual, o fundo informava ter cerca de 9,4 milhões de ações da Tesla, uma participação avaliada em US$ 3,2 bilhões (R$ 17,8 bilhões) em 3 de junho.
As ações da Tesla caíram 2,9% na quarta-feira (4), para US$ 332,05 (R$ 1.852). No acumulado do ano, os papéis da empresa já recuaram cerca de 18%.
Conciliando funções
Há anos, Musk divide seu tempo como CEO da Tesla com cargos de liderança em outras empresas, como SpaceX, X (antigo Twitter), The Boring Company, Neuralink e xAI. No entanto, sua função durante o governo Trump teve um impacto particularmente negativo para a marca, gerando protestos em lojas da Tesla e atos de vandalismo contra veículos e instalações da empresa.
Uma pesquisa conduzida no mês passado pela GBAO, empresa de consultoria sediada em Washington, revelou que 55% dos 2 mil americanos entrevistados têm uma visão negativa de Musk, enquanto a Tesla apareceu como a marca menos apreciada entre os participantes que têm ou consideram adquirir um carro elétrico. O dado mais relevante: 51% dos participantes da pesquisa disseram que veriam a Tesla com melhores olhos se o homem mais rico do mundo deixasse o cargo de CEO.
“Se você observar como as percepções sobre o Musk e a marca mudaram entre o público-alvo, parece irreversível. Os números dele são péssimos, disse Margie Omero, diretora da GBAO.
Musk afirmou que se afastou das funções relacionadas ao DOGE e, nas últimas semanas, as ações da Tesla reagiram, subindo mais de 50% desde 21 de abril, em uma demonstração de que muitos investidores estão esperançosos de que ele volte a se dedicar mais à liderança da empresa — especialmente agora, com o lançamento do programa piloto de robotáxis previsto para este mês em Austin. Ele também deu sinais de distanciamento em relação a Trump, principalmente após o rompimento público entre os dois.
Na terça-feira (3), chamou o “grande e belo plano” do presidente americano, Donald Trump, de “aberração nojenta”, criticando o aumento expressivo do déficit federal.
Reputação comprometida
“A marca da Tesla sofreu muito junto com a imagem do Elon Musk — de certa forma, as duas estão entrelaçadas”, disse Brooke Lierman, controladora do estado de Maryland e uma das signatárias da carta enviada em abril à presidente do conselho, Robyn Denholm. Atualmente, a Agência de Aposentadoria do Estado de Maryland tem cerca de US$ 175 milhões (R$ 977,5 milhões) investidos na Tesla por meio de fundos agrupados.
“Como alguém que acompanha de perto o retorno da nossa carteira de aposentadoria e os investimentos, estou sempre buscando garantir que os recursos dos nossos aposentados — conquistados com muito esforço — estejam aplicados de forma inteligente e em empresas administradas por conselhos confiáveis, que adotem práticas empresariais responsáveis”, afirmou Lierman.
O comportamento de Musk e seus comentários sem filtro sobre questões sociais já se estendem há anos — desde a falsa alegação, em 2018, de que teria garantido financiamento para tornar a Tesla uma empresa de capital fechado. No mesmo ano, ele chamou um crítico de “cara pedófilo” e precisou se defender na Justiça em um processo por difamação. Em 2020, durante uma teleconferência de resultados, teve um surto e chamou as regras emergenciais de saúde pública no início da pandemia de covid-19 de “fascistas”.
Denholm, não respondeu aos pedidos de comentário. Já Weingarten, Frerichs e Lierman disseram que não tiveram qualquer retorno por parte do conselho em resposta às cartas que enviaram. Weingarten afirmou que a AFT está considerando uma possível ação judicial contra o conselho da Tesla, embora ainda não tenha tomado uma decisão final sobre o assunto.“Musk causou um enorme prejuízo à marca e à reputação da Tesla”, disse ela. “Se os conselhos não fizerem seu trabalho, os fundos de pensão externos — incluindo aqueles que os defendem — vão tentar forçar esses conselhos a cumprir suas obrigações.”
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