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O autoabandono nem sempre é óbvio. Na maioria das vezes, ele aparece nas pequenas formas do dia a dia em que você compromete suas próprias necessidades em nome de manter a paz. Às vezes, pode parecer apenas que você é “tranquilo” ou “fácil de lidar”. Você pode até se orgulhar de como se adapta bem a todos ao seu redor.
Embora ser adaptável seja uma força, existe uma diferença entre flexibilidade e perder o contato com sua voz interior.
O que você pode realmente estar fazendo é se ajustando à conveniência dos outros. Claro, isso pode fazer com que as pessoas gostem de você, mas como isso faz você se sentir? Você, inconscientemente, nega suas próprias necessidades e, ao começar a aceitar isso como normal, torna-se difícil reconhecer onde estão seus limites, ou mesmo como defini-los.
Com o passar do tempo, essa falta de clareza nos limites pode fazer com que você se sinta exausto ou sobrecarregado e sem saber o que realmente quer ou precisa.
É possível que você até perca de vista o que deseja e ache difícil se posicionar, porque não se deu a chance de considerar honestamente suas próprias necessidades, sem constantemente compará-las com os desejos dos outros.
Você pode estar se comportando dessa forma de maneira inocente, sem perceber o impacto que isso tem na sua autoestima. Pelo bem do seu relacionamento consigo mesmo, e para evitar ressentimentos futuros com os outros, vale a pena prestar atenção a isso.
No fim das contas, a maneira como você se relaciona consigo mesmo define o tom de todos os outros relacionamentos da sua vida.
Aqui estão duas formas de como você pode estar se abandonando sem perceber:
1. Quando ser necessário parece o único jeito de ser amado
É importante estar presente para as pessoas que você ama. No entanto, isso não deve vir ao custo do seu próprio bem-estar. Estar presente para alguém não significa constantemente deixar suas próprias necessidades de lado.
Às vezes, o que parece cuidado por fora na verdade vem de um lugar de medo ou pressão interna. Você pode ter internalizado a ideia de que só é amável quando é útil.
Essa crença distorcida pode fazer com que você meça seu valor com base no que faz pelos outros, e não em quem você é. Esse padrão pode, aos poucos, corroer sua autoconfiança e sua sensação de segurança emocional nos relacionamentos.
Por isso vale a pena refletir:
“Estou oferecendo isso a partir de uma conexão genuína ou de uma necessidade de ser necessário?”
Um estudo de 2022 desenvolveu uma nova escala para medir a “centralidade no outro”, a tendência de priorizar os interesses dos outros de forma saudável e equilibrada.
Em vez da “comunhão desmedida” (quando você se coloca em último lugar e sacrifica sua felicidade), a centralidade no outro parte da ideia de que as necessidades de todos são igualmente valiosas e que as conexões interpessoais importam profundamente.
Os pesquisadores descobriram que a centralidade no outro estava associada a maior bem-estar, enquanto a interação exagerada e o foco excessivo no outro estavam ligados a mais efeitos negativos na saúde mental.
Ou seja: quem cuida dos outros e também valoriza a si mesmo experimenta melhor saúde emocional.
Os resultados sugerem que dar sem consciência ou sem limites pode ser uma forma de autoabandono, mesmo que isso não pareça à primeira vista.
Lembre-se: o motivo e a forma como você dá são importantes. Dar a partir de conexão genuína e respeito mútuo promove bem-estar. Por outro lado, quando o ato de doar vem do medo da rejeição ou da necessidade de agradar, leva ao esgotamento e à baixa autoestima.
Uma maneira de começar a trazer consciência para o padrão de doar em excesso é interromper o impulso com uma pergunta. Dê uma pausa intencional antes de dizer “sim”.
Pergunte-se: “Eu ainda escolheria isso se acreditasse que meu valor não está ligado a ser necessário?”
Esse pequeno check-in pode ser um passo poderoso para se reconectar com seus limites e se lembrar de que o amor não precisa ser conquistado através do excesso.
Você precisa se lembrar, constantemente, de que é mais do que aquilo que oferece. Quem realmente se importa com você vai te amar mesmo quando você não estiver resolvendo algo, ajudando ou trazendo algo em troca.
2. Quando você se diminui para não ser “demais”
Em muitas situações, você pode achar que está apenas sendo “flexível”, como dizer “sim” para planos que não tem vontade de cumprir ou concordar com escolhas que não combinam com você, só para manter a harmonia no grupo.
Porém, à medida que isso se torna um hábito, sem perceber, você se ensina a não ter opiniões próprias. Isso pode até deixá-lo indeciso, porque você não se dá o espaço para pensar, expressar o que sente, quer ou prefere.
Esse padrão não afeta apenas a forma como você se relaciona consigo mesmo, mas também molda as expectativas dos outros em relação a você.
Uma pesquisa publicada na revista Basic and Applied Social Psychology investigou como as pessoas reagem ao perceber os outros como egoístas, mesmo quando isso não as afeta diretamente.
Os participantes completaram uma tarefa chata atribuída por outra pessoa, que deu diferentes justificativas (egoísta, legítima ou evasiva). A percepção de egoísmo gerou reações negativas, mesmo que o resultado não mudasse em nada para o participante.
Ou seja, as pessoas são sensíveis ao que percebem como egoísmo, mesmo que isso não tenha impacto prático.
Se você sempre foi aquela pessoa confiável, que diz “sim” para tudo, quando começa a se escolher e a dizer “não”, isso pode desestabilizar as pessoas ao seu redor. Não porque elas estejam certas, mas porque o padrão mudou.
Você pode ter ensinado, sem perceber, que suas preferências não existem. Nem sempre é que os outros estejam te ignorando intencionalmente, mas se eles são mais assertivos e você sempre se cala, com o tempo, sua voz desaparece da equação.
Para mudar esse padrão, comece pequeno. Você não precisa de um confronto dramático para recuperar sua voz. Só precisa lembrar a si mesmo (e aos outros) de que ela existe.
Pequenos atos de autoexpressão, como opinar sobre onde comer, dizer quando algo te incomoda ou simplesmente dizer “prefiro não”, são passos poderosos para aprender a se escolher.
Cada vez que você escolhe expressar sua verdade, por menor que seja, você reconstrói a confiança em si mesmo.
Lembre-se: não é egoísmo respeitar a si mesmo e suas necessidades. Na verdade, é essencial.
Reaprendendo a se amar
Muitas vezes, o que chamamos de amor-próprio está mais ligado a cuidados superficiais. Embora isso tenha seu valor, amar a si mesmo de verdade é mais profundo. É escolher a si mesmo nos momentos desconfortáveis, estranhos ou até dolorosos.
Dizer “não” quando você quer é um ato de amor-próprio: é honrar o que sente e se manter firme nisso.
E está tudo bem se isso for difícil para você. Para muitas pessoas, colocar os outros em primeiro lugar não é só um hábito, é sobrevivência. Talvez você tenha aprendido desde cedo que ser flexível mantinha a paz ou que ser prestativo te fazia sentir seguro e valorizado. Esses padrões foram a sua forma de pertencer, se conectar e buscar segurança.
Mas esse jeito de viver, que um dia te protegeu, pode já não ser mais necessário. Você tem o direito de superar padrões que já não te servem mais.
A forma como você se trata ensina ao mundo como devem te tratar. Você tem o direito de ser alguém que não apenas oferece amor, mas que também o recebe.
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