Influenciada por revistas de moda, moradora de Brusque relembra trajetória de mais de 40 anos na costura

Costura

Vaneide Rosa de Jesus, de 62 anos, moradora do bairro Paquetá, é costureira de amostras na empresa Warusky, localizada no bairro Jardim Maluche. Ao jornal O Município, ela relembra como foi abraçar a profissão ainda quando adolescente. Agora avó, conta as experiências que a costura lhe trouxe.

Natural do interior de São Paulo, mas registrada na Bahia, ela costura desde os 14 anos. Vaneide é avó de quatro netos: três meninos e uma menina, além de mãe de três, sendo dois homens e uma mulher.

Para ela, trabalhar com a máquina de costura era um sonho desde pequena, e que começou dentro de casa enquanto via as roupas das modelos nas revistas, durante a adolescência.

“Minha mãe costurava, não era costureira de fábrica, mas costurava pra gente. Aí eu falava, ‘mãe, eu quero um vestido assim, assim e assim’, eu mostrava a revista. ‘Faz pra mim?’ Ela fazia, mas aí uma época, eu comprei o pano e falei que eu queria um vestido de bolinha bem rodado. Aí ela falou: ‘então você vai fazer, eu vou cortar e você vai fazer’.”

Nos primeiros momentos, a mãe cortava e apontava onde a costura deveria ser feita. “Quando não dava certo, eu xingava, largava e ficava brava, depois me acalmava e voltava a fazer”. E assim seguiu aprendendo.

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Primeiro vestido feito por Vaneide tinha cor branca com bolinhas vermelhas | Vitor Souza/O Município

Primeiro vestido

A partir disso, pedir a confecção de vestidos para mãe não adiantava mais, pois era Vaneide quem colocava a mão nas peças. O primeiro vestido feito por ela seguiu da mesma forma, ela mostrava o que queria, a mãe cortava, mas Vaneide quem costurava.

Para ela, foi um de seus momentos mais marcantes. Foi um vestido de cor branca com bolinhas vermelhas. “Ele era bem godê, cheio de tirinha cruzada, então deu certo para mim. Foi uma maravilha”.

Primeiro trabalho na costura

Vaneide começou a costurar para fábricas com 16 anos. Ela pontua que passou a encarar a profissão de vez a partir dos 17. “O que pagava mais era o setor da costura, né, e eu já queria ser costureira de verdade”, conta em tom de brincadeira.

A primeira empresa na qual Vaneide iniciou os serviços como costureira foi em uma fábrica de calcinhas localizada em uma área comercial do bairro Bom Retiro, na capital paulista. Porém, atuava como arrematadeira.

“Eu via as meninas trabalhando nas máquinas, na produção, eu achava bonito elas costuraram, eu queria aprender, queria trabalhar naquelas máquinas industriais, eu ficava curiosa”.

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Na Warusky, Vaneide trabalha com costura de amostras | Vitor Souza/O Município

Foi durante um outro dia de trabalho que uma das profissionais perguntou se ela tinha interesse em aprender. Vaneide confirmou sem exitar. As aulas aconteciam sempre nos intervalos do trabalho. “Meu patrão viu que eu estava interessada também, aí arrumou uma máquina e me pôs pra aprender”. Quando enjoava da costura, ela voltava para o serviço manual.

Foi neste momento que a profissão de costureira passou a ser levada a sério. Desde então, peças de todos os tipos já passaram pela mão de Vaneide.

Após sair da empresa onde aprendeu a costurar, procurou outra, mas conta que não ficou por muito tempo. “Não era nada de costura, mas não ficava nem um mês. Eu não gostava, eu saia”.

Hoje, em Brusque, trabalha na Warusky há mais de 18 anos. Além dos serviços na empresa, Vaneide possui uma facção junto com a filha, no bairro Paquetá. A empresa foi montada logo na chegada da família em Brusque, há 25 anos, após deixarem o estado de São Paulo. Em casa, elas produzem roupas infantis.

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Vaneide trabalha na Warusky há mais de 18 anos | Vitor Souza/O Município

Costura de mãe para filha

A paixão pela costura não passou naturalmente de mãe para filha, mas sim por conta de outras obrigações familiares que a Vanessa, filha de Vaneide, decidiu costurar.

A neta de Vaneide era pequena e ainda frequentava a creche, nessa época, ficava praticamente o dia todo na local, enquanto isso, a mãe podia trabalhar e estudar, até que ela foi crescendo e então chegou o período de ir para a escolinha, que opera somente em meio período. A partir disso, Vanessa decidiu abdicar do trabalho por não querer deixar os cuidados da filha sob responsabilidade de outra pessoa, e assim pediu à mãe que a ensinasse a costurar para que pudesse trabalhar de casa e cuidar da filha ao mesmo tempo.

“Ela aprendeu não porque ela amava costurar. Ela gosta de moda, ela estava cursando Design de Moda, depois parou a faculdade e voltou fazendo outras coisas, mas continuou costurando”. Apesar de formada em duas graduações, a filha não seguiu na área e continuou trabalhando como costureira.

“Eu estranhei quando ela quis aprender. Eu sempre tive facção em casa, mas eles nem entravam na facção, eles nem vinham mexer com nada. Ela estudava, cuidava da casa para mim, depois começou a trabalhar, mas continuava estudando. Eu não imaginava que ela iria querer aprender a costurar, porque ela nunca se interessou em vir pra máquina, ela veio aprender por necessidade, porque precisava de algo que permitisse trabalhar de casa para cuidar da filha. Não é que ela ama ser costureira, ela costura porque agora é o que ela faz”.

Fios de linha na empresa Warusky | Vitor Souza/O Município

Reconhecimento das peças

Da mesma forma que Vaneide pediu peças para a mãe na infância, hoje é ela quem recebe os pedidos dos filhos e netos. “Faço roupa para minha filha, para minha neta e netos, sempre quando tem algum evento que eles querem uma roupa, a gente se vira pra fazer”, conta.

“Eu gosto de fazer o que eu faço. Eu gosto tanto de costura que além de trabalhar na Warusky, eu trabalho em casa. Eu gosto de ver que deu certo e que as pessoas usam”, enfatiza. E completa ressaltando a felicidade de ver peças feitas por ela em grandes lojas. “Às vezes você vai numa loja, vai na C&A, vai na Havan mesmo, e chega lá e vê uma roupa… ‘ah, essa roupa foi eu que fiz’. É legal. Eu costurei, a gente costura isso”.

Dos pedidos de conhecidos, ela relata que em algumas produções sente um frio na barriga antes de produzir. O medo bate quando envolve confecção de roupas para formaturas. “Eu vou fazendo, aí fico ‘ai meu Deus’, dá até um friozinho na barriga, ‘será que vai dar certo?’ Mas, depois, quando você vê pronto, elas lá na formatura, tirando foto, aí fico feliz de ver”.

Dos materiais que já costurou, Vaneide diz que o que menos gostou foi a produção de paletós. “Eu gosto mais dessas modinhas que sempre estão mudando, não é sempre a mesmice, eu gosto de fazer sempre coisas diferentes”, ressalta.

Colegas de trabalho disseram admirar trajetória e personalidade de Vaneide | Vitor Souza/O Município

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Desenvolvedor de Guiné-Bissau, na África, conheceu Brusque após contato no LinkedIn:
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