Cultura literária: como os últimos sebos de Brusque se adequam às novas tecnologias e mantêm leitores fiéis

sebos de Brusque

Com diversas opções on-line para leitura, a compra de livros físicos tem se tornado cada vez mais rara, e muitos leitores têm doado suas bibliotecas. Nesse cenário, os últimos sebos ainda em atividade em Brusque se adequaram à nova era digital e mantiveram aficionados por literatura.

Um deles é o Sebo do Chico, localizado no bairro Jardim Maluche. O negócio começou em 2019, quando o casal Shirlei e André Rubik iniciou vendas on-line de livros, com o sonho de ter uma livraria.

Por ter um estoque pequeno, a escolha de vender pela internet foi a melhor opção. Porém, com o passar do tempo, a biblioteca do sebo foi crescendo e o público aumentando. Diante da procura, eles passaram a utilizar um espaço vago no terreno, uma casinha charmosa no meio do jardim.

“Sempre pensei que, para um negócio dar certo, você tem que amar o que faz. Começamos vendendo os livros da nossa estante mesmo, depois começamos a comprar, trocar e a receber doações. No começo, o pessoal procurava mais a troca de livros. Depois, as vendas começaram a aumentar à medida que o nosso acervo se atualizava”, conta.

Shirlei conta que, naquela época, o público que interagia com eles era formado por jovens entre 16 e 20 anos, pois o casal frequentava muitas feiras para divulgar o trabalho. Atualmente, não há mais um padrão, o público se estende dos 20 até os 50 anos.

Relação com os livros

Com uma infinidade de gêneros e autores, sempre há espaço para que cada novo leitor se encontre em uma biblioteca. Apesar disso, há alguns títulos que sempre estão entre os mais procurados.

No Sebo do Chico, a lista gira entre os livros da coleção Harry Potter, romances (como Os Bridgertons, da escritora Julia Quinn), livros de fantasia (como Trono de Vidro, da escritora Sarah J. Maas) e livros sobre inteligência emocional, como os de Napoleon Hill e Daniel Goleman.

Um momento que Shirlei lembra com emoção foi quando uma adolescente foi até uma feira em que o casal participava apenas para dar um abraço nela. A jovem acompanhava o sebo nas redes sociais e nutria um carinho pelos dois.

“Ela disse que gostava muito de ler e de assistir sempre aos vídeos que eu postava no Instagram. Isso nos mostra que estamos no caminho certo, porque não é sobre vender livros, é sobre alimentar sonhos e fantasias, mostrar que há todo um mundo de magia por trás das páginas dos livros”, conta.

O Sebo do Chico. Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo com diversas tecnologias para leitura, ela afirma que grande parte do público ainda é fiel aos livros físicos e que, depois de lerem on-line, buscam tê-los na estante de casa.

“Há também os leitores que amam cheirar livros e os que não dispensam o contato físico com as páginas e a apreciação da beleza das capas”, diz.

Porém, há um outro lado nessa história. Apesar de a internet ter sido uma grande aliada para pequenos negócios divulgarem seus trabalhos, ela também prejudicou várias livrarias e sebos físicos, que acabaram perdendo clientes por questões de preço ou pela comodidade de comprar sem sair de casa.

Hoje, eles focam nas vendas on-line ou no atendimento presencial previamente agendado, já que ambos trabalham em horário comercial e têm uma agenda extremamente apertada.

Livros pela cidade

Para fomentar o público leitor, o casal costuma “esquecer” livros pela cidade, para que as pessoas os encontrem e leiam. No âmbito social, também fazem doações para instituições que os procuram com projetos como o cantinho da leitura. Ocasionalmente, realizam promoções de livros cujos valores arrecadados são revertidos para a causa animal em Brusque.

“O sebo sempre foi mais um hobby, uma atividade que exercemos com muito amor e carinho nas horas vagas. Uma forma de compartilhar nosso amor pelos livros. A cada dia que passa, conquistamos mais clientes ao longo do Brasil todo. Nosso diferencial é a entrega sem custo dentro de Brusque e o ‘envio módico’ pelo correio, que é uma categoria específica para o envio de livros, o que torna o custo muito mais barato, já que é calculado pelo peso e não pelo CEP”.

Parte do acervo do Sebo do Chico. Foto: Arquivo Pessoal

Shirlei conta que a grande dificuldade em manter uma loja física é a relação custo-benefício, já que os custos são cada vez mais altos e os ganhos, cada vez mais incertos, devido à concorrência crescente dos sites e plataformas de vendas on-line. Mas, mesmo assim, não perde a esperança de reconquistar os leitores do município.

“Nós acreditamos que há espaço, sim, para a volta dos sebos em Brusque. Temos muitos leitores ativos, de todas as idades, e essa nova geração que vem aí, por incrível que pareça, ainda ama ler”, finaliza.

Início do sebo em Guabiruba

Outro sebo que também mantém a tradição é o Só Acredito Lendo, localizado no bairro São Luiz. Atualmente administrado pela professora de artes Zafia Moreira, o sebo começou em 2017 com a mãe dela, Márcia Moreira, no Centro de Guabiruba. Ela conta que a mãe era apaixonada por livros e que herdou esse interesse dela.

“Minha mãe também era professora, mas de química, e sempre foi mais apaixonada por livros do que eu. Ela abriu uma conta nas redes sociais e começou a participar de feiras, principalmente nas escolas, e também dos mercados de pulga”, conta.

Naquela época, havia muitos livros em quadrinhos e um público formado, em sua maioria, por adolescentes e jovens adultos. Então, com a chegada da pandemia da Covid-19, Zafia voltou a morar em Guabiruba. Com a mudança, passou a cuidar das redes do sebo e a divulgar o trabalho.

“A gente foi conversando e unindo ideias. Sempre trabalhei com produção cultural e eu falei para ela: o sebo tem tudo a ver com esse espaço cultural. Então começamos a trabalhar juntas”, conta.

Porém, naquela época ainda afetada pela pandemia, elas decidiram que seria melhor alugar um espaço em Brusque para manter o sebo, já que, em Guabiruba, pagavam dois aluguéis: um para o sebo e outro para a casa.

O sebo Só Acredito Lendo. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Mudança para Brusque e novos públicos

Já em Brusque, o sebo se mudou para perto do Tiro de Guerra, também no São Luiz. Depois de um ano, elas mudaram novamente de endereço, mas no mesmo bairro. Na cidade vizinha, o sebo era composto por cerca de 200 livros, mas, com o tempo e novas doações chegando, a biblioteca foi aumentando.

Com a participação de Zafia no sebo, além das atividades nas redes sociais, um público mais jovem foi conhecendo o negócio. Com diversos títulos de gêneros diferentes, a faixa etária do sebo varia de 15 a 60 anos.

“Quando eu entrei no sebo, trouxe outro perfil, com assuntos de sociologia, filosofia e artes. Então nós somamos os dois públicos. Tem uma senhora de 60 anos que lê muito e sempre vem até aqui trocar seus livros. Hoje o sebo se tornou um espaço para amizades. Temos um clube do livro que também agrega nesse sentido”, conta.

Zafia Moreira com livros do sebo Só Acredito Lendo. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Uma história marcante para Zafia foi com uma cliente adolescente que enfrentou um câncer. Nesse período da doença, ela e a menina ficaram próximas e se tornaram amigas.

“Foi muito impactante, porque eu gosto muito de adolescentes e, ainda mais em uma situação como essa, nos conectamos. Eu ia visitá-la, levei livros e, com isso, criamos uma conexão bem profunda”, diz.

Com as vendas se concretizando e o sebo ganhando notoriedade, Zafia passou por um momento difícil em dezembro de 2024, quando sua mãe faleceu. Depois desse período, ela chegou a ficar alguns meses afastada do negócio. Agora, retorna ao sebo e tem planos de realizar diversas ações culturais.

“Eu achei que ia fechar o sebo. Fiquei parada até junho, acreditando que não iria mais voltar. Mas acabamos passando por vários processos e, agora, vejo que existe bastante coisa pela frente”, diz.

Tradição se mantém com as redes sociais

Zafia conta que as pessoas mais velhas acabam chegando ao sebo por caminhos diferentes dos jovens, que conhecem o local pelas redes sociais. Ela relata que vende muitos livros on-line, pois os leitores gostam de comprar do conforto de casa. Porém, há muitos clientes que usam as tecnologias de leitura e, depois de ler um título, vão até o sebo comprá-lo.

“Essas ferramentas de leitura são muito legais, eu mesma uso. Elas têm o benefício de não precisar carregar um livro, têm sua praticidade, mas nada se compara ao livro físico. Eu vejo que, quem gosta de leitura, realmente vem até nós procurar o livro que quer. E como temos diversos títulos antigos, há algumas raridades que não se encontram por aí”, conta.

Acervo do sebo Só Acredito Lendo. Foto: João Henrique Krieger/O Município

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