Os 4 Estágios do ‘Namoro Moderno’

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A vida hoje em dia não se parece em nada com o que era cinco, dez ou vinte anos atrás. O mundo mudou de formas que jamais poderíamos imaginar naquela época. Naturalmente, nossas vidas amorosas também não ficaram imunes a essas mudanças.

Ainda assim, apesar dessas mudanças sociais abrangentes, será que o namoro em si evoluiu tanto assim? Essa é a pergunta que o pesquisador Brian Ogolsky e sua equipe buscaram responder em um estudo de janeiro de 2025, publicado na revista Personal Relationships.

Com o surgimento dos aplicativos de namoro, a influência das redes sociais e as atitudes sociais em constante mudança em relação ao casamento, compromisso e sexo, considerando tudo isso, seria de se esperar que a resposta fosse um sonoro “sim”.

De acordo com o estudo, existem quatro estágios distintos que definem como os relacionamentos românticos modernos tendem a se desenvolver. E, surpreendentemente, eles não são tão diferentes do passado quanto se imagina.

1. “Flertação” (Flirtationship)

Ogolsky e sua equipe analisaram a vida amorosa de estudantes universitários com dez anos de diferença: 126 alunos em 2012 e 133 alunos em 2022. A pesquisa fez uma única pergunta aberta:

“Descreva, em ordem, o que você acredita serem as fases de um relacionamento romântico típico.”

Após comparar as respostas, ficou claro que, tanto em 2012 quanto em 2022, surgiu um padrão semelhante entre os participantes. A primeira fase, unanimemente, foi chamada pelos pesquisadores de “flertação” (flirtationship), descrita de formas muito parecidas.

Um estudante descreveu essa fase como o momento em que dois possíveis parceiros procuram “interesses em comum que serão a base do relacionamento.” Outro resumiu como sentir-se “atraído pela aparência do outro” e querer “saber mais.”

Talvez a descrição mais precisa tenha sido a do estudante que explicou: “Um de vocês expressou interesse, claramente ou com intenção. Vocês sabem que gostam um do outro, e é aqui que termina se a outra pessoa não retribuir o flerte.”

Apesar das inúmeras formas com que a tecnologia mudou a maneira como nos conhecemos e interagimos, a essência dessa primeira fase continua a mesma. Isso provavelmente se deve ao fato de que avaliar a compatibilidade é fundamental na formação de qualquer tipo de relacionamento.

Antes de nos vincularmos, observamos. Prestamos atenção aos pequenos sinais e enviamos alguns nossos também. Esse processo não é novo, e nenhum algoritmo ou interface de “deslizar para o lado” pode substituí-lo completamente.

Embora os aplicativos e a comunicação digital tenham criado novas maneiras de flertar, eles não eliminaram a incerteza ou vulnerabilidade que acompanham o processo. Na verdade, os participantes de 2012 e 2022 observaram que essa fase frequentemente se desenrola online.

Você pode conversar por dias, trocar memes, criar expectativa, mas ainda precisa considerar se a atração é recíproca e se ela se traduzirá para o mundo real. Mesmo com mais ferramentas à disposição, é da natureza humana testar se vale a pena seguir adiante. A embalagem pode ter mudado, mas a psicologia não.

2. Potencial de Relacionamento

Os pesquisadores chamaram a segunda fase de “potencial de relacionamento.”

Como o nome sugere, os participantes definiram essa etapa como um momento de exploração, especialmente em termos de compatibilidade romântica.

Por exemplo, um participante descreveu essa fase como “passar tempo juntos/sair para encontros.” Outro comentou que se trata de “se encontrar e sair para lugares juntos para aprender mais um sobre o outro.”

De forma geral, a melhor descrição foi: “As coisas ficam um pouco mais sérias, você quer algo mais romântico e começa a sair para encontros. Pode ser um ou dois encontros a cada poucas semanas, com alguns almoços no meio.”

É aqui que se passa de “acho que gosto de você” para “quero entender quem você é.” Ainda há ambiguidade, a possibilidade de as coisas esfriarem, mas agora com esforço envolvido. Você sai em encontros, conversa mais profundamente e começa a imaginar a pessoa no contexto da sua vida.

O que chama atenção é que, mesmo em uma era de encontros casuais e gratificação instantânea, as pessoas ainda valorizam esse período de avaliação lenta. O esforço para conhecer alguém não foi automatizado, nem pode ser substituído por uma bio bem escrita ou fotos selecionadas.

As plataformas digitais podem facilitar o contato, mas não podem (e não devem) substituir a experiência de construir confiança e conforto. Podemos nos conectar mais rápido hoje em dia, mas ainda somos cautelosos quando se trata de investir emocionalmente. A intencionalidade dessa fase reflete a necessidade humana de “entender” o que está por vir.

3. Em um Relacionamento

A terceira fase, tanto uma década atrás quanto hoje, é definida pela exclusividade.

Essa fase de “estar em um relacionamento”, como descreveram os estudantes, envolve um senso de oficialização. Um participante explicou que é a fase em que duas pessoas começam a “rotular o status como ‘em um relacionamento’ com um parceiro.” Outro afirmou que, a partir daqui, “flertar ou ficar com outra pessoa seria traição.”

Além do rótulo em si, os participantes também associaram essa fase a marcos românticos maiores, como trocar “eu te amo”, conhecer amigos e familiares, bem como tornar-se íntimos emocional e fisicamente.

Mesmo que as normas sociais tenham se tornado mais flexíveis, essa etapa permaneceu consistente. Poliamor, relacionamentos abertos e relações livres de rótulos tradicionais são mais visíveis e discutidos do que eram antes. No entanto, a maioria dos participantes ainda apontou a exclusividade como um marco essencial.

Fica claro que, apesar de termos mais opções hoje, a maioria das pessoas ainda valoriza uma declaração clara e evidente de compromisso, provavelmente por causa da estabilidade que essa fase oferece. Isso não significa que a exploração romântica acaba, mas sim que se estabelece uma estrutura e expectativas. Essa clareza é o que nos orienta daqui em diante.

4. Compromisso… ou Fim

Os participantes associaram a quarta e última fase ao momento da decisão. Especificamente, a escolha entre grandes declarações de compromisso, como morar juntos, ficar noivos ou casar ou encerrar o relacionamento.

“Ninguém é perfeito. Todos têm defeitos,” explicou um dos participantes. “O objetivo é encontrar alguém cujos defeitos você consiga amar ou pelo menos tolerar sem frustração excessiva. Depois de um tempo juntos, é impossível manter um ‘ato perfeito’ o tempo todo. Você pode aceitar seu parceiro como ele é ou perceber que precisa terminar.

Você o vê como ele realmente é e ou continua amando… ou começa a odiar.”Como explicam Ogolsky e seus colegas, essa não é uma continuação exata das fases anteriores, mas sim um ponto de escolha.

Neste momento, a máscara caiu. Você sabe como seu parceiro lida com o estresse, se os valores de vocês se alinham e quais sacrifícios cada um está disposto (ou não) a fazer. A decisão agora não é se vocês se amam, mas se conseguem continuar se amando de forma sustentável.

Seja o compromisso casamento, morar juntos ou apenas um acordo privado de seguir juntos a longo prazo, a necessidade de decidir permanece. O progresso social da última década pode ter mudado a aparência desses compromissos, mas não eliminou a necessidade de construir um futuro ou, conscientemente, se afastar de um.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

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