Por quê cultura vive nas conversas, não nas campanhas internas

Talvez você já tenha visto isso antes.

Chegou o momento do ano no qual a pesquisa de engajamento séra realizada na organização. Tudo conforme o planejado: uma plataforma reconhecida, uma série de slides para engajar nas reuniões dos times, com imagens nos canais internos destacando a importância da participação, além de figurinhas para compartilhar no WhatsApp. Até um vídeo do CEO declarando apoio e reforçando a importância foi produzido.

Realizada a pesquisa, com uma adesão e um resultado dentro do esperado, mas algo parecia insuficiente para o que estava por vir.

Semanas após a pesquisa, os resultados inicialmente comemorados começaram a aparecer de outra forma. A moral das equipes estava baixa. O turnover ainda era um desafio. A confiança parecia estar cada vez menor. Havia uma distância entre líder e liderado que ainda não tinha sido superada, porém ninguém tinha percebido.

O fato da pesquisa ter sido feita era o menor dos problemas. Também não era em relação ao desinteresse das lideranças. Ou uma suposta resistência dos colaboradores. Na verdade, o problema já era estrutural e ninguém tinha notado isso até então.

A liderança, como um todo, trata o engajamento e a satisfação do colaborador dentro do ambiente de trabalho como mais uma campanha com início, meio e fim do que algo ligado ao seu papel de gestão.

Ou seja, uma campanha com intenções e objetivos claros a serem alcançados, um lançamento cheio de confete e balão e, claro, feita para ser mensurada à distância sem preocupações reais com o que vem escrito nela – é assim que eles encaram.

Essa análise à distância, resumida por dashboards lindamente construídos e promovidos a cada semestre, escondia algo fundamental até então negligenciado.

O real engajamento não está declarado em dashboards. Não vive em ferramentas de engajamento ou iniciativas culturais que mais se assemelham a um teatro do que a uma preocupação genuína.

Ele vive nos diálogos, nas conversas diárias entre uma ou mais pessoas. Muitas vezes reais, confusas, sentimentais, transparentes e verdadeiras – como qualquer relação humana.

A palavra “engajamento” é usada com tanta frequência que pode começar a soar vazia. Mas ela é importante. E não tem nada a ver com os profissionais gostarem ou não de seus trabalhos, ou se sentirem vagamente satisfeitos quando solicitados a avaliar sua semana em uma pesquisa com notas de zero a cinco.

Quando falamos de conexão sincera para elevação do engajamento do colaborador, a cultura aparece em momentos de silêncio, muitas vezes sequer percebidos pelas pessoas. Stresse, cansaço e pressão. Ela aparece quando percebemos como os líderes respondem a um prazo não cumprido, um feedback recebido após uma sprint desafiadora assim como as pessoas se tratam quando estão com dificuldades – não apenas quando está tudo bem.

Engajamento é sobre conexão. É sobre a profundidade da relação de uma pessoa com seu trabalho, sua equipe e a missão que deveria unir tudo isso.

O profissional engajado vai além do cumprimento de tarefas e horas de trabalho. Ele representa uma contribuição de significado e pertencimento pelos resultados gerados. Eles combatem pressupostos. Pensam de forma crítica, oferecendo ideias e demonstrando presença e energia constantemente.

Por fim, se mantêm engajados até quando as coisas começam a ficar difíceis.

Apesar de todos os benefícios gerados pelo alto engajamento das equipes, como maior produtividade, mais lucratividade, maior resiliência ao encarar desafios, assim como menos absenteísmo, turnover e incidentes no trabalho, ainda assim há quem não acredite nele.

E vejam: isso não é uma narrativa cor-de-rosa típica de RH. É vantagem competitiva.

Entretanto, mesmo com todo esse conhecimento, muitas organizações ainda reduzem a estratégia de engajamento para um mero teatro interno.

Eles lançam grandes iniciativas. Rodam sessões de feedbacks. Anunciam novos valores na parede e contratam plataformas de gameficação para coletar o sentimento das pessoas. Para que, no fim, esperam para ler o que os dados têm a dizer e como resolver. Só isso.

Tão importante quanto esses recursos de coleta e gestão do engajamento, é entender que ele, o engajamento das pessoas, não se resume a uma ferramenta, uma campanha ou um projeto. Não é algo que você instala, plug and play.

O engajamento é um exercício constante, uma prática diária e enraizada naquilo que a empresa diz acreditar.

E quando as conversas acontecem, elas fazem muito mais que somente estimular a moral das pessoas. Elas abrem espaço para mais inovações entre outros diferenciais.

Ainda mais quando consistentes, o diálogo autêntico entre líderes e liderados fortalece a segurança psicológica necessária para que todos tenham espaço de fala, assumam riscos e desafiem o status quo.

Ou seja, entenda que uma cultura não é descrita apenas nos textos e comunicações vistas pela empresa. Tampouco se resume a última estampa de camisa fornecida pelo RH.

Ela está diretamente ligada ao sentimento, muitas vezes silencioso, das pessoas quando valorizadas no ambiente de trabalho.

Só assim, quando feito de forma genuína e sincera, é que o engajamento ganha força e espaço na organização. Até lá, não há campanha que seja capaz de cobrir o sol com a peneira.

O post Por quê cultura vive nas conversas, não nas campanhas internas apareceu primeiro em Economia SC.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.