A Intuição Como Ferramenta de Gestão

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A atividade agrícola, especialmente em culturas como o algodão e a soja, é um exercício diário de decisões cruciais, onde o menor erro pode custar caro. Tudo começa na escolha da semente e da tecnologia que será adotada, entre tantas possibilidades do mercado, considerando as condições de clima e solo da fazenda. Depois vem a compra dos insumos, equilibrando eficiência, quantidade e preço em busca do melhor resultado e do custo-benefício. São muitas escolhas, grandes e pequenas, tantas que muitas vezes sem sequer percebemos.

Tudo isso acontece porque as margens de erro no agro precisam ser mínimas. Diferente de culturas de ciclo muito curto, como as hortaliças, aqui não há espaço para fazer de novo o que já começou errado. Perdeu a janela de plantio ou não aplicou o defensivo no dia certo? “Volte duas casas e aguarde a próxima jogada.”

Gerir uma fazenda de commodities agrícolas exige planejamento, indicadores, controles e, ainda assim, se está à mercê de variáveis incontroláveis, como o clima e os movimentos do mercado. Venho de uma família do campo e cresci acompanhando a evolução do setor. Testemunhei de perto a transformação da agricultura e, hoje, coleciono experiências que, de forma consciente ou não, alimentam a minha gestão diária.

É justamente nesse equilíbrio entre o conhecimento empírico acumulado e a tecnologia em constante evolução que enxergo um dos aspectos mais fascinantes do nosso trabalho: a intuição como ferramenta de gestão. Nem todas as respostas vêm da planilha. Muitas vezes, elas nascem de um sentimento difícil de explicar, mas impossível de ignorar. É aquela inquietação que alerta quando algo está desalinhado. Aquele instinto que diz para esperar, mesmo quando todos os dados sugerem seguir em frente.

Nós, mulheres, talvez por uma sensibilidade apurada — que a psicanálise poderia explicar melhor —, muitas vezes somos como antenas para essas percepções ou, no mínimo, estamos mais atentas a elas. A intuição não é mágica. Ela se forma a partir do acúmulo de vivências diárias diárias e experiências de um vida, que se sedimentam e passam a nos guiar de maneira quase invisível. Na maioria das vezes, “nem sabemos que sabemos”. A criatividade para encontrar soluções além das planilhas também faz parte desse processo.

A gestão que eu pratico valoriza profundamente essa intuição. Busco a junção entre técnica e sensibilidade, aliando a isso uma escuta ativa do time, uma atenção ao pulso da operação e uma análise criteriosa do momento. Muitas vezes, as decisões surgem antes mesmo de se tornarem ideias conscientes. Longe de ser amadorismo, para mim, isso é amadurecimento. Sigo assim: com os olhos na planilha e o ouvido no coração.

*Alessandra Zanotto Costa é produtora rural, sócia-diretora no Grupo Zanotto e vice-presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), da qual será presidente em 2025. Ocupa o posto de primeira conselheira fiscal na Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e é uma das líderes do agronegócio que formam o grupo ForbesMulher Agro.

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