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“Quando consigo buscar meu filho, Rafael, na escola, chego 15 minutos antes só para bater papo com Seu Francisco, o pipoqueiro. É dessas conversas que surgem alguns dos insights mais valiosos que aplico como CEO. Aprendo muito com ele.”
Foi assim que ela abriu a reunião com seus líderes e parceiros. Todos C-Level. Todos experientes. Todos confiantes. Em um mundo onde a lógica lidera, mas é a conexão que realmente converte, falar como um CEO não é sobre dominar técnicas — é sobre dominar a si mesmo.
Juliana Azevedo, então presidente da Procter & Gamble Brasil, sabia que estava prestes a conduzir uma reunião difícil. E decidiu começar da forma mais humana e autêntica possível. Como disse o teólogo italiano Tomás de Aquino: “A humildade é o primeiro degrau para a sabedoria.”
Durante décadas, fomos ensinados a atribuir o sucesso a discursos impecáveis e números impressionantes. Mas a ciência — e, acima de tudo, a experiência — contam outra história. É a inteligência emocional que constrói líderes duradouros, equipes fortes e empresas que não apenas crescem, mas atravessam o tempo.
O que é inteligência emocional — e o que isso tem a ver com falar como um CEO?
De forma descomplicada, inteligência emocional é a habilidade de compreender e gerenciar suas próprias emoções. De perceber o que o outro sente, mesmo quando ele não diz nada. De captar o clima do ambiente e agir de acordo. Parece simples, mas é uma das tarefas mais árduas do mundo corporativo.
Não se trata de ser “emocional”, mas de ser emocionalmente inteligente. Enquanto o QI (Quociente de Inteligência) resolve equações, o QE (Quociente Emocional) resolve relações humanas — com suas nuances, silêncios e complexidades.
O raciocínio desenha o plano. Mas é a confiança — construída pela inteligência emocional — que faz esse plano sair do papel.
Dentro de nós, duas mentes dialogam o tempo todo: a racional, que pensa, analisa e planeja. E a emocional, que sente antes de pensar, reage em milissegundos. Entre elas, existe o nosso maior poder: escolher a resposta e agir com intenção.
Sabe quando você escreve no calor da raiva, da frustração ou da decepção — e se arrepende no segundo seguinte? Ou quando alguém está falando algo cuja resposta você (acha que) já sabe e a interrompe. Então, é sobre isso que estamos falando.
“Existe mais de uma forma de ser inteligente”, afirmou Daniel Goleman, autor do best-seller “Inteligência Emocional”, ao desafiar a hegemonia do QI.
Antes de virar presidente da P&G, a Ju (é, somos paulistanas) passou anos sendo responsável pelo marketing de marcas icônicas e aprendeu a importância de conhecer a sua audiência para comunicar com eficiência e clareza.
A palavra “audiência” tem origem etimológica no latim “audientia”, que significa “atenção ao que se ouve”. Entender a sua audiência (vale para meios de comunicação, marcas e, principalmente, pessoas) é crucial, porque nos permite adaptar a mensagem, expressão corporal e tom de voz de acordo com o seu objetivo.
E por que isso importa tanto?
Porque quando a Ju Azevedo, em uma videoconferência com mais de quarenta pessoas, durante a pandemia de covid-19, pergunta à trainee “você está bem, Laís?”, ela comunica algo muito maior: que, em uma empresa com mais de dez mil colaboradores, cada pessoa importa.
Com apenas quatro palavras e um QE elevadíssimo, ela não tocou apenas a Laís — mas todos os que estavam ali. Quando a presidente de uma das maiores empresas do país se importa com o bem-estar de uma trainee, isso reverbera. Isso transforma a cultura. Isso é o que eu chamo de falar como um CEO.
Segundo estudos da Universidade de Harvard, apenas 10% do sucesso está ligado ao QI. Os outros 90%? Inteligência emocional.
Entre o que dizemos e o que o outro entende, muitas vezes, há um abismo. Achamos que fomos claros. Temos certeza de que fomos compreendidos. Mas comunicar-se não é apenas falar — é garantir que o outro sentiu e entendeu. É, acima de tudo, saber escutar.
Desde cedo, Ju Azevedo entendeu que, para uma trainee chegar à presidência da Procter & Gamble, precisaria muito mais do que seus diplomas de engenharia (Escola Politécnica -USP) e direito (PUC). Ela teria que aprender a se comunicar com empatia e intenção.
A vontade de se preparar precisa ser maior que a de vencer
A inteligência emocional é mais do que um conceito — é uma prática diária. Todo mundo sabe que não se ganha músculos sem treino.
Verdade seja dita, o título deste artigo contém uma licença poética. Minhas filhas chamariam isso de “clickbait”. Os CEOs não são iguais. Nem todo CEO sabe se comunicar bem. Alguns nem valorizam o impacto de uma liderança humanizada na vida dos seus colaboradores.
E isso diz muito sobre o que Ju Azevedo faz de melhor. Além de entregar resultados e crescer seu negócio (geralmente em dois dígitos), ela transforma ambientes, inspira pessoas e constrói relações reais. Essas pessoas trabalham mais felizes e com propósito, e o crescimento acontece de forma sustentável.
Nunca vou esquecer como me senti quando me apresentei como a nova CEO da agência de comunicação que passaria a trabalhar com as suas principais marcas. Minha antecessora tinha uma reputação impecável e era amada e admirada por todos os colaboradores e clientes. Imagine a minha insegurança.
A Ju me escutou atentamente, olhou bem nos meus olhos, abriu um sorriso acolhedor, pegou a minha mão e disse: “Lu, estamos juntas nessa missão. Você vai brilhar muito.”
A verdadeira virada acontece quando deixamos de tratar inteligência emocional como teoria e passamos a vivê-la na prática — em cada reunião, cada e-mail, cada conversa informal. E, principalmente, nos momentos de tensão, onde a nossa humanidade é mais testada.
P.S.: Após quatro anos como presidente da P&G Brasil, Ju foi promovida a presidente da companhia na América Latina. Dois anos depois, assumiu a presidência global de “Home Care” da P&G, na Suíça. Precisa de mais alguma prova de que somar habilidades técnicas com (muita) curiosidade e inteligência emocional te leva longe? Literalmente, 9.037 km de distância.
*Luciana Rodrigues é conselheira do board da Junior Achievement, membro do conselho da Iniciativa Empresarial pela Igualdade e do comitê estratégico de presidentes da Amcham. Também é aluna de pós-graduação em neurociências e comportamento.
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