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Se você tem mais de 30 anos, dificilmente não conhece alguém que foi desligado da empresa em que trabalhava — ou talvez você mesmo já tenha passado por isso. Nós, médicos que atuamos na área da saúde mental, consideramos a perda do emprego uma das experiências mais estressantes da vida. Independentemente de haver ou não um histórico de transtornos mentais, esse evento tende a impactar a pessoa de diversas formas.
O emprego vai muito além de ser apenas a principal fonte de renda da maioria das pessoas. Ele está profundamente ligado à nossa trajetória de vida e ao investimento — intelectual, emocional e financeiro — que fizemos para chegar até ali. Para muitos, o trabalho também está diretamente associado à forma como se veem e, tão importante quanto isso, à maneira como são vistos pelos outros. Em muitos casos, a posição profissional se confunde com a própria identidade da pessoa.
O ambiente de trabalho também representa, para uma parcela significativa da população, um importante círculo social. Passamos boa parte dos nossos dias trabalhando, e é natural que se criem ali vínculos relevantes e duradouros.
Por isso, não é surpreendente que muitas pessoas se sintam completamente perdidas, vazias e desorientadas ao serem desligadas. A esse cenário soma-se, é claro, o estresse financeiro. Estudos mostram que, mais do que a situação financeira concreta após a demissão, o que realmente impacta a saúde mental é a forma como a pessoa enxerga sua própria condição.
Explico: mesmo alguém que tenha feito uma reserva financeira para lidar com eventualidades pode sofrer intensamente se encarar sua situação como catastrófica. Por outro lado, quem vê a perda do emprego como um revés — difícil, mas superável — tende a sofrer menos.
Insônia, estresse, ansiedade, angústia, baixa autoestima e até quadros depressivos (em pessoas com predisposição) são sintomas comuns nesse processo. E muitos acabam recorrendo a substâncias como medicamentos para dormir, álcool ou drogas em busca de alívio. Como costumo dizer: o uso abusivo dessas substâncias, como se fossem soluções simples, abre um caminho perigoso para a saúde mental.
Como minimizar esse impacto? O primeiro passo é tentar adotar estratégias positivas. Encarar o desligamento como uma possível oportunidade — ainda que não planejada — pode abrir portas que você talvez nunca tenha considerado.
Não sinta vergonha. Se você construiu ao longo da vida uma rede de apoio, não hesite em recorrer a ela. Também é importante ativar o seu networking. E, se ainda não teve a chance de construir uma rede sólida, esse pode ser o momento de começar.
Por fim, respeite o seu tempo. Não se cobre por uma reação imediata. A perda do emprego é, sim, uma forma de luto. Dê-se o tempo necessário para se adaptar à nova realidade e elaborar essa perda de forma saudável.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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