Por que o voto do catarinense vale menos? Por Geovania de Sá

Pouca gente sabe, mas em Santa Catarina, para eleger um deputado federal, são necessários mais de 200 mil votos. Já em Estados menores, como Roraima, esse número pode ser inferior a 40 mil. Na prática, isso significa que o voto de um catarinense tem um peso quase cinco vezes menor do que o de um eleitor desses Estados.

Geovânia de Sá (PSDB) é deputada federal por Santa Catarina.

Isso acontece por conta da forma como as cadeiras da Câmara dos Deputados são distribuídas: cada Estado tem direito a no mínimo 8 e no máximo 70 deputados, independentemente do número de habitantes. Esse modelo, criado décadas atrás, não acompanha o crescimento populacional de Estados como SC e acaba privilegiando regiões com menos eleitores.

Santa Catarina, por exemplo, tem apenas 16 representantes em Brasília até então, quando, pelo tamanho da sua população, já deveria ter pelo menos 20 há algum tempo. É uma distorção histórica que precisava mesmo ser corrigida.

No entanto, a solução aprovada ontem pela Câmara dos Deputados — com meu voto contrário — não corrigiu essa distorção. Pelo contrário: ampliou o problema. Em vez de redistribuir de forma mais justa as 513 cadeiras já existentes, a proposta criou 18 novas vagas, elevando o total para 531 deputados federais.

Isso significa mais salários, mais assessores, mais estrutura — mais gasto público. E isso em um momento em que milhões de brasileiros estão contando moedas para pagar o básico, enfrentando dificuldades com alimentação, transporte, saúde e moradia.

Santa Catarina realmente merece mais representatividade. Mas isso não pode significar inflar ainda mais o Congresso Nacional, que já é um dos mais caros do mundo. A correção necessária seria reorganizar o número de cadeiras com base na população de cada estado, sem criar novas despesas para um país que já vive uma crise econômica severa.

Aumentar o número de deputados não foi uma resposta justa ao problema. Foi uma saída cômoda que jogou a conta no colo do cidadão comum, que já paga demais e recebe de menos. O caminho certo seria a responsabilidade com os recursos públicos e a coragem de enfrentar as distorções sem aumentar gastos públicos.

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