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O agro está em tudo. Minha afirmação pode soar óbvia e até clichê, mas, como se diz, o óbvio também precisa ser dito, especialmente para as gerações que cresceram sob as facilidades do mundo moderno e o imediatismo da tecnologia. O agro está presente em tudo que usamos e consumimos, mesmo quando não o enxergamos diretamente. O campo é responsável por produzir a matéria-prima para quase tudo: de itens cotidianos, como uma escova de dentes, até produtos essenciais para a saúde. Sem falar, é claro, de sua nobre missão: alimentar uma população mundial em constante crescimento.
Pode parecer redundante dizer que a soberania alimentar do mundo depende do agronegócio, mas é uma realidade inegável e, para garanti-la, precisamos aumentar a produtividade. É uma equação simples, de fácil entendimento. Quando defendo a segurança alimentar, defendo, inevitavelmente, a sustentabilidade do agro, pois as duas coisas estão diretamente interligadas.
Explico: nenhuma atividade se sustenta a longo prazo sem estar fundamentada em três pilares: ambiental, social e econômico. E o agronegócio brasileiro respeita essa lógica. Não sou apenas eu quem afirma isso: dados amplamente divulgados por instituições como a Embrapa e até mesmo a NASA comprovam essa realidade.
Do ponto de vista ambiental, somos líderes em preservação. O raciocínio é claro: os maiores ativos do produtor rural são os recursos naturais (terra e água), e sua continuidade no negócio depende da preservação desses recursos. Além dessa consciência ambiental, os produtores brasileiros seguem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, que exige a manutenção de áreas nativas intactas dentro das propriedades, variando de 20% a 80%, conforme o bioma.
No aspecto social, o agro é igualmente sustentável e fundamental para transformar realidades nas comunidades onde está inserido. Pesquisas apontam para o aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nessas regiões, impulsionado pela geração de emprego, renda e pela capacitação de profissionais para ocupar os postos criados pelo setor.
Quando falamos em desenvolvimento econômico, não há o que contestar: o agro é um dos pilares da economia nacional, respondendo por cerca de 24% do PIB brasileiro e por mais de 40% das exportações. Na Bahia, o setor também tem papel estratégico, impulsionando o desenvolvimento regional e gerando milhões de empregos diretos e indiretos.
O estado se destaca nacionalmente em culturas como soja, algodão, café e frutas – especialmente manga, uva e cacau. Abrigando biomas diversos como a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica, a Bahia amplia a responsabilidade dos produtores quanto à gestão sustentável desses ecossistemas. Felizmente, cada vez mais, esses produtores adotam práticas conservacionistas e seguem os princípios da agricultura regenerativa, muitas vezes superando os índices exigidos pelo Código Florestal.
Iniciativas como o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC+) e projetos de recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) têm ganhado força no Oeste baiano. A fruticultura no Vale do São Francisco, por sua vez, vem se modernizando para atender exigências ambientais rigorosas e conquistar certificações que abrem portas para mercados internacionais.
Ou seja, produzimos alimentos, fibras e energia de forma eficiente, preservando os recursos naturais e promovendo o bem-estar das comunidades locais. O agro baiano — e brasileiro — tem potencial para liderar uma revolução verde mundial. O desafio é grande, mas a capacidade de inovação e adaptação do produtor rural brasileiro é ainda maior. O equilíbrio entre produção e conservação tem sido a chave para garantir um agro competitivo, ético e sustentável para as próximas gerações.
*Carminha Missio é produtora rural, presidente do Instituto Agropecuário da Bahia (Iagro) e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb).
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