REURB e o Direito Constitucional à Moradia: a Regularização como Ato de Cidadania. Por Matheus Branco

Em seu artigo, o advogado Matheus Branco destaca que o direito à moradia digna é garantido pela Constituição, mas ainda está longe de ser realidade para milhões de brasileiros.

Matheus Branco escreve artigo sobre a importância da regularização fundiária como instrumento de justiça social

Ter um lugar para viver com dignidade vai além de um sonho ou de uma conquista pessoal. Trata-se de um direito social fundamental, garantido pela Constituição Federal de 1988. O artigo 6º da nossa Carta Magna reconhece isso, mas, para milhões de brasileiros, essa garantia ainda não saiu do papel. A regularização fundiária — ou seja, a formalização legal da posse de um imóvel — é um dos caminhos para tornar esse direito realidade.

A REURB (Regularização Fundiária Urbana), prevista na Lei Federal nº 13.465/2017, é uma ferramenta que permite a legalização de núcleos urbanos informais, conferindo aos moradores a titularidade de seus imóveis. Isso significa, em termos práticos, acesso à escritura, e posteriormente, a uma matrícula individualizada do imóvel, já que no Brasil, o único documento que confere a propriedade é o registro na matrícula com o nome de seus titulares, no Registro de Imóveis.

É importante reforçar: a posse é um direito resguardado pelo ordenamento jurídico, mas a sua prova, e consequentemente, a sua defesa diante das mais múltiplas situações, é sempre complicada, e gera um cenário de incerteza para os posseiros. A propriedade, de outro lado, dada pelo nome das pessoas na matrícula do bem, garante uma proteção mais ampla, gera valorização do imóvel, e facilita posteriores transações, mesmo em casos de partilha em eventual herança.

Municípios como Itajaí têm avançado nesse processo, adotando políticas públicas que reconhecem juridicamente a existência de comunidades inteiras, antes invisíveis aos olhos do Estado. A regularização não apenas entrega documentos — entrega dignidade, pertencimento e cidadania.

Nesse processo, o apoio jurídico é indispensável. Mesmo com as inovações da legislação, o caminho da regularização exige conhecimento técnico, análise documental e acompanhamento qualificado. O advogado garante que todas as etapas sejam cumpridas com segurança, evitando erros e assegurando o exercício pleno do direito à moradia.

Do ponto de vista da gestão pública, a REURB também representa um avanço. Imóveis regularizados permitem ao município planejar melhor sua infraestrutura, arrecadar tributos com justiça e investir em melhorias urbanas. O que antes era informal passa a integrar o planejamento da cidade — gerando benefícios para todos.

A regularização fundiária, portanto, vai muito além de um trâmite administrativo. É um instrumento de justiça social, inclusão e desenvolvimento urbano. É o Estado reconhecendo seus cidadãos, e os cidadãos assumindo seu lugar legal e legítimo na cidade.


Matheus Branco é advogado.

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