Educação Superior em Tempos Acelerados: Regulação como Impulso, Não como Freio

A universidade precisa olhar para frente, formar com empatia e preparar sujeitos para a complexidade do mundo — e isso exige uma regulação que acompanhe, não que atrase.

Vivemos a era da transformação acelerada. Mudanças tecnológicas, sociais, culturais e ambientais ocorrem em ritmo tão intenso que mal conseguimos compreender uma novidade e já estamos lidando com a próxima. Nesse cenário, não há como negar: a digitalização não é mais tendência — é realidade. A vida está conectada, e a educação, também.

Hoje, um estudante pode assistir aula presencial pela manhã, ver uma palestra de Harvard à tarde, resumir tudo com apoio de uma inteligência artificial no fim do dia e discutir seus aprendizados em uma live no TikTok. O conhecimento transborda os muros da universidade. Ele está em podcasts, fóruns, vídeos, plataformas. Ele é contínuo, híbrido, personalizado. E essa nova lógica exige, com urgência, currículos mais abertos, flexíveis e conectados ao tempo presente.

Diante disso, não podemos mais tratar a regulação da educação superior como um elemento de contenção. Ao contrário: ela precisa ser um motor que impulsione a qualidade, a inovação e o sentido da formação. É preciso coragem para afirmar: a regulação, tal como está, não responde mais às demandas do nosso tempo.

O marco normativo que rege os processos regulatórios da educação superior no Brasil é de 2017 — anterior à pandemia, anterior à revolução digital que se intensificou nos últimos anos. Desde então, as instituições tiveram que se reinventar em tempo recorde. Investiram, transformaram, acolheram. E mesmo assim, seguem sendo avaliadas por regras criadas para uma realidade que já não existe.

A boa regulação não deve ser um freio. Deve ser adaptativa, inteligente, capaz de incentivar ambientes formativos mais inclusivos, dinâmicos e coerentes com os desafios contemporâneos. Deve valorizar a autonomia das instituições e estimular práticas inovadoras. Deve reconhecer que qualidade se constrói também com empatia, com atenção à saúde mental dos estudantes e com a promoção de experiências de aprendizagem significativas.

Formar para este tempo — um tempo complexo, incerto e veloz — exige mais do que transmitir conteúdos. Exige desenvolver competências. Saber conhecer, saber fazer, saber ser e conviver. Isso significa integrar saberes acadêmicos a habilidades práticas e a valores humanos. Significa preparar profissionais capazes de dialogar com diferentes realidades, resolver problemas reais, atuar com ética, sensibilidade e espírito colaborativo.

Não se trata de negar a importância da regulação. Ela é fundamental. Mas precisa evoluir com o tempo, para não transformar a educação superior em um arquivo do passado. A universidade precisa ser uma janela para o futuro — um espaço de inovação, acolhimento e transformação social.

Do lugar que ocupo no Conselho Nacional de Educação, junto com outros colegas, seguimos fazendo a nossa parte para que a regulação brasileira se torne mais justa, atual e alinhada com o que realmente importa: oferecer uma formação de excelência, com sentido e com alma.

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